quarta-feira, 6 de junho de 2012

Eu gosto de vozes...

Eu costumo gostar de ouvir o Dr. Quintino Aires a abordar certos temas. Muitas vezes não é pelo que diz, mas sim pelo facto de falar abertamente, de forma clara e sem tabus. Hoje, na hora de almoço, apanhei-o no fim da sua intervenção televisiva. Falava-se sobre trabalhos de casa para os alunos. Ele é defensor da abolição dos ditos. Pois os meninos não têm tempo para brincar. Eu nem vou comentar isto, porque falta de tempo é que eles não têm. Salto logo para afirmações categóricas que ele fez e que são completa mentira.

O Manuel Luís Goucha leu um comentário de uma professora que diz que dá trabalhos de casa pois só está uma vez por semana com os seus alunos e considera que eles esquecem tudo o que lhes é ensinado se não tiverem qualquer coisa que lhes avive a memória durante a semana. Ele disse que só esquece quem não sabe e que, se um aluno não sabe, quer dizer que foi mal ensinado na sala de aula. O senhor foi altamente arrogante. Gostaria de saber quanta informação esqueceu ele ao longo da sua vida escolar e académica, mesmo com trabalhos de casa...

Depois disse que no resto da Europa não há trabalhos de casa. Decididamente ele nunca foi a Badajoz comprar caramelos. Pois só uma pessoa que nunca saiu de Portugal é que pode fazer uma afirmação tão pateta. Por aqui, ainda que menos, os miúdos têm trabalhos de casa. E conheço gente de todo os quadrantes, que frequenta escolas públicas e escolas privadas, uns mais novos e outros mais velhos. Todos, mas todos mesmo, tiveram/têm em algum momento do ano lectivo trabalhos de casa.

Com isto tudo, fui ler o Facebook do Goucha para perceber qual a opinião dos portugueses (pelo menos de alguns). Pronto... dá para os dois lados. Pró e contra. Cá, lá e pelo caminho...

Num comentário li que uma má aluna se tornou aluna de altas notas ao ir para um país sem trabalhos de casa (no dizer dela, pois outras pessoas apareceram a dizer que nesse país até há muitos TPCs). E eu lembrei-me de uma afirmação semelhante de uma mulher da minha terra. Só que, tal como o senhor Quintino Aires precisa de saber mais do que se passa fora do país, outras pessoas têm que saber contar melhor o que se passa nos países de acolhimento.

Ora bem... Um miúdo que era considerado burro que nem uma porta no sistema português veio para a Suíça e começou a ter boas notas. À mãe ninguém lhe tirava a arrogância, o meu filho em Portugal só tinha negativas, aqui só tem seis (é a nota máxima na escala de valores escolares suíça). Mas afinal... o miúdo era dos melhores nas escolas dos „burros“. Aqui dividem-se os alunos por diferentes tipos de ensino e quem não tem capacidades vai para a escola de nível mais baixo. No fim do equivalente ao secundário, todos têm praticamente o mesmo número de anos, todos têm a esocla básica feita, todos (excepto os que saem de um tipo de escola que é para quem vai para a faculdade) têm uma profissão e todos podem ter nota máxima. No entanto, as diferenças podem ser abismais...

À partida, para a escola de nível intelectual mais elevado só vai quem é inteligente e/ou marrou muito para ter boas notas. Quem é mais lento ou baldas (isto tem muuuuuuito peso por aqui, só se pode faltar duas vezes no ano sem justificação muito elaborada e quem faltar mais tem relatório e uma coima para pagar) não sobe muito na vida escolar. Assim, essa diferença de intelecto e comportamento vai-se repercutir nos currículos.
Os inteligentes têm currículos mais ricos e elaborados, mais difíceis, por assim dizer, e os "burros" têm currículos básicos, mais fáceis... Deste modo é claro que os seis podem existir nas cadernetas de alunos que tinham más notas em Portugal. Mas primeiro é preciso saber em que escola andam (nota informativa, a minha mãe trabalha para muitas rofessoras e todas dizem que sempre tiveram mais problemas com os alunos portugueses! Claro que também conheço excepções: um que conseguiu ser médico por cá e outro que está a caminho. E para a faculdade só vai a crème de la crème!!!)

Eu sou completamente a favor do Tempo perdido em Casa (era como nós chamávamos aos trabalhos). Não de forma exagerada, como o caso da minha professora de alemão em Portugal que fez com que eu anulasse a disciplina do secundário e me fez perder um conhecimento que afinal se veio a mostrar tão necessário (ela era capaz de mandar 6 páginas de trabalhos numa Terça às 4h da tarde para uma Quarta às 9h da manhã. Nem dava tempo para fazer os trabalhos na hora de almoço. Isto sem falar em actividades que ela nos impingia, como fazer coroas de Natal e chocolate quente com chantily para a escola toda ah! claro... nós é que pagávamos os materiais para a publicidade à Alemanha na escola!!)!!!!
Parece-me que o senhor Quintinho Aires deveria dar mais voltas pelo terreno em vez de dar palpites como um treinador de sofá dá num jogo da selecção nacional.

Das pessoas que comentaram comentaram, umas houve que se destacaram com pequenos nadas que provam que os trabalhos de casa são fundamentais e que o que faltou a alguns foi... isso mesmo... trabalhos para consolidar conhecimentos...

Estou no 11ºano e desde o 1ºano que sou subcarregada com trabalhos de casa, o que sempre me impediu de ter tempo para me distrair. Até trabalhos de férias são atribuídos às crianças, quando estas devem de ter um período de descanso...afinal se trabalharam tanto durante o ano, é a altura de fazerem uma pausa.

eu trabalho num Infantário e que tmb tem ATL e acreditem que ainda na semana passada os meninos tiveram as prova de frição e no dia a seguir a prova tiveram 2 paginas A4 cheias de TPC, os professores que me desculpem mas n é justo Excesso de trabalhos não concordo, mas alguns acho bem pois servem para solidificar aquilo que se aprendeu na sala se aula

O título é parte de um comentário que elogiava os apresentadores do programa. Conseguem perceber a essência da mensagem?? Conseguem mesmo?!? Sinceramente... eu acho que não!!!

2 comentários:

diogoneves disse...

Estava na net à procura de comentarios às barbaridades que o sr. Quintino Aires diz (que ainda ontem ouvi na antena 3 e achei demais de uma irresponsabilidade atroz) e encontrei o seu texto.

Não mudava uma virgula.

Parabens:)

Diogo

Luísa disse...

Obrigada por ter lido e pelo elogio.

Eu acho que o senhor Quintino anda alucinar cada vez mais.
Vejo-o às vezes na TVI e quando vou a Portugal também o apanho na Antena 3 (não sei bem porquê, mas não costumo ouvir rádio portuguesa por aqui) e de intervenção para intervenção acho-o a decair...

Agora estou curiosa por saber o que ele terá dito. Tenho que arranjar um tempinho para ouvir os podcast da Antena3...

Saudações!

Luísa