segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Bens de primeira necessidade

Sinto falta de estar com pessoas inteligentes e cultas. Daquelas com quem falamos e não é preciso explicar coisas básicas de cultura geral e que não ficam espantadas com reflexões básicas sobre coisas básicas, como se fosse a invenção da roda. Preciso de estar com pessoas que não precisem que eu explique o que é o mundo do Big Brother de Orwell para poder falar do diz que (não) disse que existe em tantos sítios. Preciso de gente que saiba que existem vários caminhos de Santiago, para não ter que fazer uma introdução de meia hora só para dizer que o meu irmão fez o Caminho do Norte há tempos. Sinto necessidade de falar com gente que me coloque desafios sem se aperceber. Sinto necessidade de falar sobre livros, mesmo que nunca os venha a ler. Preciso falar sobre medicina ou advocacia, mesmo que nunca venha a exercer. Preciso da falar de música que não percebo ou não gosto, só porque sim. Necessito de gente pelo menos tão inteligente como eu e que me acrescente algo à minha existência intelectual. Preciso de gente que contradiga e questione as coisas que eu diga. Mas que o faça porque tem mesmo algo para contrapor e não porque lhe apetece contradizer ou porque precisa de obter informação complementar para poder atingir onde eu quero chegar.

Longe vai o tempo em que eu me sentava no centro comercial Acqua Roma para estudar e almoçar sozinha e acabava por aparecer companhia que me interrompia aquele estudo, mas que, depois das trivialidades normais de início de conversa, me ensinava qualquer coisa nova, sobre qualquer tema. Sempre à mistura com piadas parvas, gargalhadas altas e pausas para apreciação de todos os moços garbosos que passassem num raio de 50 metros da minha (nossa) mesa. Longe vai o tempo em que eu, mesmo sem estudar o que precisava, acabava por aprender. Longe vai o tempo em que dez minutos de pausa com o M. serviam para falar de flores e trabalho e livros e crise económica e Bayern e Portugal, enquanto gozávamos com os suíços, porque eles são suíços (só alguns estrangeiros que cá vivem é que percebem a piada e não dá para explicar) ou enquanto o M. se espantava com o verniz das minhas unhas dos pés (eu tirava os sapatos e as meias nos dias de maior calor) ou enquanto eu me espantava com a capacidade dele para cantarolar todas as músicas que passavam na rádio (os rádios não paravam de funcionar o dia todo e eu chamava-o juke box nas pausas :D).


domingo, 23 de setembro de 2012

Descaramentos

Na semana que passou, dois homens apareceram para tomar café todos os dias. Andam a fazer um trabalho num prédio lá perto e agora já sabe bem tomar um café sentado dentro da loja. Um deles perguntou se não eu não tinha um jornal e eu disse-lhe que não, ficando a pensar na hipótese de trazer um todos os dias para a loja. Mas de repente o palhaço estraga tudo e uma revista de sexo? Eu não disse rigorosamente nada, mas a minha cara, como sempre, não me desiludiu. Ele tentou compor a coisa com um era uma piada meio sussurrado. Aí virei-me para ele e disse-lhe que esse tipo de piadas eu tinha com os meus amigos e ele riu-se porque a palavra amigo também serve para namorado. Eu levantei a voz meio decibel e disse-lhe amigo de amizade, mas nunca uma pessoa que não me conhece. Mas porque é que as pessoas têm que ser tão otárias?!? Detesto piadas fáceis e acho que piadas deste género não se têm com gente que não se conhece...

No entanto... o descaramento deste tipinho foi suplantado pelo de uma cliente frequente da loja. Ela sabe que eu tenho formação superior e anda a fazer campanha para eu deixar  a loja. Não sei se é porque tem mesmo pena de mim ou se é porque conhece alguém interessado no meu lugar. O facto é que, sempre que ela pode, faz campanha para eu ir dar aulas de português, para ir estudar, para ir trabalhar para um escritório. Acrescentando que o meu alemão melhorou muito desde que comecei a trabalhar ali. Só que isso é uma mentira daquelas... No início eu não falava muito com as pessoas porque tinha que me concentrar no trabalho, em todos os seus pormenores. Eu quase que não era capaz de fazer a caixa e falar, com medo de me enganar. Agora que conheço muito bem o meu trabalho, não me custa ter dois dedos de conversa enquanto faço transacções complicadas. :D
A senhora acha que não. Que eu melhorei do dia para a noite na loja. Mas pronto... não me ia chatear por causa disso. Embora tanta conversa à volta do assunto já me irrite um bocadinho.

Além de ter um contrato e uma palavra para com os meus patrões, há mais coisas que, por serem da minha intimidade, quase ninguém conhece, mas que têm uma forte influência sobre as minhas tomadas de decisão. Agora... quem consegue meter isso na cabeça da abelhuda?!?...

Para aquela mulher eu sou altamente incompetente e incapaz de mudar o meu rumo de vida. Como é que eu sei isso?!? Então digam-me lá se não sentiriam a mesma coisa se vos acontecesse isto:

na Quinta-feira de manhã, a senhora aparece para fazer compras e, enquanto se prepara para fazer o pagamento, começa: ah andei à procura de trabalho em português. Eu achei aquilo muito estranho. Para que quer ela trabalho em português? e muito rapidamente ainda disse a mim mesma ela é doida, vai procurar trabalho em Portugal, quando há uma crise daquelas por lá. Os meus pensamentos eram completamente irracionais. Não compreendia o que a mulher me estava a dizer. A conversa parecia desconexa. Até que: ah não há trabalho para professores de português. Aí... caiu a ficha. A anormal da mulher além de controlar a vida dos filhos (é HORRÍVEL o que ela faz aos miúdos, um de 13 anos e o outro mais novo), resolveu controlar a minha. Ah eu encontrei um trabalho de governanta em (esqueci-me do nome da terra, mas é nas montanhas, longe daqui) para coordenar equipas de limpeza (hotéis que recebem muitos portugueses para trabalho sasonal e que não exigem conhecimento de língua desde que exista alguém para explicar tudo). ah também vi um trabalho num escritório de uma empresa de transportes. Poderia ser interessante. Eu interrompi-a logo e disse que não estava interessada em escritório. Eu não gosto de trabalho de escritório. É A-B-O-R-R-E-C-I-D-O!! Ah mas aqui é muito chato... O que é que o raio da louca tem a ver com isso?!?! Embora não seja o trabalho mais animado que já tive, nem o mais mexido, sempre tem mais animação que um escritório. Muuuuuito mais! depois... what the f***?!?! O que é que ela tem a  ver com isso?!?! Se eu tivesse dito que andava à procura de trabalho, se me tivesse lamentado... E se ela tivesse encontrado uma proposta de trabalho por acaso. Mas assim... a mulher deu-se ao trabalho de ir para a net procurar trabalho para mim, como se eu fosse uma pessoa incapaz de o fazer. Como se eu não tivesse experimentado antes. Como se eu tivesse mentido quando lhe disse uns tempos antes (por causa da insistência dela) que não há trabalho para professores de português.

Desta vez eu controlei-me. Contei aos meus patrões para eles perceberem o que se passa. Porque se ela vem com outra gracinha do género, eu não sei se me aguento e não a mando a um sítio que eu cá sei...

domingo, 16 de setembro de 2012

Eu é que sou uma cidadã do Mundo...

Houve uma vez um funcionário no aeroporto que me perguntou de onde eu era. Quando lhe disse que era portuguesa, disse-me ah bem me parecia, tens uma cara muito dos países do Sul. Acho que já expliquei, mas cá fica outra vez: países do sul são Grécia, Itália, Espanha e Portugal. Ou seja, ele estava dizer que eu era muito mediterrânica. Coisa com a qual concordo, sendo a excepção a minha altura que não é muito normal para o verdadeiro protótipo da mulher portuguesa.
No entanto, já me perguntaram se sou de um dos seguintes países e ou regiões do Mundo:
- Turquia;
- Países eslavos;
- Cazaquistão;
- Brasil (com regularidade, mais pelo meu sotaque em alemão do que pela figura, mas nota-se mesmo que não entendem nada, um português distingue-se de um brasileiro até a falar alemão).

Da Turquia aceito, mas os outros países... Não tenho olhos claros nem a pele branca-amarela (por oposição ao brancco-rosa dos noruegues, por exemplo) como as pessoas dos países eslavos que eu conheço.

Agora a que me matou foi na Sexta-feira:
És do Paquistão? Ou da Índia?

Quê???? A minha cosntituição física (uma mulher alta e corpulenta, com 75kg bem pesados), a cor da minha pele (cada vez mais branca por causa da falta de sol), a cor do meu cabelo (caju natural, nada de preto azeviche), a textura do mesmo (não tem metade do brilho do cabelo das indianas)... Nada a ver com o sub-continente!!

Bolas... devo ser mesmo disforme! :(

Modernidade versus Classicismo

Eu tive Latim só porque era disciplina obrigatória na minha escola. Jamais teria escolhido uma língua morta para estudar aos 14 anos. Ninguém com 14 anos bem rebeldes e mexidos como os meus pensa em coisas mortas. Com 14 anos querem-se coisas giras, vivas, que sirvam para o imediato. Como estudar alemão para ir ver o Brandemburg Tor  e o Checkpoint Charlie. Isso sim! Isso é utilidade aos 14 anos. Por alguma coisa escolhi a língua germânica, embora tenha desistido por causa da louca da professora de alemão (aqui já podia escolher entre alemão e geografia, que fiz com exame de equivalência à frequência). Aos 14 anos, o latim serve para ler as placas existentes no chão e nas paredes das igrejas. Boring!
De-tes-tei latim. Só estudei o "rosa, rosa, rosae" e não andei a pensar sobre textos da antiguidade. Latim foi decorar fórmulas. Tal e  qual como na matemática. E eu até não era assim tão má, pois fiz o exame nacional sem estudar nada com13 valores. Ou seja, não era o professor que era mau, o sistema do latim no secundário é que era igual para toda gente: tradução, retroversão e já está! Ou eu nunca teria tido esta nota!
Nunca li a Ilíada, (nem a Eneida, nem nem nenhum livro da antiguidade clássica que se veja, apesar de ter muitos em casa), eu não tenho pachorra para os epítetos e para as voltas e floreados. Gosto de coisas directas, claras. Falando em clássicos no geral, comprei a tradução da Odisseia feita pelo Professor Frederico Lourenço pois pensava que a letra miudinha da edição Europa-América é que me influenciava. Afinal não... Simplesmente não há pachorra para tanta volta para se chegar a um fim triste como aquele (lamento, chegar a casa e não ser reconhecido a não ser pelo cão... é triste!). Sei que comprei As Cartas a Lucílio, porque estava no curso de Línguas e Literaturas Clássicas (nem comento a estupidez, a inconsequência, a ingenuidade e a ignorância dos 17 anos), mas mudei de curso e o livro está algures, enfiado numa prateleira num canto qualquer a ganhar pó ad eternum.
Investir na Antiguidade foi, no meu caso, perda de tempo, paciência e dinheiro (tenho andado a pensar vender os meus livros!)

Mas porquê isto agora?!?!
Li um texto em que a autora a defende o Latim com unhas e dentes e lamenta que o mesmo esteja a desaparecer das escolas portuguesas. Porque o Latim forma mentes, porque estamos numa crise cultural antes de ser económica, porque a existência potenciada pelas novas tecnologias e pelos equívocos da globalização (ficção virtual sem adequação ao real) levou-nos a agir antes de pensar, porque as estratégias são hoje como os power-points: uma sequência de ecrãs com vacuidades projectadas para impressionar em cinco minutos, sem considerar o que excede o horizonte visível. E por aí fora.

Quê?!?!  Eu aprendi a pensar por mim própria muuuuuuito antes de chegar ao secundário. Claro que pensei (e penso) muita coisa errada, mas quem não pensa, com ou sem clássicos?!? Se se espera que os jovens só comecem a pensar com 15 anos, nas aulas de Latim. Desculpem lá, mas estamos f%$#dos. E os alunos que vão por áreas que não se cruzam com o latim e com o grego a não ser no uso de fórmulas químicas, físicas, matemáticas?!?! Não conseguem ter uma mente capaz e bem formada??

Não há nada crise cultural antes da crise económica. Pois das duas uma ou a senhora pensa que cultura é o mesmo que valor ou está a misturar tudo. A crise que atravessamos é de valores. Não há respeito pelo outro, há impunidade. Eu conheço um monte de gente que não fez mais do que a quarta ou a sexta classe, um monte de gente que nunca chegou ao secundário e ainda mais um monte de gente que estudou Humanidades em escolas sem Latim e que tem a tal da mente bem formada e que também tem valores. Ou seja, não têm a tal da cultura dos clássicos, mas não são corruptos, são pessoas de trabalho, honestas, que pagam impostos, que sabem que o facilitismo não leva a lado nenhum, que saltam da cama bem cedinho  para ir trabalhar, mesmo sabendo que a gasolina vai aumentar, que os impostos as vão matar à fome, porque uma cambada de palhaços está no poder a fazer asneira da grossa.

Eu nunca li Os Lusíadas (tive uma nota fantástica na faculdade, a professora era uma agarrada a dar notas, na pauta a minha nota era equivalente a um 18, muita gente que viu a minha nota na pauta me deu os parabéns pelo meu 13), no entanto, não me deslumbro com a modernidade fast food. Mantenho o meu blog e o dos trabalhos manuais da minha mãe. Vejo notícias e programas de entretenimento online. Gosto de ver novelas da Globo. Se pudesse, passava dias em frente à tv, porque até de anúncios eu gosto e fico muito triste por não ter conseguido ver o Dr. House até ao fim (a propósito, sabem se há alguma edição especial com as séries todas?). Adoro andar na rua sozinha com a música bem alta para não pensar em nada. Mas sei que só o que brilha não é bom, sei que nem tudo o que luz é ouro (e ainda bem porque eu não gosto da cor dourada). Sei que há mais para além da efemeridade, do brilho da tecnologia, da modernidade (e ainda bem ou só se via gente com o nariz enfiado nos ai-podes, sem ligar correctamente ao mote carpe diem). Sei que é preciso parar para pensar, parar para analisar, parar para triar elementos para não se engolir tudo sem pensamente crítico.
Eu também gosto de ler. Seria incapaz de viver sem ler. Considero que se deve ler, porque faz  bem à saúde física e mental, de cada indivíduo e da sociedade em que esse indivíduo se insere. Mas como diria um professor meu, não é preciso começar com livros maçudos. Ele dizia que até no Jornal A Bola há gente que escreve bem. Não sei se é verdade ou não, eu comecei pelos maçudos e não me apeteceu voltar atrás. :D

Não, não considero os clássicos fundamentais para a formação de uma pessoa como pessoa. Não, não considero que a crise que se vive seja por questões culturais. Não, não considero a simples coisa de estudar Latim como uma boa forma de, sequer!, escrever bem. Vários exemplos que corroboram a minha teoria:
um professor da faculdade entrega-me duas provas negativas e um trabalho positivo, com muito boa nota, e pergunta-me muito confuso e intrigado: Como é que você é tão má aluna a Latim (as provas) e escreve tão bem em Português (o trabalho)? Eu encolhi os ombros, não disse nada, porque a única resposta válida que eu tinha era muito má: Eu detesto latim. E, realmente, não sou uma escritora exímia (principalmente quando escrevo directamente para o computador), mas também não sou das piores e sou humilde o suficiente para aceitar críticas construtivas (desde que não sejam sobre o meu "estilo", pois isso é pessoal e intransmissível!).
Seguindo com os argumentos, o que eu vi no departamento de clássicas ao longo da minha presença na faculdade foi assustador: é gente das clássicas que escreve pérolas como "enderesso" e que vai trabalhar para um departamento na faculdade; é gente que até se formou em Latim e Grego, mas que, ia o curso a mais de metade, não sabia que, na generalidade dos dicionários, as palavras se procuram da seguinte forma: na página e/ou coluna esquerda a palavra que vem no canto superior esquerdo é a primeira da coluna, na página e/ou coluna da direita, a palavra do canto superior direito é a última da coluna. Quando a pessoa me perguntou se eu sabia isso, eu pensava que ela estava a gozar e, quando vi que não, perguntei-me como é que ela tinha feito tantos anos de escola e  faculdade...
Depois, falando em crise valores, temos o exemplo máximo do camelo que se passeou comigo no deserto. É de clássicas. Nunca trabalhou a sério. Está a doutorar-se em Londres, mas primeiro deveria a voltar à primária. Primeiro, porque o português dele é bem pior que o meu e eu sou só licenciada. Segundo, porque pode ser que na primária lhe dêem uma reguadas por ser racista e discriminador e lhe incutam valores de respeito pelo outro e pela diferença. Terceiro, pode ser que na primária também o ensinem a entregar os trabalhos a tempo e a não gastar em vão o dinheiro da bolsa paga pelo governo português. Em Julho, ele disse-me, extremamente descontraído, que ainda não tinha uma linha escrita  e que ia pedir um adiantamento da entrega do primeiro paper. Mas já tinha ido a Milão, estava a caminho do Dubai, já tinha as passagens para Portugal e para mais uns dias de farra em Ibiza. Ou seja: irresponsabilidade na entrega do trabalho e, na realidade, os quase 2000 euros mensais da bolsa não servem para comprar livros, mas, desculpem lá o nível, para "putas e vinho verde".

Eu sei que estes exemplos não são regra, mas são a prova que a teoria dos defensores cegos da importância do Latim e do Grego também não é regra.
Não me parece que seja assim tão linear a relação do Latim com o carácter das pessoas, com os valores, com a cultura (a minha mãe até é culta, mas a única coisa que ela sabe em "latim" é uns versos em pseudo-latim de uma música de um cantor qualquer português, nem sequer sabe a missa em Latim). Quantas donas de casa lêem a Maria e sabem gerir o orçamento miserável que têm, sabem dizer aos filhos o que está certo e está errado? Quantos formados com o Latim à mistura são sacanas, corruptos, incompetentes?

O que é importante é pensar e, para isso, é bom que se comece cedo. Sendo também recomendável que se comece na língua materna, por ser mais fácil, mas também por ser a que todos à nossa volta reconhecem, facilitando a troca de ideias entre indivíduos vivos. Porque mesmo que os clássicos estejam actuais, se uma pessoa pensar e trocar ideias com outras, pode chegar às mesmas conclusões que os Antigos, sem ser obrigada a lê-los. E ler os Clássicos também não é sinal que se entende os Clássicos!

E sito sem abordar a Filosofia e a influência na Economia... Porque Filosofia também me deu muitas dores de cabeça e eu não tenho dívidas de milhões. Ou será que é por isso que um certo gajo resolveu ir estudar à Paris? Bem, isso fica para outra altura.

sábado, 15 de setembro de 2012

Arte, para mim, é isto

No trânsito entre Zurique e Dubai estive três dias em Londres. Gostei de ver umas coisas, mas, no geral, não é cidade que me tenha deixado de boca aberta. Tem muitos parques, mas há ruas inteiras sem uma única árvore e passar zona de Picadilly Circus... parecia que não conseguia respirar dada a falta de árvores à mistura com tantas pessoas e carros. O meu irmão diz que é a Suíça que está a dar cabo de mim, mas se virmos bem... mesmo com os abates estúpidos em certas zonas e tirando as meia dúzia de ruas em volta da Rua Augusta e a eira que é [ou era, já não sei, pois já lá vi oliveiras em vasos gigantes] a Praça do Comércio, Lisboa tem árvores que se vejam comparando a tantas ruas por onde passei.
Ainda bem que eu apanhei dias de calor e Sol, para passear em Regent's Park, pois acho que teria ficado extremamente deprimida naquela cidade.

No entanto, não foi tudo mau e descobri algumas coisas que achei lindaaaaas! St. Paul deixou-me maravilhada e os amontoados de estátuas e placas mandadas criar por tantas famílias em honra de tanta gente, amontoadas numa das entradas de Westminster... levaram-me a outro mundo. Mas mesmo assim não foi isso...

Fui a King's Cross. O meu colega não morava assim tão longe e no fim de estudar aquele mapa louco do metro lá me meti a caminho. Queria ver um dos sítios que eu cismei que era de inspiração do Aldous Huxley (era uma estação de comboio, sim, era Cross, sim, mas não era King's, era Charing [que também tive oportunidade de ver]).
Claro que King's Cross não tem nada de especial e ainda perde mais importância quando se olha para o hotel  "por cima" da estação St. Pancras. Mas o que realmente me impressionou estava dentro da estação. The Meeting Place, de Paul Day, é simplesmente fantástica. Quando a vi estive que tempos a olhar para ela, para os pormenores, a tirar fotos... A pensar que seria difícil encontrar uma estátua "minha contemporânea" tão bonita.

Hoje andava na net e descobri um trabalho de um tal Mati Karmin, em Tartu, uma cidade da Estónia.

Convenhamos!, depois de ver certos Afonsos Henriques e certas homenagens ao 25 de Abril... Ver duas estátuas deste calibre (ainda que uma não tenha sido ao vivo)... é para se ficar de queixo caído com tal beleza e simplicidade. E, naturalmente, tem-se dificuldades em escolher a número um. Ou estarei errada?!?


 
P.S.: Londres tem uma coisa muito melhor que a Suíça: o café. Para quem ache que não se bebe nada de jeito em terras de sua Magestade... é melhor não pedir um café aqui na Helvécia!!!

domingo, 9 de setembro de 2012

A coisa depende do vento?!?

Se uma pessoa for muçulmana, ninguém insiste para beber um copo. Pois há que respeitar a sua religião.
Se uma pessoa não tiver o baço, ninguém insiste para beber um copo. Pois há que respeitar a sua condição física.
Se uma pessoa estiver a tomar antibióticos para as anginas, ninguém insiste para beber um copo. Pois faz interferência com a medicação.

Mas porque é que insistem em dizer a uma pessoa que toma medicamentos fortes para tratamento de uma doença do foro psicológio: anda lá, pá. é só uma cerveja. nem faz mal nenhum.?!?!

Faz mal, sim senhor, e faz muito mal. Eu espero que ninguém tenha que sofrer com o convívio com doenças psiquiátricas. Pois... são uma bela merda! E com amigos assim... quem precisa de inimigos?!?!

Rir é o melhor remédio

Para desanuviar dos dois posts anteriores fica aqui uma piada lá do trabalho.

Ontem fui ajudar o patrão a fechar a loja. Não me apetecia nada ir pois estava exausta e tinha um monte de coisas para fazer em casa, só que.... na hora do fecho são sempre precisas duas pessoas e como a patroa estava fora, mas não era dia santo na loja...

No entanto, ainda bem que fui. Apreceu lá um puto que me ia fazendo engasgar com a água que eu estava a beber. Muito preocupado, aproxima-se do meu patrão com um pacote de Maltesers na mão:

- Quantos Maltesers tem isto?
O meu chefe agarrou no pacote, procurou o peso e disse-lho.
- Oh! Mas quantas bolas são?!?
- Sei lá! O pacote está fechado só dá para ver o peso.

A sério... eu acho que estes putos perdem horas de sono a estudar qual é a pergunta mais parva que podem fazer no dia seguinte....

Mais estúpido que um camelo!! 0.2

Eu odeeeeeeeeeio piadas fáceis. Gosto de humor negro. Gosto do humor inglês. Gosto de piadas secas. Gosto de piadas rápidas. Mas acho que as piadas fáceis não mostram um pingo de inteligência. E se forem ditas repetidamente, como se os ouvintes ainda não tivessem percebido a piada... irrita-me solenemente.
E irrita-me de morte quando estão vários comensais que não se conhecem e alguém começa com essas piadas. Isso não quebra  o gelo, simplesmente me afasta de quem ainda não conheci. Nas férias conheci um otário com carência de atenção que só faz piadas do género.

Fui a um casamento e ia sem companhia No início não me assustei, pois não é a primeira vez que isso acontece e tem corrido sempre muito bem (ao ponto de andar a trocar endereços de email e assim!). Mas tinha que vir algum dia em que a coisa não corria bem.... (eu tenho que arranjar um namorado para estas ocasiões formais; dá sempre jeito ter uma apêndice nestas alturas... :p).

E calha-me mesmo ao lado o pior companheiro de mesa que eu poderia ter.
No primeiro momento não tenho nada a dizer, ainda falou da sua experiência em Marrocos e de como admirava as pessoas que fazem o jejum do Ramadão. Parecia ter a mente aberta, afinal era tão tacanho como tanta gente que anda por aí.

Quando se sentiu minimamente à vontade começou com já viram um cego dar aulas de condução? já ouviram um surdo dar aulas de fonética? eu comecei a ver para onde aquilo ia, mas no início pensava que era só piada. Comecei a responder-lhe, sempre  a pensar que era para ser um assunto ligeiro. Afinal não. Ele acha que um padre não pode dar conselhos sobre matrimónio. Como ele não faz sexo, não pode meter a foice em seara alheia. Até aí ele tem razão, mas que eu saiba um padre não dá conselhos sobre sexo. E aí a piada, que afinal não tem assim tanta piada, não tem razão de ser. O padre fala ao coração, ao espírito, à alma, mas nunca o ouvir falar para/sobre o sexo.

Como eu tentava defender a ideia do padre (só tentava, porque eu nunca consegui acabar uma frase), virou-se com uma piada fácil demais: esta aqui é amiga do padre. Eu odeio essa frase. Acho-a baixa demais para a maioria dos padres e não a admito para mim, principalmente de uma pessoa que eu nunca tinha visto até à coisa de meia hora... Passei-me e disse-lhe que tinha vivido com freiras 12 anos, o que me faz compreender (não falo em aceitar ou defender) certas coisas. E que apesar de não acreditar na instituição que é o casamento eu não estava ali por causa do padre, mas por causa dos noivos. E virei-me para o meu prato porque já estava com a cabeça a doer-me e eu ainda não tinha chegado ao fim do primeiro prato!

Ele continou com piadinhas, aquelas frases que têm piada se forem ditas espaçadamente (tipo uma piada por conversa, uma conversa por semana) e se não forem repetidas. Até a piada de Oh my God they killed Kenny deixou de ter piada!! E eu só comia.
Depois, já não sei porquê, resolveu perguntar se preferíamos Beatles ou Doors. Correu a mesa e quando chegou à minha vez, disse com ar de desdém tu nem um nem outro e eu concordei (eu não tenho pais que tenham vivido com muita música, tudo o que conheço foi ou é meu contemporâneo, o resto, mais antigo, sei identificar, mas não me sei identificar com). Oh! tu nem deves saber quem são. Eu não disse nada, mas tenho uns olhos muito expressivos...

ui ofendi-te! vejam lá. A piada não me ofenderia se ele não estivesse há que tempos a mandar piadas para o ar, sem quase mais ninguém falar e a interromper as ideias dos outros quando algum resolvia falar. A piada não me ofenderia se ele ainda não tivesse feito piada comigo. Disse-lhe que sim, que me tinha ofendido e que só queria comer em paz. Se na mesa já não se falava ainda se calaram mais e ele culpou-me. Eu disse-lhe, se queres que se fale, puxa assunto. Ele disse-me para eu o puxar e eu respondi-lhe que não era eu que me estava a queixar, que estava bem no meu canto, logo que era ele que devia puxar assunto.

Ora bem, uma pessoa vai viver para um país nove meses e vem de lá a aceitar o jejum do Ramadão (coisa que eu não compreendo no século XXI e não aceito, já o disse a muçulmanos e posso explicar porquê se alguém quiser, mas desde já digo: eu respeito quem faz o jejum! Respeito e aceitação são coisas diferentes), mas não aceita e não respeita que o amigo se case pela Igreja ao ponto de fazer piadas parvas sobre o assunto em pleno copo de água (é que eu acho que ele não foi à cerimónia). Então que foi ele lá fazer?!?! Podemos não concordar, mas se somos amigos apoiamos, não deitamos abaixo. Ou estarei assim tão errada????

Eu não acredito na instituição do casamento, por questões muito pessoais, mas planeei as férias de modo a ir a Portugal só por causa daquele casamento. Mesmo não acreditando, comprei bilhetes mais carotes do que o normal, andei às compras para vestir roupa decente (eu odeio compras!!!, mas eu até que ia bem gira), dei comigo a percorrer estradas da Serra da Estrela por onde nunca tinha passado e no regresso a Zurique saí de casa às 7h da manhã, fui para Lx, depois fui fazer escala a Colónia, para chegar a casa às 22h. E faria tudo exactamente da mesma forma se preciso fosse.
E quando eles fizerem 25 anos de casados, devo continuar descrente do casamento, mas terei todo o prazer em fazer escala em três países, caso eles resolvam ir festejar as bodas de prata a Timor. E quando eles fizerem 50 anos, já devo acreditar mais na coisa, e aí devo ter que levar uma bengala, mas também vou prestar a minha homenagem. A homenagem a eles, não ao padre que não faz sexo e que, segundo o otário, dá palpites sobre coisas que não sabe.

Porque o que me parece é que quem não sabe nada é o cromo. Em certas ocasiões muito específicas não são os nossos valores ou opiniões que interessam, mas sim os dos nossos amigos. Ou, pergunto uma vez mais, estarei enganada?

Mais estúpido que um camelo!!

As minhas férias já lá vão... há mais de um mês... mas aconteceram coisas que não me largam o pensamento. Eu acho que tenho alguma doença paranóica, mas... há coisas que me fazem comichão e que me incomodam mais que uma pulga.

Foram duas semanas loucas, viagens para sítios inesperados ou em datas inesperadas e até para ver coisas inesperadas. Isso fez-me reencontrar pessoas e conhecer novas pessoas e conhecer novas facetas das pessoas reencontradas. Infelizmente o saldo foi negativo na questão das relações humanas. :s

Um reencontro foi em Londres. Um homem, homossexual, perto dos trinta anos, com um mestrado pela faculdade de letras da Universidade de Lisboa e a frequentar doutoramento em Londres. É uma pessoa que já viajou por uns quantos países, europeus e não só,que já viveu em outros além de Portugal e Inglaterra. Com este quadro deveríamos pensar que se está perante uma pessoa de mente aberta, que aceita a diferença, que não é de todo racista e discriminadora. Wrong!!

Ai como eu me enganei! Ele sempre teve ar de superioridade, mas eu conheço muita gente que tem ar de supeioridade pelo curso que tirou, mas que nunca fez o que ele fez. Nunca pensei que chegasse a este extremo. Enquanto estive em Londres notei pequenas coisas, mas não liguei. Pois só estive lá três dias e como ele tinha assuntos para tratar passei muitas horas distraída com a milhentas coisas que há para ver e fazer em Londres.

Mas quando seguimos para o nosso verdadeiro destino de férias... eu ia tendo um colapso.

Eu conheço-o (pensava que conhecia) há uns anos e alinhei na loucura de ir para o Dubai com ele porque pensava que seria uma óptima companhia. Claro que, para tal aventura, passei muito tempo em frente ao computador a ler as "regras de funcionamento do país". Como mulher ainda tinha que ter mais cuidado do que um homem. Tive que reformular o meu guarda-roupa e dei comigo a usar t-shirts e bermudas que mais apreciam calças e  bermudas brancas (uma cor que odeio para saias, calças ou calções) e saias compridas (que eu acho que me ficam mal) num território em que a temperatura média era 45º...  Os lenços já tinha, porque eu gosto de os usar o ano inteiro (sim, por vezes eu também tapo a cabeça com eles, simplesmente não é da mesma forma, nem pelas mesmas razões que as muçulmanas), mas as saias tive que as comprar.
O que ele me criticou por eu simplesmente obedecer a uma regra do país que ia visitar!!!! Como se fosse um crime eu sujeitar-me às regras deles. Mas... se uma pessoa vai para outro país, tem que aceitar as regras do mesmo ou não adianta sair de casa. Ou estou enganada??

Só que o pior não foi ouvir isso contra mim. Foi ver e ouvir como ele tratava toda a gente que nos prestava serviço. Uma pessoa com formação superior, que pertence a um grupo minoritário, viajada...
Primeiro, o tom com que ele falava, o uso muuuito lacónico de obrigado e por favor.
Segundo, como é que ele consegue chamar pretos aos paquistaneses e indianos que nos prestavam serviço de forma eficiente, rápida e sempre muito educados?
Como é que ele consegue chamar de chinocas ou japas a todas as mulheres com feições orientais, mas que, por causa de outras caracteísticas (cor da pele, forma de falar, etc.), se percebe à distância que são de países do Oriente, mas nunca da China ou do Japão?!?

Mas há mais... nós ficámos instalados no mesmo quarto e ele tinha a mania absurda de deixar o computador no chão. Eu disse-lhe que não era bonito, que se devia deixar alguma ordem para os empregados trabalharem com calma. A resposta dele: eles são pagos para trabalhar. É um facto, eles são pagos para trabalhar. E é um facto é esse facto que distingue um empregado de um escravo. E ele só via escravos.

Na cidade do Dubai só é permitido visitar uma mesquita (é engraçadinha, mas não pensem em nada sumptuoso como na Turquia ou assim, é uma mesquita relativamente recente, sem o peso e o ouro da História) e eu fiz questão de ir vê-la. Já tinha lido que era preciso levar roupa respeitosa (para as mulheres significa ter só as mãos e a cara à mostra), mas quando perguntei ao concierge quanto tempo levava o táxi do hotel até lá, ele, extremamente educado, disse-me também para me cobrir bem e foi aí que percebi que os braços deviam ir cobertos até aos punhos.

No dia seguinte, quando o meu colega me viu vestida para sair fartou-se de se rir de mim. E descontraidamente vestiu uns calções acima do joelho e uma t-shirt justa ao corpo com uma "mini-manga". Ele era homem, podia ir de qualquer forma. Eu já estava cansada de tanto disparate só lhe disse tu lá sabes, mas acho que assim não vais a lado nenhum. Resultado, teve que vestir o orgulho dele com uma túnica que deve ser usada por tantos outros turistas. O mais engraçado de tudo? Ele era o único homem com roupa emprestada!!!

A cereja em cima do bolo foi na hora do check-in de regresso a  Londres. Estava um anão a tentar fazer o check-in, mas parecia que havia problemas com o bilhete. Pois sua exclência conseguiu fazer piada até com o anão. Para mim foi o fim da picada e disse-lhe: tu com gay és de um grupo minoritário e eu espero que gozem muito contigo no futuro.

Não entendo, juro que não entendo como uma pessoa pode ser assim. Foi uma semana de piadas ridículas, ofensivas, racistas, discriminatórias. Eu cheguei a desejar que as férias acabassem rapidamente, pois antes ficar na parvónia sem conhecer países "exóticos", mas ser uma pessoa honrada, do que andar a carimbar passaortes e ser simplesmente uma besta.

 

Valeu a pena a aventura pelo Dubai, mas a náusea que ele me causou... fez-me jurar que com ele... nunca mais!

domingo, 2 de setembro de 2012

O que é que não está a arder??

A25 fechada. Linha da Beira Alta fechada. No mesmo dia o mesmo fogo foi dado como extinto no mesmo dia. Mas houve reacendimentos. Quando o vento amainou, iniciou o fogo noutro sítio. É de arrepiar o que se houve em 15 minutos de telejornal.

Quando é que esses merdas vão ficar presos? Quando é que há realmente justiça? Ainda não foram queimados hectares suficientes? Ainda não morreram pessoas suficientes?

Mas também...
Quando é que vai haver controlo a sério da limpeza dos terrenos privados? Quando é que os da reinserção social vão começar a limpar matas? 15 horas semanais dá para limpar muuuuuuira coisa.

E antes que me digam alguma coisa, os meus pais fazem a manutenção dos pequenos terrenos que têm. Se me pagassem como deve ser eu até era capaz de viver só desse trabalho sem problemas nenhuns.
Por isso, que cada um tome conta do que é seu para não prejudicar o vizinho que se esforça por manter as suas coisas como deve ser...