domingo, 23 de setembro de 2012

Descaramentos

Na semana que passou, dois homens apareceram para tomar café todos os dias. Andam a fazer um trabalho num prédio lá perto e agora já sabe bem tomar um café sentado dentro da loja. Um deles perguntou se não eu não tinha um jornal e eu disse-lhe que não, ficando a pensar na hipótese de trazer um todos os dias para a loja. Mas de repente o palhaço estraga tudo e uma revista de sexo? Eu não disse rigorosamente nada, mas a minha cara, como sempre, não me desiludiu. Ele tentou compor a coisa com um era uma piada meio sussurrado. Aí virei-me para ele e disse-lhe que esse tipo de piadas eu tinha com os meus amigos e ele riu-se porque a palavra amigo também serve para namorado. Eu levantei a voz meio decibel e disse-lhe amigo de amizade, mas nunca uma pessoa que não me conhece. Mas porque é que as pessoas têm que ser tão otárias?!? Detesto piadas fáceis e acho que piadas deste género não se têm com gente que não se conhece...

No entanto... o descaramento deste tipinho foi suplantado pelo de uma cliente frequente da loja. Ela sabe que eu tenho formação superior e anda a fazer campanha para eu deixar  a loja. Não sei se é porque tem mesmo pena de mim ou se é porque conhece alguém interessado no meu lugar. O facto é que, sempre que ela pode, faz campanha para eu ir dar aulas de português, para ir estudar, para ir trabalhar para um escritório. Acrescentando que o meu alemão melhorou muito desde que comecei a trabalhar ali. Só que isso é uma mentira daquelas... No início eu não falava muito com as pessoas porque tinha que me concentrar no trabalho, em todos os seus pormenores. Eu quase que não era capaz de fazer a caixa e falar, com medo de me enganar. Agora que conheço muito bem o meu trabalho, não me custa ter dois dedos de conversa enquanto faço transacções complicadas. :D
A senhora acha que não. Que eu melhorei do dia para a noite na loja. Mas pronto... não me ia chatear por causa disso. Embora tanta conversa à volta do assunto já me irrite um bocadinho.

Além de ter um contrato e uma palavra para com os meus patrões, há mais coisas que, por serem da minha intimidade, quase ninguém conhece, mas que têm uma forte influência sobre as minhas tomadas de decisão. Agora... quem consegue meter isso na cabeça da abelhuda?!?...

Para aquela mulher eu sou altamente incompetente e incapaz de mudar o meu rumo de vida. Como é que eu sei isso?!? Então digam-me lá se não sentiriam a mesma coisa se vos acontecesse isto:

na Quinta-feira de manhã, a senhora aparece para fazer compras e, enquanto se prepara para fazer o pagamento, começa: ah andei à procura de trabalho em português. Eu achei aquilo muito estranho. Para que quer ela trabalho em português? e muito rapidamente ainda disse a mim mesma ela é doida, vai procurar trabalho em Portugal, quando há uma crise daquelas por lá. Os meus pensamentos eram completamente irracionais. Não compreendia o que a mulher me estava a dizer. A conversa parecia desconexa. Até que: ah não há trabalho para professores de português. Aí... caiu a ficha. A anormal da mulher além de controlar a vida dos filhos (é HORRÍVEL o que ela faz aos miúdos, um de 13 anos e o outro mais novo), resolveu controlar a minha. Ah eu encontrei um trabalho de governanta em (esqueci-me do nome da terra, mas é nas montanhas, longe daqui) para coordenar equipas de limpeza (hotéis que recebem muitos portugueses para trabalho sasonal e que não exigem conhecimento de língua desde que exista alguém para explicar tudo). ah também vi um trabalho num escritório de uma empresa de transportes. Poderia ser interessante. Eu interrompi-a logo e disse que não estava interessada em escritório. Eu não gosto de trabalho de escritório. É A-B-O-R-R-E-C-I-D-O!! Ah mas aqui é muito chato... O que é que o raio da louca tem a ver com isso?!?! Embora não seja o trabalho mais animado que já tive, nem o mais mexido, sempre tem mais animação que um escritório. Muuuuuito mais! depois... what the f***?!?! O que é que ela tem a  ver com isso?!?! Se eu tivesse dito que andava à procura de trabalho, se me tivesse lamentado... E se ela tivesse encontrado uma proposta de trabalho por acaso. Mas assim... a mulher deu-se ao trabalho de ir para a net procurar trabalho para mim, como se eu fosse uma pessoa incapaz de o fazer. Como se eu não tivesse experimentado antes. Como se eu tivesse mentido quando lhe disse uns tempos antes (por causa da insistência dela) que não há trabalho para professores de português.

Desta vez eu controlei-me. Contei aos meus patrões para eles perceberem o que se passa. Porque se ela vem com outra gracinha do género, eu não sei se me aguento e não a mando a um sítio que eu cá sei...

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