sexta-feira, 30 de outubro de 2015

É assim tão diferente?!?

Está na moda ser contra o Halloween.
Ah... porque a tradição é diferente da nossa! Eu pergunto: têm a certeza?

Há quem diga que se faça nas Beiras. Beirã que sou, só descobri o "Pão por Deus" aos 11 anos, quase 12, no primeiro ano em que vivi em Fátima. Lá dizia-se "ir ao bolinho" e havia uma lengalenga qualquer que tinha as palavras 'bolinho' e 'santinho' à mistura. Ou seja, andar de porta em porta a invocar Deus para sacar comida, é algo muito semelhante ao trick or treat. Não?!?

Depois é a história do culto dos mortos, alimentar as almas, o fim das culturas, a entrada no Inverno. Halloween, Dia de los Muertos, Dia de Finados. Datas muito próximas e intenção igual.

 Ah e as máscaras?!?! A sério?!? Hão-de explicar-me o que são os caretos. Ah porque isso é no Carnaval. Carnaval ou Entrudo? E como é que se relacionam as coisas?! Com a Quaresma. De certeza?!?
Ah porque é pagão. Pegando no Carnaval, nas máscaras, na Quaresma... Segundo o pouco que sei, a Páscoa depende da Quaresma e vice-versa (aquela acontece ao fim de 40 dias desta e esta termina ao fim de 40 dias com a festa daquela... matemática simples!). Mas... não dependem também da Lua?! Misturar a Páscoa com o ciclo Lunar não é seguir o paganismo?!?! Então?!?! Where is the problem?!?!

Mas o que eu mais gosto nesta história é serem contra o Halloween e depois são os primeiros a adoptar milhentas tradições estrangeiras, em diferentes épocas do anos, como por exemplo, as tradições no Natal. Ora veja-se:

A árvore não é portuguesa, mas do centro-norte da Europa. A árvore nem sequer é um símbolo cristão, mas adoptado pelo Cristianismo numa forma de "abafar" o paganismo.
O Pai Natal vem da Europa do Norte ou da Turquia. Ah porque é um papa. É justo! Mas se é assim, festeje-se o dia dele!!! Alguém sabe qual é? Uma dica, mais de um mês depois do Halloween, mas antes do Natal!
Sempre acho os espanhóis mais coerentes... o Menino Jesus recebeu a visita dos reis e as respectivas prendas e não de um homem gorducho, fofo, barbudo e vestido de vermelho... a propósito, o S. Nicolau era um papa. O vermelho é uma cor papal, não de um refrigerante. Se não acreditam, procurem imagens de representação de São Nicolau.

Isto porque uma colega que partilhou um texto já antigo de um blogue onde afirmam: DETESTAMOS o Halloween (garrafais no original). Falam da festa como se fosse um crime adoptar as tradições de outros países. Mas esquecendo-se que a começar pelo título deviam ser os primeiro as estarem calados. Porque índios tanto há na América do Norte como na América do Sul, mas só num certo país da América do Norte é que os tratadores de vacas se chamam cowboys.
Não estou aqui a dizer que devemos adoptar as tradições dos outros e esquecer de vez as nossas. Mas, arranjem outras cruzadas mais interessantes. Sei lá lutar contra tradições há muito enraizadas na nossa cultura, mas que deviam desaparecer rapidamente, tais como: ordenados baixos, fuga aos impostos, injustiça social, violência doméstica... and so on and so on... Mas se acham que não são capazes de abraçar tais lutas, ao menos lutem para que as campanhas de Natal comecem depois de o Halloween acontecer...

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Dos lamentos dos cães

Ontem li uma história que me fascinou. Daquelas coisas minúsculas, comuns nas redes sociais para dar um ensinamento de moral qualquer e que normalmente só servem para entupir as nossas páginas pessoais. Quando li a primeia linha fiquei na dúvida. Mas no fim, posso dizer que foi das melhores que li nos últimos anos e adequa-se tão bem a tanta gente...

Um homem vai a uma gasolineira para encher o depósito. Enquanto o faz, ouve um cão ganir. O bicho não pára de ganir de forma aflitiva. O homem chega à caixa para pagar e pergunta:
- Que se passa com o cão que não pára de ganir?!?
- Nada de especial. Ele está sentado em cima de um prego que o magoa. Por isso não pára de ganir.
- Mas se o magoa, por que é que ele não sai dali?!?
- Porque dói o suficiente para ganir, mas não o suficiente para mudar.

Na Segunda à noite, uma colega perguntava no livro das caras se não podíamos ter uma hora extra como no Domingo. Respondi-lhe a brincar com uma frase que faz parte da minha infâcia: querias, batatinhas com enguias. Foi dar licença à reclamação. Ah, porque já fiz isto, aquilo, aquilo e aqueloutro. Ainda não vi a cama. Olhei para o relógio e era quase meia-noite na Tugolândia. Para quem anuncia que está a ver a série X à uma ou duas da manhã (ela é que costuma fazer, não eu)... aquilo até era cedo...
Como começo a estar fartinha de tanta lamúria. Disse-lhe que deixasse o trabalho como professora e se dedicasse a outro ofício. E fui dormir, pois, embora estivesse de folga no dia seguinte não me apetecia ir irritada para a cama.
No dia seguinte, vi a resposta desdenhosa dela: Oooh! Agricultura!

Eu não entendo... sem falar na justiça ou injustiça da coisa, que ninguém diga que não sabia que o trabalho de professor é burocrático, aborrecido, complicado, subvalorizado apesar de ser sobrecarregado. Toda a gente sabe, e mesmo que não saiba, todos os que estagiaram puderam ter uma amostra das dores de cabeça.
Assim, por que raio andam sempre a lamentar-se?!? Já sabiam...
Mas se acharem que é demasiado, que vai muito além do previsto... dediquem-se a outra coisa qualquer e deixem o trabalho para quem quer e não tem medo...
Depois... por favor, não desdenhem de outras profissões como se fossem gente superior. Paaaaaleeeease... quando se conhecem as histórias de vida de certas pessoas e depois vemos como elas desdenham... é simplesmente ridículo.

Párem de ser cães e pode ser que a vida se torne mais fácil...

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Un peu moins ennuyeux

Depois de almoço lá seguimos para Le Locle, sempre na esperança que fosse mais interessante. Bem.. a terra... aborreciiiiida. Tem o edifício que era da junta de freguesia e agora é um tribunal. Um jardim com uma estátua em frente à casa e prontosssss... 



Valeu a visita a um museu. A entrada não era cara e nós acabámos por não ver metade, pois andámos embasbacados ah! Que giro. Ah! Que bonito!  Ah que interessante. Ah! AH! Aaaaaah!


Logo no jardim havia coisas interessantes. Uma árvore plantada no 700.o aniversário da Confederação.
E numa espécie de tenda estavam os pesos de um relógio de torre.

Um relógio solar e ainda um pêndolo. Não mostra as horas, claro, mas os pêndolos fazem parte dos relógios. Este pêndolo é do autor e foi criado no ano para exposição.

Achei piada aos sinos (não tocam). Mas fiquei fascinada com esta clepsidra. Não está em funcionamento, mas... é linda!
Ao lado, uma clepsidra de outra natureza. Uma casca de côco com um furo. Coloca-se sobre a água e espera-se que afunde e já passaram uns 3 ou quatro minutos...


No museu havia uma exposição temporária com o nome Porquoi je t'aime? ou les 5 temps de la industrie horlogère.
Pegaram em diferentes tipos de tempos e apresentaram-nos de forma deveras interessante.


Em 1741, ali juntinho ao centro do corte da árvore, morreu Daniel Jeanrichard, pioneiro na indústria relojeira no século XVII na zona de Neuchâtel. E assim se marcou o Tempo Natural. Ao lado estava o Tempo Matemático, mas se me dissessem que era o tempo chinês também servia... eu nem alguns dos símbolos consegui identificar... :p

Achei piada ao Tempo Profundo, mas... aquilo também não podia ser tempo natural?!?!?
Ao lado, temos uma imagem de uma das sete etapas de Les Temps Vécu. O nascimento, a infância, a idade adulta e por aí fora. Gostei especialmente desta: os 100 anos, a idade da imbecilidade ou da infância.

Da secção Les Temps des Saisons resolvi colocar uma foto do mês de Novembro, por ser o meu mês. Ao fundo um desenho onde se podem ver os signos do mês. As folhas de azevinho. O culto dos mortos.
E deu-me vontade trazer metade daqueles calendários... cada um mais mimoso que o outro.


Depois temos o tempo por aproximação (é o que entendo por Les Temps Aproximatif). Estes novos relógios que funcionam com luzes e dão "mais minuto, menos minuto" não são propriamente a minha onda...
Mas ali aqueles astrolábios... siiiim, valem bem a pena!


Depois na secção do Tempo Cronológico temos frisos cronológicos segundo milhentos calendários, alguns dos quais eu nunca tinha sequer sonhado, que mostram se são calendários solares, lunares, quando começaram e/ou acabaram em relação ao calendário gregoriano... E depois há exemplos físicos desses mesmos calendários. Como o calendário muçulmano (primeira foto, em cima) ou o calendário nepalês e tibetano aqui em baixo.

Também havia um calendário dos Maias, em gesso, parece-me, mas... com o fim do Mundo em 2012 toda a gente sabe como era o calendário deles, por isso dediquei-me a fotograra mais umas preciosidades relojoeiras...





Não sei como se podem ler as horas neste relógio, mas ali o V e o IIII estavam em janelas, por isso, parece-me que há um mecanismo que faz rodar as peças lá dentro. Também achei piada à folha de ponto. Eu trabalhei numa fábrica onde a carta tinha mais ou menos este aspecto, mas não era de picar, nem de escrever à mão, era mesmo carimbado automaticamente na máquina.



Na terceira foto há um crucifixo relógio que me pareceu um bocado sinistro. Mas no todo... os detalhes, ponteiros minúsculos, rendilhados, encastrados... ah! quem me dera ter metade da arte desta gente...

Devido aos muitos aaaah! ficaram outras secções por ver, e muitos relógios, principalmente os modernos, que podemos ver em publicidades ou em casa de algum amigo rico, foram vistos a correr contra o tempo (piada gira, não?!?! :p)





domingo, 25 de outubro de 2015

Ennuyant

Há dias caí na asneira de perder o meu tempo num sítio feio. Mas... quem é que ia adivinhar que um sítio que é Património da Humanidade podia ser tão feio e aborrecido?!?!
La Chaux-de-Fonds e Le Locle são duas terriolas no cantão Neuchâtel, ali a cair para  a fronteira suíça.
Como é uma zona um tanto ou quanto inóspita para a agricultura, dedicaram-se à relojoaria e construíram as duas cidades em função disso. Principalmente em  La Chaux-de-Fonds nota-se uma geometria criada nas ruas para facilitar o desenvolvimento da indústria. Quando eu vi fotos pensei que era isso que ia ser interessante... quando cheguei lá...

Mas comecemos pelo começo.  
A viagem até lá baixo é bastante interessante. Mesmo encoberto e com chuva, pode-se ver que o maciço Jurássico é brutal (sim, o que deu nome aos dinossauros!). sem qualquer ironia. É mesmo bonito!

Depois há o ponto positivo de se passar na zona do queijo Tête de Moine. Eu sou suspeita, pois adoro queijo, mas Tête de Moine é muuuuito bom. E como bónus é um queijo bonito de se ter à mesa, pela sua forma inusitada de ser apresentado/consumido.
Na foto aqui por baixo vemos isso mesmo: um queijo e respectivo suporte gigantes... 

La Chaux-de-Fonds...
.


Destacam-se meia dúzia de casas com flores e/ou varandas. De resto... ruas de um sentido, com muitas zonas de 30km/hora (acho que é a terra com mais escolas por metro quadrado), ladeadas por blocos direitos com umas cores esbatidas e pouco mais.





Era um relógio na base do prédio de onde se pode ver a cidade toda. (No topo tem um restaurante... que também não recomendo).

Honestamente, a coisa mais engraçada que vi nesta terra foram mesmo os candeeiros de rua. Não percebi a utilidade, mas achei piada àquelas coisas que lembram cabos de alta tensão.


No jardim museu da relojoaria há várias esculturas. Uma delas é um pseudo marco geodésico com cara de relógio solar que assinala a altitude da coisa... a base são os 1000 metros.
Ao lado temos um carrilhão. Se formos procurar vídeos dele vamos encontrar com o epíteto de maior carrilhão do mundo. Pois... não! Mas garantidamente deve ser dos mais aborrecidos...


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Do ciclo da vida

Conheci-a há mais de 20 anos. Baixinha. Com uns óculos muito grossos. Era a pitosga, como algumas pestes adolescentes lhe chamavam. Era velha. Sempre a conheci velha e enrugada. Era a Irmã do Lanche, como a maioria lhe chamava, porque era ela que nos preparava o lanche, todos os dias, sem excepção. Ou melhor, com a excepção quando lhe parti uma jarra numa mão e a cortei toda. Adolescentes com a cabeça no ar é no que dá... andei semanas a esconder-me dela. E a coitada queria era dizer-me que estava tudo bem, que não tinha que me preocupar.
Durante seis anos foi ela a minha companhia na hora de lanchar. Falava comigo sobre a escola, sobre a vida e quando me tornei maior falava comigo sobre a minha grande paixão assolapada e na sua inocência dizia: se o D. te visse a trabalhar ia perceber que és um bom partido. Meiguinha, com uma paciência superior à de Job. Foi uma espécia de avó consagrada à vida religiosa.
Como disse, era velha, sempre a conheci velha. Tinha mais de noventa anos e estava muito lúcida. Mas se a cabeça aguentou, fiquei a saber que o corpo não. E apesar de acreditar que o sofrimento dela acabou... estou triste pela minha Irmã Teresa Maria.

sábado, 17 de outubro de 2015

Entrelagos

Interlaken (Entre lagos) fica literalmente entre lagos (Thunersee e Brienzersee) e por isso tem esse nome tão original... Devo dizer que não é a terra mais bonita do mundo, mas se uma pessoa procurar bem... há sempre qualquer ponto de interesse.

Uma das coisas engraçadas é a maior e mais antiga macieira que existe na Suíça. Fica entre uma igreja reformista e uma católica que, a meu ver também não são as mais bonitas do mundo. De salientar é que ficam na rota dos Caminhos de Santiago, como outras duas em Thun. Acho que a área envolvente é a que mais pode interessar em toda a cidade...

Como é uma zona turística, há muitos hotéis, lojas de souvenirs e chineses, muitos chineses de tablet em punho a fotografarem tudo e todos...

Tem ainda um parque composto por diversos pavilhões dedicados aos mistérios da humanidade: os Maias, Nazca, Stonehege, entre outros. Passei lá ao lado, mas confesso... não me atraiu rigorosamente nada!

Mas... o que valeu  pena em Interlaken, não foi propriamente em Interlaken. Não estava de todo nossos planos, mas... ainda bem que adicionámos aos nossos planos...

Enquanto procurávamos estacionamento, encontrámos também a placa para um ascensor. Eu olhei para ele e... ai que dor de barriga, mas era impossível estar ali e não arriscar... São cerca de 8 minutos a subir a uma velocidade bastante razoável, de costas para a encosta, fazendo uma curva para a esquerda (quando se está no sopé a olhar para a encosta). As vertigens podem ser tramadas, mas... eu ia: não olhes para o lado... e olhava... e não olhes... e olhava... depois ia: concentra-te nos carris, não no fundo da encosta... e olhava par ao fundo... nos carris!!!... e concentração no fundo... e o meu colega ria-se à minha custa.


Para cima fomos todos bem sentados, sem problemas. Para baixo a coisa vinha à pinha e lá vinha eu em pé. Agarrada a não sei o quê e a fazer uma força descomunal e completamente desnecessária... o ascensor não tremia nada e eu consegui fazer com que a minha mão ficasse gelada com a força!!!!!!!!!

Mas pronto... apesar deste atrofio... chegar lá a cima e... BRUTAL!!!

Em Harder Kulm, temos uma vista... sem adjectivos decentes para a situação... sobre os lagos e sobre as montanhas. A 1322 metros de altitude temos o que se pode chamar de "Plataforma dos dois lagos". Eu agarrei-me bem ao corrimão, mas... as vertigens não venceram. Não podiam... Em cima da plataforma, da esquerda para a direita vemos o Brienzersee (qualquer coisa como lago de Brienz)...

... as montanhas sempre nevadas (picos mais altos da esquerda para a direita): Eiger (3970m), Mönch (4107m) e  Jungfrau (4158m), fazem parte do Património da Unesco, numa complicada ligação com outros picos dos Alpes...
... o vale entre os lagos e os pequenos rios que se formam entre os lagos...
... e por fim, novamente o lago de Thun.

No regresso a casa, viemos por outra zona bem diferente e optámos pela nacional. Além das autoestradas aqui não serm a coisa mais cool do mundo (80km, 100km, de vez em quando 120km...), pela nacional, vêm-se coisas bem interessantes. Como este pequeno lago. Lungern de seu nome, no cantão Obwalden.


Decididamente, foi um dia... sem muitas palavras...