Conheci-a há mais de 20 anos. Baixinha. Com uns óculos muito grossos. Era a pitosga, como algumas pestes adolescentes lhe chamavam. Era velha. Sempre a conheci velha e enrugada. Era a Irmã do Lanche, como a maioria lhe chamava, porque era ela que nos preparava o lanche, todos os dias, sem excepção. Ou melhor, com a excepção quando lhe parti uma jarra numa mão e a cortei toda. Adolescentes com a cabeça no ar é no que dá... andei semanas a esconder-me dela. E a coitada queria era dizer-me que estava tudo bem, que não tinha que me preocupar.
Durante seis anos foi ela a minha companhia na hora de lanchar. Falava comigo sobre a escola, sobre a vida e quando me tornei maior falava comigo sobre a minha grande paixão assolapada e na sua inocência dizia: se o D. te visse a trabalhar ia perceber que és um bom partido. Meiguinha, com uma paciência superior à de Job. Foi uma espécia de avó consagrada à vida religiosa.
Como disse, era velha, sempre a conheci velha. Tinha mais de noventa anos e estava muito lúcida. Mas se a cabeça aguentou, fiquei a saber que o corpo não. E apesar de acreditar que o sofrimento dela acabou... estou triste pela minha Irmã Teresa Maria.
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