quarta-feira, 23 de maio de 2012

O bar das meninas ou do preconceito?

Nos meus primeiros tempos por aqui, aconteceu uma coisa  tão parva (com uma portuguesa) que me marcou tanto que quase quatro anos depois ainda falo nisso.
Fomos trabalhar para a cidade velha e, na pausa da manhã, os meus colegas resolveram sentar-se na esplanada de um café que tem a particularidade de estar aberto 24h sobre 24h todo o ano. Eu, que sempre achei que devia fazer o máximo para me integrar, incluindo tomar café com colegas de trabalho, alinhei sem saber para onde ia.
Uma garota (18 anos) portuguesa, quando viu para onde íamos, disse com os maiores dos deprezos eu não vou para o bar das putas. Como eu disse, eu não sabia para onde ia, mas respondi-lhe não é contagioso.

À noite, comentei a cena com a minha mãe e ela disse que era mentira. Talvez haja mais prostitutas a frequenatr o bar, à noite!, porque está aberto. Mas quando lá vão não é para procurar clientes, pois isso não é permitido por lá.

Depois desse episódio e da explicação da minha mãe, comecei a prestar mais atenção à clientela. Na esplanada (aberta até no Inverno) há para aí umas quinze mesas que se enchem dos mais variados tipos de gente. Quando a um Sábado de tarde vejo muitas famílias (carrinhos de bebé incluídos) sentadas a saborear um bom café (é mesmo!), eu passo e digo olha tantas... (umas vezes é só assim, outras uso o palavrão, conforme me dá na telha) e a minha mãe ri-se.

O episódio não é nada de especial, mas... ao mesmo tempo diz tudo sobre o preconceito de muitos portugueses por terras helvéticas. Tudo que saia da norma deles já não presta. Mulher que se senta sozinha numa esplanada está, obrigatoriamente, à espera de cliente. E isso é mesmo triste!!!

E o porquê desta história hoje?!? Ontem tive uma reunião no centro e também tinha que fazer umas compras. Mas, entre uma coisa e outra, tive que esperar que as lojas abrissem. Para fazer tempo, fui tomar café ao Gotthard (o verdaderio nome do café, que também de um passo entres os cantões Ticino e Uri, o nome de um túnel muito importante e ainda de uma banda de hard rock/heavy metal suíça). Pus-me a pensar há quanto tempo não me sentava numa esplanada num dia de semana de manhã a ler um livro em português. Depois pus-me a analisar o movimento à minha volta e quase que fiquei com a sensação  que estava na esplanada do Luanda numa qualquer Terça-feira de manhã: velhotas sem horários e homens de trabalho em trânsito, numa pequena pausa para café.

E desse pensamento sobre a normalidade das coisas saltei para a história da garota que ainda tem que aprender muito da vida para perceber que eu, e tantas outras!!, não procuro homens nem esplanadas de café, mas que gosto de me sentar sozinha a apreciar a carícia morna que o Sol nos faz numa manhã de nuvens.

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