Já para aí disse que as profissões mais conceituadas por estas bandas são economista e professor.
No entanto, toda e qualquer outra profissão é considerada importante, desde que seja útil. Deste modo, ter uma formação básica numa área qualquer é algo fundamental para se ser gente nesta terra.
Note-se que o facto de se ter formação numa área não é impeditivo de se seguir por áreas diferentes, fazendo novas formações ou mesmo arriscando sem ter conhecimentos nenhuns. Na estufa trabalhei com uma assistende de dentista que ganhava mais do que outras pessoas porque tinha um Lehre (para assistente de dentista, não na área de jardinagem). Dizer que se tem um Lehre será mais ou menos dizer que se fez uma formação numa escola profissional. É a profissionalização ao nível mais básico. Muita gente faz essa formação e acaba por seguir para a faculdade, outros fazem um curso para depois descobrirem que não gostam e que preferem trabalhar num campo diametralmente oposto. Há de tudo...
Nesse Lehre pode haver níveis diferentes, muitas vezes relacionados com as capacidades intelectuais dos alunos. Faço um esboço em traços muito gerais, usando o exemplo que melhor conheço: área da jardinagem.
Pode-se fazer uma formação teórico-prática (com mais incidência na segunda) durante dois anos e fica-se qualificado como auxiliar de jardinagem (não como eu, eles têm um estatuto superior ao que eu tinha); pode optar-se por uma formação também teórico-prática de três anos e tem-se o estatuto de jardineiro.
A seguir a isto (ao curso de três anos) pode optar-se por: não fazer mais estudos e ir trabalhar para uma empresa de produção ou comercialização de plantas, para uma empresa de criação de jardins, etc.; ir trabalhar e fazer formações ao longo da vida activa, em função dos objectivos que se queira atingir (ser chefe de produção, chefe de expedição, relações públicas [até para vender flores é preciso isso!], chefe de grupo...); não trabalhar e ir fazer um curso de botânica (o J. tinha isso em mente, por isos regressou à Alemanha o ano passado); investir num curso de biologia (não sei se foi para a frente, mas a P. era uma garota que acabou o Lehre o ano passado e estava a pensar trabalhar um ano antes de entrar para a faculdade).
Mas seja qual for a opção de vida, é-se bem visto se no nosso currículo tivermos formação em qualquer coisa. Ter o equivalente ao nono ano português é coisa que pode levar a grandes entraves na vida profissional futura (eu acho que nem sequer é possível fazer isso, isto é, acho que ninguém tem a escola mínima acabada sem ter, no mínimo, esses dois anos de formação).
Se calhar, há gente que pensa... mas se não dá para ser doutor vai para as obras. Mas até aqui... até aqui, a formação existe e, como é óbvio, passa à frente dos que não foram à escola fazer o Lehre...
Há curso para as obras?!? Sim, há. E, atenção!, pode-se escolher a área: gessos (revestimento de paredes), pintura (até podem achar que não tem muita ciência, mas há muitas raparigas a aprender a pintar paredes!), carpintaria, montar elementos, pedreiro (depois existem níveis, se não me engano, de A a C), etc. e tal.
Há cursos para tratar de animais pequenos e grandes, para agricultor, para podador de árvores, agora parece que está outra vez em voga ser ferreiro em Portugal, mas aqui nunca passou de moda (conheci uma miúda que queria ser ferreira e só não foi aceite porque os pulsos dela eram pequenos demais para ter força para agarrar nas tenazes!!), aprende-se a fazer bolos e pão, aprende-se a coser roupa, a vender roupa, a ser caixa de supermercado e de banco. Ser carpinteiro ou serralheiro implica passar pelo banco da escola para aprender a a medir com metro, régua e esquadro, mas também pela serrelharia ou serração, conforme o caso.
Aqui não há cursos para ricos e trabalhos para pobres. Há, sim, o entendimento geral e implícito de que todas as profissões são úteis e dignas e que a formação (de base e contínua) é importante.
Por isso é tão comum, e nada de espantar, ver limpa-chaminés imundos à hora de almoço (o meu espanto foi ele estar limpo!!). Por isso os carpinteiros continuam a usar as suas calças de bombazine, por isso uma mecânica apanha o autocarro com as mãos cheias de massa consistente ou um pintor é identificado ao longe por causa dos milhentos salpicos de tinta na roupa, na cara, no cabelo...
Embora me tenham dado uma explicação para o status de professor e economista, não sei porque é que um Kaminfeger é símbolo de sorte. Não sei se é porque limpa o lixo, permitindo que entrem boas coisas pela chaminé, se é por ser um "susto", quando está imundo, e espanta o azar... Mas, uma coisa é certa, se os limpa-chaminés fossem uma coisa desprezível, além de ninguém querer ter essa profissão, não era coisa que se oferecesse aos amigos no virar do ano...
Esta é uma das diferenças entre a terra das vacas e a Tugolândia que me agrada.
Os cursos de pedreiro também existem em Portugal, mas quantos optam por frequentar um?!?! Cruzes!!! Que vergonha!!! ou ainda Credo!!! Ele anda sempre cheio de fuligem!!!
As pessoas, aqui, são respeitadas pelo que são e não pelo que são.
Assim, e ao contrário de outros sítios, o limpa-chaminés não é só referência na literatura infantil traduzida, como disse a Teresa. O limpa-chaminés é alguém!
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