O senhor que falou na televisão soube vender o livro muito bem, pois eu costumo ser resistente a todo e qualquer tipo de publicidade... A vozinha que me dizia baixinho se calhar vais perder o teu tempo e dinhiero tinha toda a razão.
Eu comecei a ler o livro e aborreci-me em três tempos. Mas eu explico porquê...
O primeiro é o básico: a m***a do acordo ortográfico. Há um capítulo que deve falar de toureiros e forcados e matadores. Ou então de enfermeiros e veterinários. Ou ainda de drogados viciados em heroína. Pois se um sub-capítulo se chama Um espetador da vida... só podemos estar a falar disso... a não ser que estejam a falar de algum alfaiate...
Eu sei que é quase uma autobiografia. Assim, tem que haver muitas citações. Mas... eu tentei ler o prefácio e perdi-me entre tantos itálicos, aspas e notas de rodapé. Saltei esta parte, até porque, ao que parece, um dos heterónimos achava que os prefácios não serviam para nada, mas deviam existir tal com a imoralidade, pois são coisa necessária (nem comento tamanho disparate [não, não consigo ler essa declaração com perspectiva literária]).
Tentei passar para algo que me despertasse a atenção. Encontrei... mas não tem a ver com o Pessoa, tem a ver com o Cavalcanti Filho: o nome de uns heterónimos traduzido?? Parece que o senhor "Procura" (na """realidade""" Search)tinha uma irmã (também heterónima!!! que promiscuidade!!!).
A sério que não percebi a razão de o nome ser traduzido pelo autor do livro! Mas isso foi a meio do livro e captou-me a atenção durante 5 minutos.
Então continuei à procura de algo mais valioso. Às vezes isso acontece-me: folheio quase até ao fim e encontro um tesouro que me obriga a voltar ao início para perceber tudo como deve ser.
Na realidade... nem letras gordas... nem letras magras... nada me despertou verdadeiro interesse. E quando cheguei à parte dos 127 hetrónimos... quê?!? Não encontro genealidade nisto. Lamento, mas não encontro!
Passei à parte que corrobora a minha teoria de que ele não é um génio: ele era doente mental (seja lá de que forma lhe queiram chamar [variam os nomes e as teorias ao longo dos anos, neste momento chamam-lhe esquizóide - não é simpático e não abona a favor dele]) e era alcoólico.
Ora bem, de modo geral, ninguém tem culpa de ser doente (excepção para os que levam uma vida desregrada ou os que se recusam a tratar qualquer doença já diagnosticada), assim, lamento que ele fosse doente. Mas... o Hitler também era genial... perdão, também era doente!
Quanto ao álcool... Uma vez mais, lamento, mas não suporto bêbedos!!! Eu sei que o alcolismo também é uma doença, mas... ela começou nalgum sítio... quanto mais não seja na não prevenção. E depois... se uma pessoa cria algo sob o efeito do álcool... não é génio... simplesmente teve sorte em escrever umas linhas engraçadas em vez de vomitar nos sapatos!!!!
Não acredito que haja uma espantosa lucidez da bebida (outro capítulo). Acho, sim, que a bebida simplesmente solta as amarras que nos são impostas pelas convenções da "boa educação" e a expressão in vino veritas é verdadeira (e não aceito que dêem a desculpa de eu ontem estava com os copos). De resto... no que diz respeito à criação de algo, já disse tudo mais acima.
Não dá... eu bem que tento aproximar-me do homem que nasceu no mesmo dia que a minha mãe, mas... não dá!!!!! Se fosse uma biografia "normal", podia ser que tivesse conseguido ler, mas assim... no way!!
No entanto, para freaks de Pessoa... do género de uma tontinha que conheci há uns anos que me perguntou: gostavas que eu ofendesse o teu pai? É que Pessoa é como um pai para mim. Só porque eu disse que ele era uma porcaria, não sabia escrever, era bêbedo e tal (eu tinha 17 anos e tinha acabado de rasgar o meu livro de português num desespero profundo que surgiu na aula de português após leitura de um certo poema). Sim, para freaks de Pessoa, ou alguém com estômago para tantas citações, ou pelo menos mais paciência do que eu para este autor... o livro pareceu-me bastante interessante pela forma como os elementos estão dispostos (a abordagem a cada tópico, como se pode depreender pelo que escrevi antes, não posso avaliar).
Vou guardar este livro junto de mais uns quantos que são muito bem conceituados e eu tentei ler, mas... que, por alguma razão que me é completamente desconhecida, não consegui acabar!!! Eu continuo sem saber a razão (se a há) dos assassinatos de A Sangue Frio; eu sei qual é a sensação de estranheza de Ulisses quando chega a casa (e não é preciso estar 20 anos fora para se saber tal coisa), mas continuo sem saber o que sente o homónimo, o do Joyce...
Em relação ao Pessoa... agora tenho mais esta biografia, mas acho, que para chegar lá, ainda tenho que perceber este poema (o tal que me fez rasgar o livro há 12 anos):
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
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