quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Resposta aos comentários

Teresa: o que me assusta nem é a ignorância. É mesmo a falta de brio.
Eu adoro o meu trabalho nas flores e faço-o com esmero, porque assumi um compromisso. Porque considero que até para enpacotar flores se deve dar o nosso melhor.
Mas que eu tenho visto, SÓ na fornada de licenciados do meu ano, assusta-me. Brio?? Que será esse bicho?!

Uma colega no quarto ano da faculdade não sabia que os dicionários "normais" (por exemplo, o Houaiss, neste caso, "não é normal") têm no cimo da página esquerda a primeira palavra da página e na da direita a última palavra da mesma. Eu pergunto-me: COMO É QUE ELA CONSULTOU O DICIONÁRIO AO LONGO DE 16 ANOS DE APRENDIZAGEM? Eu fiquei parva quando ela me veio com a novidade. Juro que pensava que ela estava brincar comigo. Afinal não, estava mesmo muito admirada por eu saber uma coisa que se aprende na primária. E ficou-ste a rir da sua descoberta... Será normal?!?

Uns colegas meus da zona do Porto passavam a vida a dizer "Ontem chegamos!". Eu passava a vida a corrigi-los. Quando contei na faculdade, a professora de linguística ouviu e disse que eu estava errada. Pois se eles eram do Porto... a variação dialectal leva a que eles digam assim. E já ia para desbobinar as "tretas" (um dia explico porque uso esta palavra) da variação dialectal, quando eu a interrompi e disse lhe que eles ganharam essa mania em Lisboa. Ela ficou em choque. Se eles vinham sem essa variação, foram ganhá-la a Lisboa?!?

O chegasteS... sem comentários. Só conheço uma pessoa (que nem é de letras) que assume que diz isso mal e me pede para corrigir. Então, muito discretamente, eu corrijo-a à frente de toda a gente. Sempre que ela diz um "...tes" eu só digo: TE. Ninguém percebe por que raio digo eu aquilo vindo do nada. Ela ri-se comigo e corrige a bácora. Agora os outros a quem tentei chamar a atenção (faço-o sempre quando estamos a sós, para não pensarem que sou uma snob que se quer 'armar em boa' à frente de toda a gente)... até à m**** já me mandaram. Isso é o quê?

Na Faculdade de Letras da UL, como em qualquer outro sítio, afixam-se cartazes de aviso de eleições, por exemplo, de anúncio de uma festa, de protesto contra qualquer coisa...
Só por si só, já era uma decadência ver tanta papelada espalhada, colada de qualquer maneira nas paredes, depois a cair e a ficar por ali mesmo, dando um aspecto de gueto à coisa.
Mas o pior está quando nos aproximamos... olhamos para os lados a ver se não nos estão a filmar para os apanhados!
Num anunciavam a 'bênção' das fitas. Um(a) otário(a) foi lá riscar o acento circunflexo, acrescentando que não se admitia que se dessem erros daquele tipo numa faculdade de letras. Pois, a pessoa até tinha razão no que dizia, ssó que estava a apontar para o alvo errado. Alguém escreveu por baixo que ele(a) devia ir consultar o dicionário.
Noutro reclamavam contra os 'tachistas'. O(a) mesmo(a) ilumindado(a), ou algum discípulo (que estas coisa ensinam-se e aprendem-se rápido), foi lá riscar o /ch/ e escrever um /x/ por cima. Acrescentando que não se admitia. Alguém teve a paciência de corrigir o(a) anormal, esclarecendo de onde vinha a palavra 'tachista' e a palavra 'taxista'.

Parecem anedotas, mas não são. E tem dias que fico mais desanimada quando vejo ou penso nestas coisas. Não me considero a melhor pessoa do mundo a escrever português, não sei "desbobinar" a gramática, nem quero, a não ser que seja ao fim de 50 anos de ensino, até porque considero que "desbobinar" a gramática não significa conhecimento da mesma. Mas... procuro sempre qualquer coisita mais. Estou aqui há dois anos e meio mês: tenho cá um dicionário de português, a gramática do Celso Cunha e Lindley Cintra, a gramática escolar adoptada pela escola onde estagiei, o Áreas Críticas da Língua Portuguesa, entre outras outras coisitas. E é para consultar de vez em quando, não é só para fazer bonito, até porque os meus colegas... só falam alemão!

Artur: eu sei que só interessa o que eu faço. Mas ao mesmo tempo não é só o que eu faço.
Ainda hoje andei a pensar numa cena que me aconteceu na faculdade. Chumbei a uma cadeira com 8. Primeira prova: 8. Segunda: 8. Época de Setembro: 8. Nem uma décima para cima, nem um ponto para baixo. Sei que na segunda prova eu escrevi o conteúdo mais ou menos igual ao de uma colega. Depois da prova trocámos ideias e eu fiquei muito animada por ver que tínhamos abordado mais ou menos a mesma coisa. Pensei: se ela é aluna de "altas notas" e temos as mesmas ideias, pode ser que eu tenha um 11 ou 12. Eu tive o tal do 8, ela teve um 15 ou 16. Quando olhei para a prova dela vi tudo riscado a vermelho de correcção do português. A minha folha de prova tinha uma pontamento aqui ou ali. Resultado: repeti tudo, com outra professora. Sem metade do trabalho: 14 ou 15, não me lembro agora.
Resultado do resultado: não sou eu que sou burra, mas há caras e caras, e a minha não deve ser a mais bonita.
Resultado do resultado do resultado: ela, desde que saiu da faculdade, está a dar aulas, escrevendo/dizendo erros que nem na primária se admitem (ou admitiam; que isto hoje em dia...). Eu estou quase no número 5500 da lista de ordenação de professores.

Até esse dia que dizes que tudo há-de correr bem eu tenho que: trabalhar em coisas que dão cabo de mim porque não tennho formação para coisas mais suaves; viver com os meus pais, não é que seja o fim do mundo, mas, estou com quase 30 anos, o que eu queria mesmo era alugar um T0 pata poder receber os amigos sem me sentir uma invasora da sala de estar da minha mãe. Só que não tenho dinheiro para isso.
E saber que muita gente está a ganhar um salário de professor (que também não é assim tão grande) com os conhecimentos de um aluno de escola primária, sem o mínimo cuidado de se educar, de aprender mais, de se corrigir... Não mata, mas mói!

2 comentários:

Arturio disse...

Eu sei Luísa, mas mesmo que tu não consigas com os meios que tens, acredita que há-de acontecer por meio de outra pessoa, outra coisa que nem sequer te tinha passado pela cabeça. É uma questão de SABERES que tudo o que fazes é bem feito, mais tarde ou mais cedo vais ver que tudo vai ficar bem!
TRUST ME!

Luísa disse...

Tu conheces-me. Sabes como nunca fui muito de acreditar. Neste momento, nesta matéria... estou completamente descrente. Estou errada? Esperemos que sim...