Se me perguntarem que defeitos tenho, o mais provável é eu começar com ser despassarada. Mas isto não é para ser visto de forma linear. Na realidade, esse ser despassarada para os de fora é, na minha maneira de ver, uma forma de o meu cérebro filtrar a informação que me interessa.
Sou despassarada quando uma pessoa cortou as pontas do cabelo, fez madeixas ou engordou dois quilos. Eu não perco tempo com coisas mínimas. Passo logo para o humor, para o olhar e para o sorriso. Isso diz-me se a pessoa está feliz ou predisa de um carinho.
Se conhecer uma pessoa nova não reparo se traz roupa Sacoor ou Sakoor, quanto muito reparo se é camisa ou camisola. Não reparo se tem carro caro, nem se tem jóias ou um diploma. Eu não perco tempo com coisas mínimas. Passo logo para o humor, para o olhar e para o sorriso. Normalmente são estes os elementos que me permitem ver como a pessoa é e que cativam (ou afastam).
Ou seja, a bem da verdade, eu não sei (nem quero saber) detalhes que a mim não me dizem nada (basta ver o meu carro, o meu guarda-roupa, os meus acessórios...), mas depois, o que realmente interessa, estou antenada, como dizem os brasileiros. Isto é... sou tudo menoss despassarada...
Acho simpático responder a um email, mandar um postal, prometer dar notícias e cumprir. Acho que é de valorizar o cuidado de se oferecer uma prenda personalizada, que agrade a pessoa que recebe (e somente a pessoa que recebe, aprendi que essa história de oferecer-uma-coisa-que-me-agrade-também é das coisas mais estúpidas neste planeta). Destesto, odeio, abomino a nova moda de espetar um "Parabéns. Bjs :)" no livro das caras e só porque o mesmo nos lembrou disso. Uma mensagem (mesmo que no FB) pessoal, privada, com mais que uma linha... detalhes agradáveis, em tudo opostos ao "despassarada" lá de cima.
E como eu, analisando bem a coisa, não me considero nada despassarada, começo a ficar farta das pessoas que não me dão os parabéns porque a data não está no FB (estou a falar de gente que conheço de muito antes da rede social nascer, não as pessoas que me conhecem só virtualmente). Começo a perder a paciência que não atendam o telefone em horários decentes e depois retribuam quase de madrugada só porque, despassarados, não ouviram o telefone. Começo a ficar farta que só mandem notícias quando eu mando e comecem com ando há que tempos para te escrever e rematem a mini-mensagem com eu mando-te um mail com detalhes esta semana. E e depois não apareça nada até eu voltar a dar notícias e voltamos ao ando há que tempos para te escrever e rematem a mini-mensagem com eu mando-te um mail com detalhes esta semana... uma equação de infinito elevado o cubo...
Dependendo do meu humor, uns dias dá a sensação de desleixo dos outros, outos dá a sensação que estão fartos de mim, mas que não o querem dizer e acabaram de inventar uma desculpa esfarrapada... seja de que forma for, parece-me que já vai sendo tempo de as pessoas (as que eu conheço, mas também as que nunca se cruzaram comigo, mas fazem destas aos seus amigos) serem menos despassaradas e preservarem as amizades. Qualquer dia neste mundo só vai haver pessoas a clicarem em "gosto", lamentando a inexistência da tecla "não gosto", usando aplicações com bandeiras em marca de água por vítimas de guerras que não conhecem, não vivem (e ainda bem!), mas que existem. Que existem por causa de certos animais, mas também porque as amizades são cada vez mais débeis à custa da falta de tempo, da crise e dessa característica-desculpa pessoal que é ser despassarado.
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