Estou no aeroporto a fazer tempo e decidi corrigir coisas por aqui (e muitas ainda ficam para trás). E apercebi-me que tinha um post antigo sem ser publicado. Sei que já falei desta figura, mas ele é uma figura tão figura que merece um texto centrado só nele...
O Herr R. é dos clientes mais estranhos que temos. Pede diversos jornais que não mostram relação nenhuma (quem trabalha na banca, por exemplo, compra jornais de economia). Depois só quer exemplares bonitos. Oh pá às vezes até molhados vêm... que hei-de fazer?!? É capaz de telefonar às 6h da matina para dizer que só quer os jornais que tiverem o príncipe George na capa (whaaat?!?). Consegue encomendar jornais que não existem. Tirando as milhentas recomendações sobre o modo como devemos guardar, empacotar e o raio os jornais dele. Depois aparece para aí uma vez por semana a buscar as coisas. Alto, muito alto, com alguma barriga, um pêlo de rato desgrenhado na cabeça, um laço folclórico que normalmente não combina com acamisa também folclórica e entalada de forma estranha no cós das calças.
Chega e apresenta-se como se ninguém conhecesse a peça e faz questão de se dobrar para ler os crachás. Depois de uns dez tipos diferentes de salamaleques paga as tralhas e vai-se embora. Tirando as vezes que temos tudo pronto e el vai embora ah tenho comboio, venho amanhã e levo tudo. Quêêêêê?!? Temos tudo pronto e o cromo só tem que pagar e faz-me isso?!?!
Deixa sempre gorjeta. Não costuma ser má. Mas... ele que enfie a gorjeta num certo sítio que eu cá sei. Preferia não receber gorjeta se isso fosse sinal de um cliente com juízo...
No entanto, parece que sou eu a única que não me deixo comprar por uns trocos... toda a gente reclama dele, mas quando ele lhes acena com dois francos... parecem cachorrinhos em frente a um biscoito.
Para mim vale mais a pena outras coisas. Um sorriso, uma palavra agradável. Uma despedida simpática. Acontece-me quase todos os dias. No Domingo um cliente perguntou se tinha estado de férias. Lá lhe expliquei que tinha trabalhado durante várias semanas no turno da tarde. Ah! é que eu senti a sua falta.
Hoje foi ainda mais agradável. Eu já me tinha despedido da senhora. Ela já estava a caminhar para a saída, pára, vira-se de repente e atira-me com um você é muito simpática. Foi tão inesperado que eu até gaguejei para agradecer. Mas... valeu mais do que qualquer nota de 1000 francos...
Por vezes sinto-me frustrada por viver na Suíça e nas condições que são. Não é por viver aqui e assim, é pelo que me trouxe até aqui. Mas já há muito tempo que aprendi a viver sem criar expectativas loucas. O senhor R. é compensadonpelos sorrisos dos outros e pelas saudades que provoco nos outros. E ao fim do dia posso dizer que vou feliz para casa por ter feito o que fiz. Não sou uma DJ conceituada como o van buren, mas acho que sou tão feliz ao vender revistas como ele é a passar música...
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