segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Olhar o passado para perceber o presente?

Já ouvi/li algures que sair de casa é a melhor forma de nos descobrirmos. Pode ser. O que é certo é que depois que saí de Portugal descobri coisas que não sei sobre mim e/ou sobre o meu país. Descobri o que gostaria de saber, mas que não sei como recuperar isso!
Quando era garota, muito antes de ler o Lendas e Narrativas, ouvi a história da Dama de pé de cabra na versão da minha aldeia, que nem sequer tinha esse nome e envolvia um velhote alcoólico que já tinha morrido há uns anos. Só sei que a coisa me impressionou tanto, mas tanto que, ainda hoje, tantos anos passados, me impressiona passar junto ao cruzeiro da minha terra. Nem com a análise profunda a alguns contos recolhidos pelo Herculano, nas aulas de literatura portuguesa na faculdade, em Lisboa, bem longe da aldeia... nem com isso! me passa o medo completamente irracional do sítio. Como este, há mais dois ou três sítios que eu evito, de dia ou de noite, sozinha ou acompanhada.
E apesar desta patetice estas crendices é uma das coisas que eu descobri que gostaria de ter aprendido e não aprendi.
A minha mãe é devota, sem ser beata, é crente, mas não vai em crendices. Isso fez com que as histórias de assustar e as rezas e mesinhas ficassem à porta. Como eu lamento... não tenho avós para me contarem as histórias ao borralho, os vizinhos não estão aí virados e aprender dos livros... além de não haver um livro sobre estas coisas na minha terra... não é a mesma coisa ler em papel e ouvir da voz de uma velhota com um lenço preto apertado debaixo do queixo, junto a uma lareira no Inverno ou à sombra de um pátio no Verão...
Lamento não saber quando se fazem certas coisas que dependem da Lua, como se deseja o bem e o mal, como se invocam os santos e os demónios, como nos protegemos do mau olhado... como e porquê se misturam rituais pagãos e cristãos...

Tudo isto porque um dos rituais que me tem atraído é o Entrudo de cá. Começa em Novembro e acaba em Fevereiro/Março, depende... da Lua! E para mim tem muita relação com os rituais pagãos que existem em Portugal. Não me refiro à Terça-feira Gorda, refiro-me às matrafonas, às bexigas, aos caretos, às arruadas que se vão vendo à solta no Inverno. Posso estar enganada... mas isto está mesmo tudo interligado e vai muito mais além das máscaras de madeira...

E porque me terei eu lembrado do Entrudo hoje?!? Simples: hoje foi o último dia do Entrudo por estas bandas. E eu fiz fotos. E vi muitos caretos... que inveja!!!!!!! Como eu queria ir ali com eles... :s
Alguns, como estes aqui, repetiram-se. Outros eram novidade. E agora que já entendo melhor o alemão e sei procurar e perguntar e tudo e tudo... compreendo melhor o Entrudo, percebo os porquês das datas e vejo a importância de tudo isto na Suíça (pelo menos na parte alemã) e na Alemanha.




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