terça-feira, 6 de agosto de 2013

E se fosse convosco?!?

Esta manhã a minha mãe foi demitida. E não foi demitida por ser incompetente. Foi demitida porque a patroa dela vai morrer no início da próxima semana e o funeral vai ser na Sexta-feira a seguir.
Não, não troquei os tempos verbais, nem fiquei maluquinha. Eu estou a escrever a verdade e com correcção.
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A senhora sofre de uma doença sem cura. Quem olha para ela não vê nada, mas o sofrimento está lá. Bombas de morfina, como as bombas dos diabéticos, que o organismo não aceitou e fez com que ela estivesse muito mal com infecções. Centenas de comprimidos por semana. Internamentos repentinos. Fechada em casa porque não aguenta sair à rua. As veias a secarem de tanto medicamento injectado. Um sofrimento só de pensar. Quanto mais de viver... Por isso ela desistiu de lutar e marcou a sua morte.

Eu compreendo a senhora, pois sempre defendi que ninguém deve ousar criticar uma pessoa que chega a este nível de desespero. Há muito tempo que ela falava nisso e a minha mãe chegava a casa desgastada. Eu disse sempre à minha mãe que compreendia a patroa dela. Pois viver como ela vive não é propriamente viver, que era melhor a minha mãe se ir preparando e aceitando a situação.
No entanto, criada no seio duma sociedade católica, era difícil para a minha mãe aceitar a história toda.

Até que hoje a minha mãe apareceu com a novidade. Por aqui há o suicídio assistido. Oficialmente não se chama eutanásia, mas na prática é o que isso é. Não é aceite em todos os cantões, mas aqui no meu são pelo menos duas as empresas que ajudam as pessoas. Pelo que percebi, o pentobarbital pode ser ingerido em comprimidos ou injectado. Pode-se desistir quando se quiser (embora que, depois de tomar a medicação, acho que é impossível reverter a situação).

Eu sempre concordei com a eutanásia ou suicído assistido ou como queiram chamar. Quem somos nós para obrigar uma pessoa a ficar aqui em sofrimento? Como se pode chamar de cobarde a uma pessoa que se mata? A pessoa está mal deste lado, mas sabe  que cá tem. Do outro... quem sabe?!?!

É uma situação delicada. Eu compreendo e respeito quem não aceita. E apesar deste surrealismo todo (ela encomendou a sua cremação, a pedra que se pode fazer com as cinzas, quem fica com o resto das cinzas...) eu continuo a compreender e aceitar a posição dela.

Mas... por causa deste mesmo surrealismo eu precisava de comentar com leitores que falam a minha língua, que têm uma cultura igual à minha. É que por aqui, das duas uma, ou as pessoas acham tudo tão normal como comprar chocolates numa tarde de Domingo ou não falam do assunto (não sei se é por falta de interesse, se por falta de conhecimento, se por medo, ou se por outro motivo qualquer).

Porque é muito bonito debater o tema nas aulas de psicologia da educação (a minha nota dependeu precisamente deste tema) outra coisa é ter convivido com uma pessoa que tomou uma decisão destas.

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