Como já disse antes, no trabalho eu tento passar despercebida e evito os portugueses. Mas na caixa a coisa é um bocadinho diferente.
Na concorrência há uma mulher portuguesa, com dois sobrenomes que não dão para ser espanhóis, mas ela fala-nos sempre em alemão com sotaque português. Às vezes tenho que morder as bochechas para não me rir à gargalhada, pois o comportamento dela denuncia-a completamente. Então, quando me apercebo que há portugueses na fila, eu falo-lhes na língua de Camões. É um disparate pegado falar em alemão quando eles podem ler o meu crachá!!
Na Quinta estava eu muito bem na caixa quando ouvi uma mãe a apressar o filho. Como o cartão multibanco não funcionava, ela ficou atrapalhada e eu lá lhe disse que não se enervasse com coisa pouca.
Ah fala português. Mas é portuguesa? Não, o meu português 'perfeito' foi aprendido numa semana de férias em Macau. Ah Mas já cá está há muito tempo. Há quase dois meses. Não, refiro-me à Suíça. Perto de cinco anos [fónix!!!! o tempo voa]. E está a trabalhar aqui?!?!? Porquê? Só quem fala alemão suíço de rua e não dá uma para a caixa em alemão de gente é que pode vir para um supermercado? Ou conheces-me há dois segundos e já me achas desqualificada para o serviço?
O problema é que eu cheguei a etsa terra e arregacei as mangas. Fui trabalhando sem deixar a escola de parte. Muitos chegaram e acomodaram-se e agora temem perder as condições de vida que têm. É que a Suíça fechou as fronteiras no dia 1 de Maio para os da União Europeia... Isto não está para brincadeiras! Mas eu ainda não tenho um carro e ela provavelmente tem dois, um na garagem, potente, com mil cavalos, lustroso e que é o que vai à santa terrinha em Agosto e outro pequeno para as voltas do dia a dia. Eu ando a pé e paguei o curso de alemão. Prioridades, simplesmente!
Ah! E é preciso saber falar muito bem alemão para trabalhar aqui? Eles não precisam de gente, nem que seja para limpar? Eu lá lhe expliquei que o nível de alemão ali não é o mais elevado (anda lá um espanhol, que é parente de uma tipa que está na sede, que fala tão bem alemão como eu falo japonês), que estavam a meter sempre gente e que as limpezas são feitas pelos empregados, ou seja, quem entra é para fazer tudo.
E com quem é que eu tenho que falar? Eu disse-lhe que me candidatei pela internet. Recomendei-lhe que fosse ao site e que decidisse se queria usar o formulário electrónico ou se queria madar as coisas por correio.
Ah! Vou fazer isso, vou. Olhe, como é que você se chama? E sem que eu pudesse responder, faz a melhor pergunta de todas: Posso dizer que a conheço?
Mas eu não aprendo MESMO!!!! Por aqui a cunha também existe, chamam-lhe Vitamin B, do verbo beeinflussen (influenciar), passou-se com o tal espanhol, que até me parece boa pessoa, mas... coitadinho nem bom fim-de-semana sabia dizer.
No entanto, em questões de trabalho, o que realmente importa é a recomendação. Há vários tipos: a do antigo patrão, que tem, por lei, que escrever as referências. Um amigo que trabalha na empresa para onde queremos trabalhar. Oh pá ele trabalha bem, vais ver que não te arrependes se o trouxeres para trabalhar connosco... Ou, tal e qual como nos filmes americanos, os nossos amigos escrevem cartas sobre nós para o nosso hipotético futuro patrão.
Seja de que forma for, quem dá a cara por nós, se formos bons, fica a ganhar. Se formos maus, coitado de quem alindou a carta de recomendação. Por este motivo eu não recomendo ninguém. Nem a minha mãe. Vá! Choquem-se todos!!! Mas a minha mãe sabe que eu não a recomendo. E sabe porquê: ela é uma boa trabalhadora, mas já passou os 55. Pode acontecer que perca as forças (esperemos que não!) e se eu a recomendar... ainda me vem alguém ah pois recomendaste a tua mãe velha e sem força só por ser tua mãe... Assim... não recomendo ninguém. Ajudo a preencher papéis, telefono, traduzo, vou às agências. Mas ninguém me ouvirá a recomendar ninguém a não ser a eu mesma!
Se a minha filosofia de vida é esta até com a minha mãe, como é que eu iria recomendar uma pessoa que estava a ver pela primeira vez?!?!? Disse-lhe com as letras todas que não admitia que ela invocasse o meu nome e que não iria fazer recomendação nenhuma.
Depois do fecho da loja, fui ter com o meu chefe e disse-lhe que caso aparecesse alguém a pedir trabalho e usando o meu nome eu não me responsabilizava. Que não conheço ninguém, que não recomendo ninguém...
Olha o descaramento desta gente... se fosse uma pessoa que conheço há muito tempo a pedir-me. Eu iria dizer na mesma que não, mas não ficava incomodada. Agora assim?!?! Não têm noção nenhuma das coisas. E eu continuo a cair na mesma asneira de dar uma oportunidade aos portugueses...
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