Quando assumi as minhas responsabilidades, comecei a organizar ainda mais e melhor as gavetas dos livros de reserva. Comecei a limpar prateleiras com anos de pó, a fazer devoluções graduais de livros muito antigos. Cheguei a criar umas etiquetas para arrumar os livros nas gavetas. Dei-me ao trabalho de fazer etiquetas coloridas e divertidas para não aborrecer ninguém. Plastifiquei-as para não se perderem, sujarem ou rasgarem.
Mas se com o tempo eu me organizava mais, com o tempo o sistema de devoluções/entregas de livros se enrolava mais. Farta de mandar faxes, peguei no telefone e liguei para saber que raio se passava, já que estávamos sem material. Com a conversa, percebi que havia muita coisa lost in translation. Lá me entendi com a mulher e toca de fazer mais umas alterações. Como eu não tive tempo de transmitir a informação a toda a gente e estamos, afinal, na creche, não fizeram circular a informação e no mesmo dia em que fiz mudanças foi tudo desmanchado.
Como não trabalho com toda a gente ao mesmo tempo, resolvi deixar uma folha dentro de uma gaveta. Na gaveta explicava que tinha falado com alguém entendido na matéria e que por causa disso tinha feito umas alterações. Tinha um esquema das possíveis disposições dos livros e pedia por favor que deixassem as coisas assim. Alemão simples, mas educado e agradecido. No dia seguinte chego para arrumar os livros e... ai! chorei de raiva!!! Como se não bastasse os livros não estarem como os tinha deixado (segundo directrizes superiores a mim), a folha que eu tinha escrito estava amassada e rasgada.
Eu sabia quem tinha feito a ofensa. E não fiz nada. A moça veio trabalhar e eu fiz o meu sem discutir. Uma colega minha tomou as minhas mágoas e foi desancá-la. Mas falar para a S. (a perpretadora da ofensa) é o mesmo que falar para uma parede. E eu disse, em espanhol, à minha colega L. que se poupasse ao esforço.
Eu consegui puxar a L. para fora da loja. Fomos beber café e desanuviar. Mas a S. não ousou pedir desculpas ou até explicações sobre a folha que eu tinha escrito.
Na Sexta houve a tal reunião que mudou as nossas vidas. Estamos todos em risco de perder o nosso emprego. E estamos dependentes de boas avaliações no trabalho. E foi aí que a S. percebu que... talvez... tenha cometido suicídio naquele trabalho ao andar a arruinar trabalho bem feito, autorizado por superiores e que visa um único propósito: o lucro da loja.
Hoje veio com o rabinho entre as pernas pedir-me desculpas. Mas bateu na porta errada. Para cabra, cabra e meia. Para criança, criança e meia. Se ela se portou como uma cachopa desmiolada, eu vou-me comportar como uma pirralha da pré-primária e vou fazer queixinhas à "probessora".
Eu vou dizer à chefe que não discuta com ela, porque, com os problemas que a velhota tem, nem compensa enervar-se com o "mimo do caco". Mas também não quero deixar passar em falso, porque até termos a certeza se vamos para a rua ou não ainda vão demorar uns meses e eu, que não quero filhos, não estou para aturar os dos outros...
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