Ontem contaram-me uma anedota. Ou isso ou a minha vida é que se tornou uma anedota com os amigos a tornarem-se palhaços.
Eu não sou dada a muitas e grandes formalidades. Mas já aqui disse várias vezes que gosto de um miminho. Uma mensagem, um postal, uma mensagem de votos de qualquer coisa boa. Mas veio uma amiga (?) contar-me a primeira piadola do ano. Começou com nós não precisamos destas coisas. Eu demorei um bom bocado para perceber o que ela queria dizer. Depois lá se fez luz no meio da escuridão que era aquela frase. Nós não precisamos de desejar votos de felicidades, não precisamos de escrever mensagens. Isso é o que ela me diz. Como eu tantas vezes digo, nós é muita gente e eu pergunto-me se o marido dela se vai contentar a vida toda com ela a nunca lhe dizer que o ama. Pergunto-me se as amigas e os familiares dela acham piada se ela não lhe der notícias, não lhe der os parabéns, não lhe desejar bom ano.
Não é que eu queira que me escrevam em papel de carta com acabamento em linho, mas... não exageremos...
A minha mãe teve que ir a Portugal esta semana e como os preços de avião estavam proibitivos, resolveu regressar de autocarro. Eu estava de folga, fui buscá-la de carro. Enquanto metia o carro para o parque de estacionamento, ria-me da vida e das voltas que ela dá. Hoje era eu a estacionar o carro. Hoje era eu a ir buscar a minha mãe. Hoje eu via centenas de pessoas chegar cá depois de umas férias lá. Hoje não era eu que chegava lá depois de umas férias cá.
Quantos carros eram do N.?!? E o H.? E da empresa G.?! Eu chorei ao ver aquelas pessoas todas carregadas com sacos pesados onde viriam presuntos e azeite novo. Eu chorei ao ver caras ensonadas, costas tortas e um caos de carros que esperavam aquelas pessoas. Hoje pela primeira vez em 20 anos era eu que esperava e via. E apercebi-me que eram muitos. Demasiados. Muitos mais do que antes. Famílias inteiras despejadas naquele terminal que, de tão atafulhado que estava, precisava que uns autocarros saíssem antes de entrarem mais. A empresa N. é a que a minha a família usa há anos. Ainda do tempo em que o proprietário era só um empregado de uma empresa suíça e que fretava um carro do patrão para fazer transportes nestas épocas altas. Agora, só hoje, chegaram 15 autocarros da empresa N. à Suíça. QUINZE! QUINZE! QUINZE! Só desta empresa. Fora todas a outras. Fora os outros dias. Fora os aviões. Fora os carros particulares. Fora as carrinhas (pessoas que transportam encomendas para e de Portugal e que em certas alturas mais fortes também transportam pessoas.). QUINZE!
Ver aquela gente deu-me arrepios. Emocionou-me. Deu-me uma revolta. Um orgulho. Uma impotência. Eu gosto disto aqui. Mas... a nossa casa, a nossa terra... pode-se dar a volta o mundo, mas... em certas alturas, principalmente nestas... é a nossa terra.
Depois voltei a pensar nessa colega de faculdade. Ela, que também esteve fora do seu país, acha que viver fora de casa é fácil?! Que não custa e que para quem está desterrado não é preciso mandar notícias ou desejos de coisas boas?!?! Que mundo revirado é este em que as pessoas tomam toda a gente como certa, como garantida e acha que não precisamos destas coisas?! Ou a questão é mesmo só comigo?!?! Pfiuuu!! Aí a coisa leva-me ao suicídio...
Gostava de saber como se sentiria se fosse ela a esperar a mãe e a ver chegar aquelas centenas de pessoas. Será que iria gostar de levar com um Nós não precisamos destas coisas?
Embora fosse eu quem estivesse à espera, embora estivesse a ver quem chegava, tal e qual como fiz, tantas, demasiadas vezes, na hora da despedida, hoje chorei muito naquela estação de autocarros. Pelos que chegavam, pelos que partiram ontem, por mim.
Seja como for, desejo um ano 2016 esplendoroso a todos os que chegaram, partiram ou ficaram, cá ou lá. Menos à A. porque ela não parece precisar dessas coisas... (Sim, A., repensei bem e depois da [des]carga emocional de hoje, acho que nem os meus desejos de bom ano mereces!)
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