Mas os chanfrados e desumanos não acabam…
Eu não tenho paciência para estar sentada a olhar para o tecto quando não há nada para fazer. E se me aparece um passageiro com muitas perguntas, não me aborrece nada tentar responder a todas. E sempre com um sorriso na cara! No Sábado o meu chefe mandou-me fazer pausa logo que acabasse de atender uns passageiros. Foi um caso um bocado complicado, por isso havia mais perguntas para responder. Isso fez com que eu roubasse o meu tempo de pausa. Ninguém me da nada por isso. Nem eu quero. Mas uma hora de pausa… se eu lhe tirar dez minutos… não morro. Fico mais descansada.
Os senhores já estavam de saída e eu repeti uma informação a pedido deles. Uma colega meteu-se na conversa e estava a dar a informação errada. Disse-lhe que o caso era outro, mas que estava tudo em ordem. Depois de eles irem, ela diz-me tu tens que desligar. Eles que manhem. Eu levantei um pouco a voz. O caso deles era complicado, ninguém estava a espera (ela e outra colega estavam a brincar na internet), portanto não me custava nada gastar mais uns minutos com eles. Que mania… estão agarradas aos telefones e à internet, deixem-me gastar o meu tempo como eu quero…
Fui comer e quando voltei vejo um homem com mais de 50 anos a chorar como um bebé. Essa minha colega aos berros com ele em inglês. Parece-me que no México também se costuma gritar para ver se a pessoa entende a língua que nunca aprendeu a falar. O homem chorava e respondia em italiano. Um senhor da assistência estava desesperado, tentava comunicar com ele mas não conseguia, então perguntou quem é que falava italiano. O meu italiano é miserável, mas naquela situação era o melhor que se podia arranjr. Meti-me na conversa. O homem, mal ouviu o meu italiano macarrónico, serenou consideravelmente. A minha colega passou-se e virou-se para mim tu não precisas ser o anjo dos perdidos e achados, eu faço isto. Eu tremi por dentro. Mas ignorei-a e pedi o telefone da namorada do homem e disse à croma que falasse com a senhora para vir dentro do aeroporto ajudar o senhor desesperado. O senhor é diabético. O desepero dele era não ter medicamentos. Eu compreendo o desespero de perder uma mala. Compreendo o facto de ter a medicação "perdida". Não compreendo é o comportamento da minha colega. Eu bem que fui para casa, tentar esquecer o assunto, mas não me conseguia concentrar. No dia seguinte fui ao aeroporto falar com o chefe.
Elas não ajudam, não ajudam. Problema delas. Consciência delas. Eu faço que for preciso para ajudar. Elas não me podem tratar mal só porque eu sou um coração mole.
O chefe deu-me razão. Deu-lhe nas orelhas. E ela veio pedir desculpa, arranjando três ou quatro pseudo-argumentos para justificar a atitude dela. Eu disse-lhe que não se enervasse com a situação, mas que agradecia que não repetisse a graça. É que eu adoro ajudar, mas não quero reconhecimento por isso.
O que ela não sabe é que está marcada para a vida. Mesmo sendo uma manteiga derretida em algumas situações, sou uma cabra com coração de pedra em muitas outras.. :p
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