A senhora C. é uma alemã muito fofinha que aparece de vez em quando na loja para enviar dinheiro para a Jamaica. Manda coisa pouca de cada vez, quase sempre para o mesmo homem, por vezes para mais um nome ou dois. Na Terça apareceu na loja e eu dirigi-me ao balcão a pensar que não tinha feito o refresh e, logo, não sabia se eu podia fazer o envio de dinheiro. Ela aproximou-se do balcão com o seu sorriso sereno, abriu a mochila e tirou de lá um pequeno pacote.
- Trouxe isto para si. É sempre tão simpática comigo.
Agradeci imenso, mas na hora nem vi o que era. Mais tarde abri o saco e vi que ela tinha trazido aquilo para mim, sim, mas das Caraíbas. Fónix!!!! Quem é pessoa que vai de férias e se lembra da vendedora que vê de vez em quando?!? Só uma pessoa muito especial se lembraria disso. Eu senti-me muito feliz, muito orgulhosa de mim, mas ao mesmo tempo bem pequenina.
Ontem também foi dia de me sentir pequenina. Mas um pequenino bem diferente.
Andavam há já uns tempos a falar em mudança de gestão da loja. Andava tudo em pânico!!! Eu, farta de os ouvir, dizia que o pior que poderia acontecer era sermos todos despedidos e irmos parar ao fundo de desemprego. Ontem foi dia de falar com o futuro chefe. O mesmo ordenado [de miséria]. Vinte horas semanais. Até aqui tudo bem. Quando perguntei se poderia ter dois dias fixos de folga para arranjar um segundo trabalho [coisa que tinha tido quando comecei a trabalhar lá]. Ah não. Tem que estar disponível o tempo todo.
Ou seja: reduziam-me o horário, mas eu tinha que estar em casa à espera que alguém ficasse doente para eu poder ganhar mais umas horas extra.
Então paramos a conversa já aqui. Disse eu, minutos depois de eu ter dito que adoro, amo de paixão aquele trabalho. Esta gente pensa o quê? 1600 francos seria o que eu iria ganhar. Pago 1100 de renda de casa... depois ia para a porta da igreja pedir para comer... Esta gente bebe ou fuma coisas estranhas ou quê?!?!
Se eles me tivessem deixado trabalhar dois dias noutro sítio eu poderia aguentar com menos. Mas 20 horas... é menos de 50% de uma semana laboral (aqui normalmente as semanas de trabalho são de 42 horas, ou mais!). E depois... que fazia eu no resto dos dias? Segundo trabalho estava fora de questão. Arranjar hobbies é bonito, mas para isso é preciso dinheiro e voltamos ao início da questão. Fartei-me de chorar. Mas no fim de lavar a alma comecei a preparar-me... já dei uma espreitadela a alguns trabalhos e agora é começar a procurar de forma mesmo activa e mandar aquela gente à fava...
Tenho a certeza que eles vão perder (pelos menos três já se despediram pelos mesmos motivos). É que ali é preciso saber línguas, ter estaleca e, por vezes, algum descarmento. Mas ao mesmo tempo saber lidar com gente complicada, ter paciência e um belo sorriso para quem está a precisar. E... com tantos cortes e exigências... duvido que quem vier de novo consiga acompanhar o ritmo louco da loja e apaparicar os desejos dos clientes regulares que deixam lá montes de dinheiro...
Eu acho que o novo chefe não sabe onde se está a enfiar e quando vir... vai ser tarde demais para voltar atrás. Quando isso acontecer, vou-me rir... e eles vão ver que afinal eu até sou grande!
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