quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Do princípio da boa educação

Há dias estive na tugolândia e a minha Maria meteu-me numa enrascada. Como ela não podia ir, pediu-me que fosse representá-la numa exposição de trabalhos manuais. Ela há-de pagar com juros a seca que apanhei numa coisa onde eu nunca tinha posto os pés e onde não pretendo voltar.

Eu ia mais do que consciente que não ia vender nada. Os artigos são caros (materiais e horas de trabalho!) e a crise... essa desculpa serve para tudo até para gabar os trapos da minha Maria, mas seguirem em frente. Eu estava a dividir a barraca com alguém que tinha objectos utilitários e, por isso, teve mais sorte no negócio. Assim, na minha barraca havia sempre algum movimento.

No entanto, era eu a que mais tempo passava na barraca (eu já disse que a minha mãe mas paga?!?!) e, por isso, tinha mais tempo para apreciar as pessoas que por ali passavam.

PrimeiroS: as pessoas não estão deprimidas. Simplesmente estão preguiçosas para encontrar qualquer coisa de interessante. Passavam amorfas, sem vida nos olhos, mãos enfiadas nos bolsos, sem ânimo. Mas não é sem ânimo porque desanimaram. É sem ânimo porque se acomodaram a ser para baixo.

Ai  isso deixou-me deprimida! Se a minha vida é uma telenovela-mexicana-do-mais-reles-e-barata-possível e eu mesmo assim ainda me tento surpreender com algo todos os dias... por que raio não fazem o mesmo as outras pessoas? E se não querem animar, estão no seu direito. Mas ao menos que não saiam de casa para não desmotivar os outros!!!

SegundoSS. Onde é que anda a boa educação dos portugueses?!?!?!?
Eu, sentada ou em pé, na frente ou dentro da barraca, lá ia sorrindo às pessoas e dizendo boa tarde ou boa noite. Poucos, muito poucos, muitíssimo pouquíssimos me responderam. Alguns dos que não me responderam ainda tinham a coragem de olhar para mim como se eu tivesse um terceiro olho na testa.

Isso já me deixou transtornada!!!

TerceiroSSS: comentei com algumas pessoas o facto de achar que as pessoas estão mais carrancudas, que não respondem a um cumprimento muito simples. Sabem a resposta? Não digas nada. Hã?!?!? Eu sabia que não ia vender, mas... quem quer vender deve, no mínimo, fazer uma saudação a quem passa. Eu não vendia (mesmo sem esse objectivo) mas um cumprimento ainda não paga imposto...

Aí já fiquei... alucinada!!!

Agora compreendo um senhor na tabacaria junto ao Luanda aí há uns 10 anos... eu entrei e cumprimentei. Não me esquece, era manhã de Domingo de Ramos. Eu tinha ido comprar o jornal que era para ler no avião, pois daí a umas horas iria embarcar para vir de férias para a Suíça. Lembro-me que estava já algum calor e que eu estava com uma camisola de mangas cavas, de algodão canelado, azul, igual à que tenho vestida neste preciso momento (esta é vermelha). Recordo esse dia de forma tão clara por causa desse tal senhor. Depois de eu cumprimentar os presentes, o vendedor e o tal senhor, de cabelo grisalho, alto, com aura (aquelas pessoas com boa formação e de famílias endinheiradas, mas que são humildes), senti-me deveras desconfortável. O senhor da aura não parava de olhar para mim. Apercebendo-se do meu desconforto pediu-me desculpas e explicou-se. Desculpe estar a olhar para si desta forma, menina. Mas hoje em dia já ninguém cumprimenta.

Na altura ri-me (para dentro) do que ele disse. Achei um exagero, mas nunca esqueci a cara de espanto e as palavras dele. Caramba! O homem tinha razão. A diferença é que eu disse ao senhor, meio acabrunhada, ah eu costumo ser sempre assim e hoje dizem-me não digas também...  

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