De tanto em tanto tempo tenho que me enfiar dentro de uma máquina de ressonância magnética para ver se os ratos já me comeram mais alguma parte do cérebro. Como a esclerose também pode atacar a coluna, tenho eu fazer sempre duas ressonâncias.
Como eu não tenho pachorra para ir ao hospital duas vezes, faço tudo de seguida. Cerca de hora e meia sem me mexer. Não é muito mau. O pior é quando a cabeça começa doer de estar a "pisar" sempre no mesmo sítio.
Para quem pensa que aquilo é como nos filmes em que o paciente tem uma conversa filosófica com o médico... desengane-se. É um nicho, leva-se com uma grade por cima da cara e barulho... quanto haja! Parece que estão a fazer remodelações debaixo da nossa cabeça.
Para minimizar o desconforto provocado pelo barulho, lá no hospital dão-nos uns auscultadores e colocam-nos música. Há momentos em que não se ouve nada. Mas a maior parte do tempo dá para se ouvir alguma coisita. Hoje fiquei a saber que na Áustria parece que é neve com força, com populações isoladas e tudo...
Houve um momento em que os radialistas faziam piadas sobre o que as músicas por vezes parecem e o que na realidade são. Como o martelo pneumático recomeçou a fazer barulho, acabei por não perceber onde estava a piada com a palavra zombie (há piadas que só se percebem se for em alemão e depois com a barulheira...). E decidiram-se a colocar a música.
No primeiro momento fiquei triste. Esta música lembra-me muitas coisas de há muitos anos. Depois fiquei ainda mais triste porque o tempo passou e levou a que tenha a necessidade de me enfiar em máquinas de ressonância magnética. Mas depois... fixei-me no refrão e fiz a minha própria leitura. Oh pá... e não é que eu tenho mesmo zombies na cabeça. Se não fosse isso a minha mielina não andava a desaparecer.
Bem!!!... deu-me uma vontade de rir tão grande, mas tão grande, que eu não sabia o que fazer. Eu ali, fechada, sem me poder mexer e os zombies a dançarem-me na cabeça e eu a querer rir e os zombies e eu a querer rir...
Pronto... um dos sintomas que a doença não tem progredido muito rapidamente é mesmo este: eu lembro-me destas cenas e rio-me (ou pelo menos tenho vontade).
The Cranberries, Zombie
2 comentários:
Volto aqui, depois de tanto tempo, e deparo-me com uma situação destas... Não gosto!
Abraço
Luísa Moreira
Olá, Luísa!
Fico feliz por a ver de novo por estes lados. Já me tinha perguntado o que seria feito da minha chará. :)
Bem, é um facto que esclerose múltipla não é a melhor situação do mundo, mas podia ser pior e eu só tenho que pensar positivo.
Fazer humor negro (ou pelo menos parvo) com a situação é uma forma de aliviar a tensão. Nem toda a gente acha piada, mas eu faço só com os meus ratos internos. Conheço um homem que tem esclerose múltipla e não lida com a situação, mente à família sobre a doença (a mãe pensa que ele tem artrite ou reumatismo ou algo assim!) e depois embebeda-se. Só quando está com os copos é que fala do assunto.
Sinceramente, prefiro brincar com os meus zombies. :)
Abraço
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