O que eu vou contar parece tirado de uma comédia de mau gosto. Mas eu juro por tudo o que queiram que é verdade.
De manhã, pouco depois de um certo avião partir telefonaram para os perdidos e achados. Como não havia muito que fazer, achei que não faria mal atender.
Uma senhora, alemão correcto, voz doce a cair para o insegura, educada e meiga. Queria saber onde podia ir buscar as malas do namorado que tinha perdido o vôo que o levaria a outra cidade de onde partiria para África.
Eu não sei se eram os nervos, se era a ligação telefónica ou se a senhora era simplesmente lerda. Só sei que tive que repetir várias vezes a mesma informação. Eu já estava a ficar entediada, mas estava também a preparar-me para repetir. Uma vez mais...
Quando não vejo, num repente, a mão da minha colega de trabalho a voar por cima do telefone e a desligar-me o telefone.
Sim. Juro que isto me aconteceu hoje.
Se eu tivesse a falta de controlo que eu tinha na adolescência, eu não estaria aqui a contar isto. Estaria detida nalgum sítio porque aquela grande cabra estaria no hospital a recuperar de um coma. Porque, pela primeira vez na vida, uma pessoa despertou em mim a vontade de bater, bater, bater, bater até ficar com as minhas mãos em ferida. Pela primeira vez na vida alguém despertou em mim uma coisa realmente assustadora. E feia. Nunca me tinha sentido assim!
Ao mesmo tempo, deixou-me tiste. Muito triste. Que mundo de merda é este? Vale mesmo a pena estar nele?!
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