Eu tento fazer uma estatística para perceber quando há mais cromos à solta, se durante a semana se ao fim-de-semana. Mas... eles são tantos que ainda não cheguei a nenhuma conclusão...
Ora veja-se... hoje fui ameaçada por uns loucos que iam fazer queixa sei lá onde por causa dos preços em euros e em francos. Por mim podem ameaçar, podem mesmo fazer a queixa que a mim... dá-me igual. Eu não sou dona da loja...
Na Quinta ou na Sexta aconteceu uma coisa sinistra. Aparece-me um gajo com uma pá gigante na mão. Para onde vai o coveiro?!?!, pensei eu. Entretanto ele vira-se e eu vejo uma picareta enoooorme pendurada na mochila. Confesso que me vieram duas ou três ideias de filme de terror à cabeça!!!
Mas isto não é o pior. Pior é quando os clientes têm um défice qualquer. Um défice de inteligência, um défice emocional... estas pessoas têm que ser tratadas com cuidado. Não que eu seja obrigada pela empresa, mas a moral ainda vive dentro de mim!!!!
Pois bem, como eu penso assim, tento tratar as pessoas com carinho, educação e paciência que a situação exige. Escuto-lhes os lamentos (embora por vezes não entenda uma palavra do que dizem), tento dar uma palavra de alento e sorrio sempre. Que faz isso?!?! Atraio-os todos para mim (há um cliente que se recusa a ser atendido por outra pessoa, se me vir na loja). E pronto... lá dou eu por mim a explicar a diferença de pastilhas elásticas que não têm nada de especial, a ir buscar revistas que vão ficar na loja, apanhar moedas e documentos que eles perdem com facilidade.
E na vez seguinte... eles voltam. E eu volto a fazer tuuuuudinho igual, a ouvir as mesmas piadas sem graça e por aí fora (eu gostava de saber de onde vem tanta pachorra!!!). Sempre sem perder a pose.
Só que há duas semanas... perdi a compostura toda. E é uma situação que ainda me faz rir a bandeiras despregadas, mas ao mesmo tempo que me faz doer a consciência....
Uma senhora, já acima dos 60 anos, magrinha, muito branca, com uns óculos fundo de garrafa, que veste cores claras para se animar (palavras dela, num outro dia), batom esborratado, com uma voz fina, com um falar infantil e uma carência afectiva que a precede.
E eu com a minha paciência infinita.
- Sabe a diferença entre estas pastilhas? - Eu acho que é só uma questão de serem com mentol mais forte. (e acho mesmo!!!)
- Mas não acha que estas são melhores para os dentes?!?! É que nestas não diz teeth. - Pois, não sei!
- Mas... e daí vieram mais quinhentas perguntas a que eu não sabia responder, até que se decidiu pelas dos teeth.
Só que a mulher continuava insatisfeita... ela sentia necessidade de me explicar o porquê da compra. -É que... sabe... eu não lavei os dentes.
Pronto... explodi! Mesmo com um esforço astronómico, usando todas as técnicas que sempre resultaram comigo no controlo do riso... NADA funcionou.
Eu evitei olhar para a minha chefe. Porque aí eram duas a rir.
Eu tentei, tentei, mas a mulher, apesar de estranha, não é completamente parva. Percebeu que eu me estava a rir dela e daí houve mais um mote para ela lamentar não sei o quê. É que não sei mesmo. Além de não a entender a 100% eu estava a tentar concentrar-me em tudo menos na mulher...
E pronto... ao fim de tantos anos a trabalhar com público eu desmanchei-me. E... pá!!!! É muito mau, coitada da senhora, mas... é tão bom recordar a seriedade dela a informar-me que não tinha lavado os dentes...
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