sábado, 19 de setembro de 2009

O casaco rosa



















A história que vou contar está quase a fazer 3 anos e é uma espécie de resposta a parte do comentário da Ângela que se pode ver aqui

Nota introdutória para quem nunca me viu, mas passa por aqui: eu gosto de ser prática a vestir, jeans, top, chinelos ou ténis e pronto. Mas normalmente são calças de ganga a cair aos bocados, t-shirt sobre t-shirt com top, mais não sei o quê, numa amálgama de cores e formas acrescentando fitas coloridas, unhas pintadas e unhas por pintar, ou então uma de cada cor... Tenho um brinco que é uma argola que já comprei há muito anos aqui na Suíça e ela vai saltando de uma orelha para a outra para não fechar o buraco, na orelha "vazia" podem surgir brincos com formas estranhas, como aranhas. Normalmente as minhas malas são grandes, sempre cheias de tralha e lixo (lenços de papel amarfanhados, mas por usar, sedas de rebuçados, bilhetinhos). Não tenho vergonha se ser como sou. Ando sempre limpinha e não peço nada a ninguém!

Eu, a S. e o R. éramos colegas de faculdade e fazíamos os trabalhos de grupo sempre juntos. Depois de termos estado a trabalhar num final de dia de Dezembro sei que demos uma volta por Alvalade e passámos na Avenida das Farmácias, peço perdão, na Avenida da Igreja. Numa loja estava um casaco espetacular. Era de um corte completamente clássico, num rosa choque que dava para ver do espaço, com uns botões enormes, parecia que tinham sido tirados de um fato de um palhaço. Passei de relance, mas depois voltei para trás para ver o preço. Como faltavam poucos dias para o Natal pensei que o Menino Jesus, o Pai Natal ou mesmo os meus pais pudessem ser simpáticos. Voltei decepcionada, era demasiado caro para o meu gosto.
Eles viraram-se logo: "Tu nunca usarias aquilo!". Eu pensei que fosse por causa da cor, pensei que eles achassem a cor demasiado berrante até para mim. Mas não, eles achavam-me incapaz de usar um corte clássico. Ui! Foi uma discussão daquelas. E eu só dizia: "Eu tenho um casaco clássico. Não usarei aquele casaco só porque é muito caro!". E aqui d'el rei que não, que eu jamais usaria um corte clássico.
Resultado, uns dias depois apareci na faculdade com um casaco de corte clássico que eu já tinha arrumado a um canto de tão puído que estava (e tive uma pena de o deitar fora, mas 6 Invernos a usá-lo todos os dias!!). O R. só se virou para a S. e disse: "Olha! Ela tem mesmo um casaco de corte clássico!!". Eu não disse nada. Conheço-me suficientemente bem para saber que se abrisse a boca ia dar mais peixeirada e para mim bastava-me ter razão!

Na definição do meu irmão, eu sou uma normal anormal. Ele quer dizer que eu sou uma normal porque não me integro num grupo específico como o dos betos ou dos metaleiros ou dos punks, mas, ao mesmo tempo, destaco-me desse grupo de pessoas que não se enquadram num estilo próprio. Resultado, tenho um estilo próprio sem fazer nada de especial. E por assim ser, há pessoas que me acham incapaz de ser elegante. Confesso que prefiro o meu estilo normal/anormal que nunca copiei de ninguém, mas juro que também acho piada a um fato de saia travada ou mesmo um "calça e casaco", só é preciso ter a vida e o corpo adequados a tais trajes. Estão a ver-me a andar de saia travada no 44 em hora de ponta? Havia de ser lindo! E depois... quem lavava e passava?? Ou agora que não tenho problema com os transportes... devia ser giro eu ir para as estufas de saia travada... talvez desse resultado com a trotineta...

Isto para chegar onde?
Nós, por vezes (a maior parte), não conhecemos as pessoas como pensamos que conhecemos. Julgamos (entenda-se também como "avaliamos") muito os outros. Podemos não julgar de forma consciente, mas julgamos. Somos humanos, julgamos todos os dias quase tudo o que nos rodeia. Resta saber se nos conseguimos soltar desses julgamentos ou se nos deixamos levar por primeiras impressões, por ideias pré-concebidas ou outra coisa qualquer...



Ângela, no teu comentário lamentavas não termos tido mais contacto. Não lamentes. O leite já está no chão. Se agora eu te pareço uma coisa diferente de quando andámos na faculdade, garanto-te que alguma das impressões está errada (podendo mesmo estar as duas!!). Não mudei muito e o pouco que mudei foi para pior (acho que estou mais arrogante do que era!!).
O que se pode fazer é olhar para a frente porque atrás vem gente! Se não contactámos antes, contactamos agora. A Internet tem a capacidade de juntar quem está longe! ;)

Quanto ao casacos clássicos... comprei um no Inverno passado. Em tweed. Agora quanto ao rosa... já não sei o que fazer. Vi um num rosa escuro e o mesmo modelo em roxo. Que faço? Eu gosto das duas hipóteses (quase no fim deste slideshow aparecem duas moças com um "Mantel" por 99fr, é giro não é! Agora a cor?!?)...
Surpreendente foi a compra que eu fiz há duas semanas, comprei um casaco de algodão (tipo fato de treino) verde. Verde, mesmo verde... A ideia era ele ser para o trabalho, mas não me consigo soltar dele. Isso sim, é que é de espantar. Até a mim me deixa de boca aberta quando o visto!

2 comentários:

Ângela Mendes disse...

Ana!! Nunca na vida fui de julgar ninguém. absoutamente ninguém.e toda a gente me conhece por ser amiga de dezenas de pessoas diferentes. jamais me passria pela cabeça juntar todos os meus amigos porque eles vão de betos a ciganos e eu ADORO-OS da mesma maneira.
num ponto tu tens razão, comunicamos agora. estamos póximas agora. e se antes não aconteceu é porque não tinha de acontecer!! daqui para a frente, é até haver sol:)
Baci tanti

Luísa disse...

Não confundas julgar com condenar. E o casaco, apesar da história ser real, é uma alegoria, nada tem a ver com estilos e modas. Se tu dizes: "agora, infelizmente, sei..." é porque algo mudou entre o antes e o agora. Algo foi avaliado, pesado numa balança, julgado. Eu digo no post que muitas vezes é inconsciente e é mesmo, tenho 100% de certeza disso. Se não houvesse uma avaliação, um julgamento, nunca acharias que as coisas são diferentes.
Não digo que foi um julgamento deliberado, mas que houve, houve.
Enquanto houver Sol, mas quando a Lua vier também há luz! Parafraseando um inimigo mortal, o que interessa é que não sejamos pequenos de alma!
BEIJÕES aí para o Sul ;)