sexta-feira, 23 de abril de 2021

A minha empresa favorita

 Eu não sei se algum dia falei da minha empresa favorita na Suíça. Mas um e-mail de uma colega fez com que tivesse vontade de escrever sobre a minha empresa favorita e dar-lhe um destaque maior em tempos de pandemia.
Qual é minha empresa favorita? Die Post, que é como quem diz A Posta, que é como quem diz Os Correios.

Desde sempre que gosto dos correios aqui. Os motivos são muitos e variados. Vou elencar alguns:

- podemos fazer os pagamentos de todas as contas e ainda carregar o telemóvel e comprar a vinheta da autoestrada e comprar material escolar e jogar no euromilhões e comprar a lotaria...; 

- também podem ser banco, assim, posso ir pagar as contas e ver o saldo da conta ao mesmo tempo (literalmente, não é preciso fazer duas transacções);

- têm uma rede grande de balcões e horários alargados que também variam de local para local, mas o geral é trabalharem de Segunda a Sexta entre as 7h30 e as 18h30 e ao Sábado entre as 08h e as 12h (claro que depois há os correios em pontos estratégicos que trabalham ao Sábado de tarde e um balcão no aeroporto e outro no centro de Zurique onde trabalham também ao Domingo e têm horários que vão até mais tarde); 

- ainda têm o serviço de transportes da Mala Posta... ok! ok! não são cavalos e carruagens, mas é o Postauto.  Os correios têm uma rede nacional de transporte em autocarro, que se distingue das redes de autocarros das diversas cidades, por causa da cor (todos amarelos, a cor dos correios cá) e serve as zonas de periferia/aldeia. têm autocarros articulados para zonas mais povoadas, da mesma forma que têm pequenos shuttles para zonas menos povoadas ou de difícil acesso. Não chamar bus ao Postauto, porque o bus é referente às redes de transportes das cidades, não é para confundir!!!! :)

- entregam o correio de manhã, talvez em meios maiores entreguem de tarde, mas na minha cidade, com 110 mil habitantes, as cartas são entregues até às 13h mais ou menos (isto em tempo de pandemia, que têm tido mais trabalho e menos trabalhadores). Uma curiosidade: antigamente (não muito antigamente) o carteiro passava duas vezes e também levava as cartas das pessoas (a dita volta do correio). Os clientes só tinham que deixar uma tabuleta na caixa do correio e eles levantavam aquilo (hei-de ter uma tabuleta dessas algures);

- têm marcos do correio em quase todos os cantos; não sei se há uma regra de metros entre caixas de correio, mas aqui... é super fácil encontrar uma. Apesar de eu morar a menos de 250 metros dos correios mais próximos, na estação de comboio aqui em frente (20metros, mais ou menos) há um marco do correio.


Mas o que me levou a querer escrever sobre esta empresa magnífica foi a questão da pandemia e como as coisas estão a funcionar.
Eu enviei um postal à minha amiga e ela agradeceu, mas comentou que não sabia como eu tinha coragem para ir para a porta dos correios. tenho que confessar, há uns anos que me habituei a comprar selos on-line. Eu comprava os de colecção e já que estava "pegada", comprava os normais. Entretanto deixei a filatelia, mas acabo por continuar a comprar os selos do mesmo modo. Deste modo, posso mandar postais a toda a gente sem ter que ir aos correios.

No entanto, ir aos correios não me causa aflição...

Aqui junto a minha casa, os correios são pequenos, pois são só para a freguesia (acho que cada freguesia da cidade tem um balcão "pequeno" e depois há a estação correios principal que é... bem grande!), mas têm pelo menos dois balcões em funcionamento (em tempo de pandemia, tempo normal pode ir até quatro).
Como é "pequeno", não têm o serviço de senhas a funcionar. Colocaram uma placa com o número de pessoas que podem estar dentro das instalações e... o pessoal respeita!  

Mas vamos ser francos... o que faz com que não assuste ir aos correios é que eles funcionam como antes. Como não há redução de horários, as pessoas continuam a fazer como antes: a dona de cassa vai aos correios de manhã, o homem das obras passa lá na hora de almoço, o professor ao fim da tarde, a empregada de limpeza no sábado de manhã... Ou seja, as pessoas não se concentram por causa da redução de horários porque isso simplesmente não existe. 

Como de cinco em cinco anos tenho que apresentar um registo criminal no trabalho, hoje fui aos correios encomendar um e saí de lá num instante sem ter tido ninguém muito próximo de mim, sem ter esperado tempos infinitos. Funcionamento normal, ao estilo pré-pandemia. Portugal devia aprender qualquer coisa.
Sim... eu encomendei um registo criminal nos correios. Dei os dados, ela imprimiu a requisição, eu vi se estava tudo bem e assinei. Paguei 20 francos e no final da próxima semana deve chegar cá a casa. Como é que é em Portugal? (pergunta retórica!)

Sim... eu repito... adoro os correios e Portugal podia aprender umas coisas... 

Eu acho que também já publiquei esta foto. É no Ticino, mais precisamente em Carona (fotografada em tempo de corona :D) e é prova que o Postauto passa por muitos 'apertos'...

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Somos todos iguais. Que ninguém duvide!

 O K. morreu há coisa de duas semanas. Um ataque cardíaco retirou a vida a um homem de cerca de 40 anos. Era um tranquilo. Olhar para ele trazia-me paz. Foi com ele que eu sobrevivi  a uma secção de check-in. Um choque para toda a gente.

Hoje tivemos uma cerimónia de despedida (ele é alemão, o funeral dele será em Maio na terra dele). 
Numa igreja de Kloten (onde realmente fica o aeroporto de Zurique). Os conselheiros da alma (tradução livre) do aeroporto souberam trazer as palavras certas para todos nós.

Entre músicas do Michael Jackson cantadas de forma divina por uma colega nossa, eu fui olhando para a assistência. Dentro da casa de Deus dos católicos, estavam sentados católicos, reformistas, muçulmanos, hindus e alguns alérgicos à cera, que é a forma que a minha mãe usa para me designar como não crente. Havia suíços "originais", suíços de passaporte adquirido. Havia um tunisino louro e uma marroquina com lenço na cabeça (detalhe, ela não usa lenço no seu dia a dia, era a forma dela mostrar o respeito dela). Havia asiáticos e brasileiros. Uma cubana, duas portuguesas e não sei quantos da zona dos Balcãs. Negros, brancos, mestiços. 

Naquele momento que nos entristeceu, a minha alma sorriu, pois ainda é possível que nos respeitemos apesar das nossas diferenças. 

Descansa em paz, K.. Eu espero que nós por cá também a tenhamos. 

sábado, 3 de abril de 2021

Ideias peregrinas...

De Zurique saem vários aviões para as mesmas cidades, europeias e não só. 
Por exemplo, para Lisboa são três companhias. Para Londres outras três, mas depois a mesma companhia já pode viajar para dois aeroportos diferentes. Várias vezes ao dia. (ok, as coisas estão um bocadinho diferentes agora, mas ainda há cidades a receber diferentes companhias, mesmo que não seja diariamente).

É muito comum termos passageiros na nossa porta de embarque à espera para embarcar e afinal não é aquele avião. Às vezes, quando nos faltam passageiros, ligamos para a porta da outra companhia, para ver se os nossos estão perdidos por lá e vice-versa.

No entanto, o que se passou esta semana foi para lá de surreal.

Uma moça aproxima-se a perguntar se posso fazer o check-in só da bagagem. 
OBVIAMENTE QUE NÃO! Não gritei, mas a minha voz alterou-se um bocado, ficou ali entre o indignado e o espantado...

Uma mala nunca viaja sem passageiro. E muito pior se o passageiro não tiver um bilhete para aquele vôo.

- Ah, sabe... é que o check-in está fechado. E eu não posso fazer o check-in da mala.

Eu fico baralhada, falta uma hora para fecharmos... Mas ela lá explica:

- Eu tenho o check-in feito, na companhia X. Mas já fechou. E como vocês estão a fazer check-in para a cidade Y... Podia ser que pudessem fazer o embarque da mala.

Sim, embarcar uma mala sem passageiro. Ainda por cima da concorrência. Deves, deves...

E prontossss... a parte boa da máscara é que nós podemos rir-nos e o pessoal nem se apercebe... Porque esta foi a coisa mais parva dos últimos tempos.

Ok, ok... Eu não sou má por completo. Apesar de me ter rido dela, tentei encontrar uma ajuda para a situação dela. Enviei-a para um escritório que despacha encomendas para outros países (equipamento muito grande, muito pesado ou de cuidados especiais, como uma bicicleta eléctrica). Se conseguiu ou não, se pagou uma pipa de massa ou não... nem quero saber... ela é da CONCORRÊNCIA... que se amanhe com eles e não ande a fazer propostas indecentes!