terça-feira, 8 de setembro de 2009

Aqui, do céu só cai chuva e neve...

















"Ah! Porque estás rica!" é conversa parva que toda a gente tem com um emigrante qualquer e comigo também. Eu não estou rica, mas posso dizer que ganho mais que ganharia em Portugal. Isso não é segredo nenhum. Mas... é preciso fazer umas certas coisitas. Aqui fica o meu dia:

. Levantar às 6h15;
. correr para apanhar o comboio às 6h44 (o comboio parte mesmo a esta hora!);
. sair do comboio e esperar pelo bus que parte às 7h06;
. fazer uma viagem de autocarro com duração de 35 minutos;
. ir a pé até ao trabalho;
. trocar de roupa, ah! não esquecer de calçar as botifarras "quase de militar";
. trabalhar duro (não interessa se estão 40 graus à sombra ou se estão 20 negativos ao Sol) até à hora que acabar, no mínimo (coisa rara!) é às 17h, mas também pode acabar às 23h (há uma pausa de 15 min. de manhã, 1 hora para almoço e uma pausa de 10 min. à tarde);
. depois de trocar a roupa (quase sempre molhada, sempre suja), ir a pé até à paragem, com sorte espero 5 minutos, com azar espero 25 (o bus ali só passa de meia em meia hora);
. 35 minutos de viagem e rezar para conseguir apanhar um comboio, se assim for são mais 7 minutos até casa, se não... são 20 (em média são as 20h quando chego a casa, mais de 12h fora de casa);
. coisas básicas como banho, comer, arrumar o saco para o dia seguinte;
. outro tipo de coisas básicas como ler os mails e responder a algum que apareça, ler as notícias e ver qualquer coisa para me distrair (também mereço);
. são as 23h e está na hora de dormir!!!

Adendas:
. à sexta feira acabo sempre às 17h independentemente do serviço estar feito ou não, pois tenho mais 3h30 nooutro local de trabalho;
. quase todos os sábados me pedem para fazer 4 horas de manhã;
. em tempo de aulas tenho os TPCs para fazer.

Eu sei que há mais gente assim, tanto cá como em Portugal, e não me estou a queixar!!! Eu faço porque quero e porque gosto. Não quero que tenham pena de mim. Mas irritam-me as insinuações sobre quanto a minha conta bancária pode ter. Eu ganho mais do que em Portugal, mas preciso de trabalhar muito e não ganho assim tãããão bem. Só para terem uma noção, se eu não vivesse com os meus pais, não me conseguiria sustentar com o que ganho. Não, não estou a fazer charme, é mesmo verdade.


Aqui, doce, só mesmo o chocolate!

5 comentários:

Ângela Mendes disse...

eu já não aguento esse discurso de que o emigrante ganha e ganha e ganha....e que a conta bancária cresceu. e não como? e não durmo?e não tomo café? e não compro roupa? e livros? e vou a Portugal a pé.... não há paciência. eu volto mais pobre do que cheguei, mas a minha riqueza reside noutro sitio (que tu também conheces):)

Luísa disse...

Oh! E mesmo que tivesse uma conta recheada?? O pesosal esquece-se que além do trabalho que se tem (volto a dizer: Aqui não há pão para malucos!!) e o resto da vida??
Muito boa gente prefere estar em casa no desemprego porque não tem coragem de deixar o que conhece, não seria capaz de sobreviver uma semana sem a mamã e por aí fora.
Eu deixei os amigos (se é que os tinho), deixei a minha língua, a minha cultura, as coisas que conhecia e vim... se tiver a conta recheada... até que mereço uma recompensa e já que o Robbie Williams não me conhece...

Ângela Mendes disse...

pensa que quem ganha és tu. esses jamais saberão a cor da liberdade.

Luisa disse...

Luísa,

A inveja, vem de pessoas tristes e, cinzentas. Todo o trabalho, deve ser pago, bem pago.

Abraço e, boa semana

Luísa disse...

Olá Luisa!
Obrigada pelas palavras. Uma boa semana para si também.

Luísa

PS. Já vi que regressou de férias e que tem pelo seu cantinho um lindo pôr do Sol. ;)