segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Dos signos da vida

Não sei precisar o dia ou mesmo o mês, mas faz este Verão vinte anos que viajei para a Suíça pela primeira vez. Uma euforia. A família toda no autocarro cheio de emigrantes, filhos e avós de emigrantes. Que aventura para dois garotos que só tinham ido à fronteira comprar caramelos.

O regresso já não teve tanta piada. Não era a primeira vez que nos despedíamos dos meus pais. Mas era a primeira que éramos nós a deixá-lospara trás e não o contrário. Depois da primeira vieram muitas mais.
Apanhar o autocarro em Viseu por volta da hora de almoço de Sábado e chegar no Domingo pela meia tarde. Ou entrar no autocarro em Zurique de manhã cedo para só chegar a casa no dia seguinte de tarde.
Se nas primeiras viagens só custou a despedida, com o tempo as despedidas eram o que menos custava.
Os corpos crescidos e impacientes de dois adolescentes que têm que percorrer 2000km em pouco mais de 24 horas apertados dentro de um autocarro... insuporável.
Mas mesmo assim ainda não era isso. O que pesava mais do que a bagagem, desde sempre, era a falta de raízes. E se há algo que custa mesmo a suportar é o facto de não estarmos presos a lado nenhum. por muito que se goste de viajar, toda a gente sabe que o melhor é mesmo chegar a casa. Mas... where is home?
Nao me venham com Pessoa. Experimentem viver só com a máxima da casa ser a língua a ver se conseguem....

Ou seja, há 20 anos que começaram os sentimentos mais difíceis de explicar (não se iludam, o amor é simples de explicar em comparação a este de não-pertença).

E veio-me tudo à memória. O engulho que me dava antes de entrar no autocarro. Um enjoo, uma agonia. Um nervoso miudinho a desejar o fim da viagem que ainda não tinha começado.Tudo.
Ficaram de me ir buscar depois do trabalho, mas como a pessoa não se desenrasca em Zurique, o ponto de encontro foi junto ao estacionamento dos autocarros de longo curso. Estava a chegar este da foto. Apesar da matrícula suíça, pertence a um empresário português. Não é o único que transporta sonhos, esperanças, crianças e avós, muitas saudades e ainda mais lágrimas.
E eu, sempre com o meu olhar amargo sobre as coisa,  ainda consegui ver alguma ironia no escorpião. Segundo dizem, é um signo mau. Toda a gente sabe que é um animal como a vida: tramado. E como não chegasse, é o meu signo.


Para cúmulo, choveu torrencialmente e os nosso planos foram alterados...

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