domingo, 28 de abril de 2013

Do snobismo e do respeito

Ontem, depois de escrever o post, reparei que tinha três textos a falar "mal" de portugueses. Pus-me a pensar que me devem achar arrogante. Mas estava tão cansada que resolvi esperar por hoje.

Uma colega portuguesa da estufa disse-me um dia não podes esperar só ter amigos com cursos superiores. Sabes que aqui na Suíça poucos são como tu, a maior parte é como eu [ela não chegou a acabar o liceu em Portugal]. Estávamos a falar da dificuldade de eu arranjar amigos portugueses (coisa que ela também não tinha assim em abundância, não fosse o namorado ter vim de Portugal, acho ela que teria tantos amigos portugueses como eu). Eu concordei com ela e disse-lhe que em Portugal a minha mini-lista de amigos inclui gente com doutoramentos, mas também só com a quarta classe feita há muuuuitos anos. Amigos são-no pelo carácter, não pelo canudo.

Para esclarecer a minha dificuldade contei-lhe vários exemplos de historietas que me deixaram incomodada e me fizeram afastar dos portugueses. É a conversa básica ah agora também estás cá? Já casaste? Mas que raio! Uma pessoa só é pessoa se se casar?!? Quando digo que não, olham para mim como se tivesse lepra. Isso provoca um desconforto que não me permite fazer amizade com a pessoa à minha frente. Depois são as conversas liiiindas sobre carros e casas. Quanto maiores, quanto mais caros... melhor. Eu nem a carta para conduzir na Suíça tenho...

Mas eu "calei" a minha colega com uma história que me veio à cabeça ontem outra vez.
Quando vim para cá, comecei numa empresa de limpezas. Essa empresa assegura a limpeza de alguns supermercados. Uns portugueses iam de férias e foi-me pedido que fosse substituir a mulher nesse período. Assim, quando fui aprender o trabalho, éramos 5 pessoas: o casal que ia de férias, eu, o substituto do marido e uma mulher que não ia de férias. Como éramos muitos, acabámos cedo, mas como tínhamos que picar a carta, tivémos que esperar até à hora certa. Ficámos sentados na sala do pessoal a fazer tempo, na conversa. Meia hora de terror!!

A mulher, mais velha do que eu um ou dois anos, vinda do Porto (note-se que não é um buraco atrás de uma serra onde o Sol nunca bate) começa com o interrogatório. De onde vens? Por que é que vieste para cá? Como? És casada? Tens filhos? Vais estudar para quê? Aqui o C. [um colega da COsta do MArfim que só fala francês e alemão] entende-me muito bem? Não é C.? [ele abana a cabeça sem saber o que ela lhe diz em português].
Ora bem: eu odeio interrogatórios. Eu quero lá saber se são casados, divorciados, amantizados, ricos ou pobres. Isso vai-se descobrindo com o tempo e não com uma folha de interrogatório policial. Depois: que é que ela tem a ver se eu estudo ou deixo de estudar? Eu não fiquei na firma, onde até dava para trabalhar sem falar muito alemão. Mas mesmo que ficasse, considero que o alemão dá jeito em todo lado. Os exemplos que costumo dar são o supermercado e o médico (nunca pensando eu que ia precisar tanto de alemão para este contexto). Se dá jeito é bom que se dê um jeito de se aprender, não?

No entanto, não foram estas perguntas e estes comentários que me escandalizaram. Lá pelo meio do inquérito na secção referente à família, ela começa com Vieste para cá com o teu marido? Não és casada? Mas tens namorado. Não?!?!? E depois de uns segundos de pausa, ela pergunta com as letras to-di-nhas numa exclamação só possível se Deus viesse à terra: Quando é que tu fodes? Não contente, vira-se para o tal colega da Costa do Marfim e com gestos, palavras soltas em português e alemão, pergunta-lhe como é que ele acha que eu tenho relações sexuais sem namorado ou marido. Se ele percebeu foi discreto e ignorou a palhaçada. Mas eu não me livrei de ficar bastante embaraçada.

Assim, digam-me, como é que é possível conviver com portugueses?!? Se eu tenho sexo ou não, com namorado, amigo, amante, protituto ou prostitura... ninguém tem nada a ver com isso. Eu não admito uma conversa destas ao meu melhor amigo, que me conhece há 27 anos, quanto mais a uma pessoa que acabei de conhecer.

Se ser snob para os portugueses é não querer ser afrontada com gente deste nível, então sou snob com o maior dos gostos. Tenho muita pena por assim ser. Pois eu vejo os italianos a juntarem-se, os dos países da ex-Jugoslávia são unidos como tudo, os turcos... só os portugueses tentam tramar os portugueses e quando tentamos uma aproximação... tens sorte em trabalhar aqui (feita a pulso)... Não tens um carro XPTO? Como é que é possível?!?... Não tens namorado? Como é que f***s?!?

Haja paciência!

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