segunda-feira, 27 de julho de 2015

Dos mitos e da História

 A minha volta por Altdorf e Andermatt foram originadas por uma pedra e uma ponte do diabo. É sério!!!

Reza a lenda que o povo de Uri tentava construir uma ponte por cima do rio Reuss. Como não estavam a conseguir, viram-se obrigados a fazer um pacto dom o Diabo. Siiiim, os helvécios venderam-se ao demo!!!!
O trato era muito simples: se o Belzebu os ajudasse, ele tinha direito à primeira alma que atravessasse a ponte. Dito e feito. O Coisa-ruim deixou que a ponte se construísse. E os moços deram-lhe uma alma como pagamento.
Só que a coisa tinha um pequeno senão... a alma que lhe deram não era exactamente o que o Chifrudo estava à espera... os habitantes de Uri, depois de servidos, fizeram uma cabra passar pela ponte... quase como receber um pagamento em géneros quando se estava à espera de dinheiro... ooops!!! :D

Então, o Tinhoso, enraivecido, pegou numa pedra gigante e atirou-a em direcção à ponte. Mas, por sorte, o basebol ainda não tinha sido inventado e o Sarnento falhou. :D

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Agora a verdade... Tentava-se ligar o Norte ao Sul, pela zona do passo do Gotardo (Gotthardpass) e para isso se criou uma ponte no Schöllenenschlucht (será qualquer coisa como a Garganta de Schöllenen). A primeira surgiu por volta de 1230  e era de madeira, que foi substituída por uma de pedra por volta de 1660. Mais tarde construi-se outra de pedra (1880) e a primeira ficou ao abandono. Como nem sempre tudo corre bem, a ponte caiu (1888), levando a uma reconstrução.
Depois construíram a linha de ferro que levou a outra ponte... Depois construíram uma estrada que levou a um túnel e consecutivamente a outra ponte...
E cheguei a um ponto que já não tenho a certeza de quantas pontes, de que tipo e em que datas foram construídas! Assim, passemos aos dias de hoje...

Neste momento, existem três pontes do Diabo (Teufelsbrücke). A mais pequena, mais baixa e mais antiga é, hoje em dia, só atravessada a pé. Outra, passando por cima da pequena, serve de ligação por estrada entre Andermatt e o resto do mundo (depois das curvas!). Um pouco mais elevada e desviada está a ponte da linha de ferro que serve Andermatt (e outras zonas) com comboio de cremalheira.
Tanto a linha de comboio como a estrada obrigaram a abertura de túneis .

Engraçado é que também existe a pedra (Teufelstein) que o diabo "atirou" à ponte. Mas o que realmente é engraçado é o que fizeram ao pedragulho...
Na altura da construção da autoestrada do Gotardo, resolveram pegar no calhau e mudá-lo de sítio. Ou seja, em 1977, pegaram em 300.000 francos suíços e investiram-nos na deslocação das 220 toneladas do calhau uns 127 metros para o lado. Juro que esta parte, com ou sem diabo, é verdadeira.

Então aqui ficam as fotos...
Mesmo à saída da autoestrada, a cerca de 30 minutos de Andermatt (as tais curvas lá no outro post) vemos, encimada com as bandeiras suíça e do cantão Uri, a Teufelstein. Não entendo bem... as pontes caíram, este calhau está ali há mais de 30 anos e não se mexe daquela posição?!?!?

 
O rio Reuss é considerado um bicho tramado. Como não nado, não me interesso por saber se há zonas navegáveis ou de ir a banhos. No entanto, com a amostra das fotos... Parecia pouca água, mas fazia um barulho!!! E se olharmos para o desgaste das pedras, dá para imaginar até onde chega a corrente na altura do degelo!!!
 

 
Na foto abaixo vemos o Soworow-Denkmal (memorial Soworow). Erigido em honra dos soldados russos mortos em combate quando atravessavam os Alpes sob as ordens do comandante Soworow. O monumento foi feito no final do século XIX. Não sei, apesar de a ponte ser do diabo, este monumento é que tem um peso negativo enorme. Talvez por as coisas estarem escritas só em russo, talvez por ser uma escultura descomunal, talvez por outro motivo desconhecido, mas... aquilo... tem impacto sobre nós!
 
 
Agora a ponte... a pequena é mais antiga, a de cima a que se usa para passar de carro. Da ponte pequena dava-se a volta à montanha, sempre por fora (segunda foto). No entanto, neste momento é-nos permitido atravessar a ponte e passar por um túnel militar, já a parte de contornar a montanha a céu aberto... isso está interdito!!!


Esta casa já serviu de café. Não sei se estava fechado para férias, se só abre no Inverno ou se encerrou de vez. Mas vale a pena ver o fresco (ainda que muito esbatido) da representação do folclore associado a esta zona.
Na foto a seguira ponte nova vista de cima da ponte velha. Pormenor do diabo com a cabra pintados na entrada do túnel.

 Esta foto não parece ter nada de interessante, mas... debaixo da ponte vemos uma escada de metal (a subir da direita para esquerda). Essa escada é utilizada pelas pessoas que passaram pela ponte antiga, entraram na barriga da montanha por um túnel militar e depois querem chegar ao estacionamento feito ao nível da estrada.
Outro ponto interessante é uma porta (?) de grades que se pode ver na montanha, por cima do primeiro pilar, depois do túnel. Não sei exactamente para quê, mas aquilo também é militar.


Depois das escarpas e da agressividade do Reuss, as pontes de carros e pedonal vistas de outra perspectiva. 
 
Na seguinte consegue-se ver as três pontes ao mesmo tempo.
 
Agora... novamente o militar a entrar em acção... A porta de um bunker. E junto ao rio mais uma portinhola com grades. Eu sei que a Suíça está mais esburacada debaixo de terra do que no queijo, no entanto... sempre que vejo coisas assim ainda me surpreendo. Agora saber que ali na zona a actividade militar começou ainda no século XIX. Mais... caso necessário (ataque, guerra), podia explodir-se as pontes, pois é possível dar volta ao rio através desses subterrâneos todos...
 

 
Como disse antes, andar por estas zonas, faz-nos sentir... minis...

Sei que é um post do diabo, mas... para sintetizar tanto mito e tanta história numa coisa só... tramado!!!! Agora que o passeio de há duas semanas está concluído vou dormir. Amanhã ou depois quero colocar as fotos do passeio de hoje, que também teve o seu interesse...

4 comentários:

teresa disse...

Fantástico e talvez desaconselhado a quem sofra de vertigens :P gosto particularmente da imagem do comboio.

Luísa disse...

Engraçado, Teresa, mas, por acaso, não provoca muitas vertigens. Mas se não tivermos cuidado somos levados pelo vento. Em certos sítios, ou nos agarramos a qualquer coisa ou aqui vamos nós!!! Por isso é que tenho muitas fotos tortas e/ou desfocadas... tentar segurar-me, tirar fotos e ainda tentar puxar o vestido para baixo... é complicado! (Cheguei a um ponto em que deixei as fotos e o vestido!!!)

teresa disse...

:) apreciar a natureza no seu melhor tem desses dissabores...

Luísa disse...

Ah pois é. :)