sexta-feira, 2 de maio de 2014

O livro que eu não li...

...a estatística que eu não vi, o site onde eu não entrei, notícia do jornal, o quadro animal... NÃO sou eu!!! (esta versão da música criou-se em segundos na minha cabeça)

Hoje vi dois artigos no livro das caras de uma pessoa que me fizeram, uma vez mais, perguntar-me o que faz esta gente da vida além de repassar coisas sem olhar com olhos de VER!!!!!

Numa publicação falava-se do desaparecimento de vários produtos do nosso consumo diário... Chocolate, vinho, sardinhas, tequila e bacon. Tirando as sardinhas que para o seu desaparecimento (sem estatísticas a confirmar) tem as condições climatéricas a fazer grande influência, todos os outros produtos, segundo o artigo, estavam dependentes do interesse, ou falta dele, por parte dos produtores. Ou seja, o agave-azul, produto para fazer a tequila (eu estou a citar o tal artigo, nunca tinha ouvido falar de tal planta), está em risco de desaparecer porque os agricultores estão a apostar noutros produtos mais rentáveis. Agora expliquem-me como se eu tivesse uma deficiência cognitiva... se um produto se torna raro, não se torna rentável?!?! E se se torna rentável não vão todos querer voltar a produzir (como agora essa moda dos bios)?!?! Eu aprendi isso na escola. Mas será que é por ser coisa do século passado e mudou a lógica da lei da oferta e da procura e eu não sei'!?!?

Mas passemos par ao artigo que mais me chocou!!!

O artigo chamava-se Books that predicted the future. Num esquema com um grafismo muito fofinho (ler com valor queirosiano), encontramos uma listinha (idem) de 24 livros que previram o futuro da humanidade. Uns eu li, outros não, destes até há nomes que me eram completamente desconhecidos.

Nesse tal gráfico fofinho encontramos o equivalente a diferentes colunas. Da esquerda para a direita: o ano de publicação do livro, o nome do livro e por baixo o nome do autor e a(s) previsão(ões) do futuro e com uma(s) seta(s) que ligam ano de concretização da profecia acrescentando quantos aninhos se passaram até as profecias do Professor BambU se terem realizado.

O livro Ralph 124c 41+ (desconhecido até hoje) foi editado em 1914 e, segundo a lista, foi aqui que se previu 24 anos antes o aparecimento do radar. O problema é que o radar foi inventado uns anos antes da publicação do livro (esta eu sabia-a por causa de umas paredes que existem ainda na Inglaterra que serviam para detectar aviões antes de eles chegarem), simplesmente não teve uma divulgação imediata e não era um objecto dos mais usados.

1984 é associado à polémica que rebentou o ano passado sobre a espionagem feita por um certo país. Na listinha faz-se o paralelismo entre o Big Brother e uma polémica do ano passado?!?! A sério?!? Por favor, toda a gente sabe que os e-mails, os telefones e mais uma data de coisas são controladas. Não é novidade e não começou o ano passado. Acho que começou muuuuito antes do senhor Orwell ter nascido. A diferença só está na questão dos meios. É mais fácil controlar os milhões de pessoas que estão a teclar neste momento do que era no tempo em que só meia dúzia sabiam escrever e os links eram feito por pombos...

O livro de 1948 Fahrenheit 451 supostamente previu os auscultadores pequenos que, segundo a lista, forma criados em 2001 pela marca de computadores que tem uma maçã. Ora bem... os headphones foram inventados ainda o Eça de Quiroz era vivo. Logo, por aí, os livro não poderia inventar muito. Se nos referirmos ao auscultadores pequenos... não seria de esperar que evoluíssem para um sentido mais prático (tal e qual como já estava acontecer na altura da escrita do livro)??!?! Mas mesmo que tenha sido previsto... não foram inventados nesta data nem por esta marca. Eu tive auscultadores desses antes de entrar na faculdade. E eu entrei em 2000.

Toda a gente conhece o Robocop. O homem que virou máquina ou a máquina que ganhou sentimentos. Um ciborgue ou algo do género. E toda a gente acha fantástico que já haja implantes biónicos. Sabem quando foram previstos? E aplicados pela primeira vez? A informação que nos é dada é a seguinte: previsão em 1972 no livro Cyborg, primeiro membro implantado em 2013. Bolas!!! Eu também consegui prever  futuro uns anos antes ao ver uma reportagem sobre uma mulher a quem lhe tinham dado um braço novo: um braço biónico. 

Nestas incorrecções das datas da realidade encontramos ainda uma fantástica: a União Europeia foi prevista por John Brunner com o seu livro de 1964, Stand on Zanzibar (também desconhecido para mim) e que a União Europeia foi formada 24 anos depois em 1993. Eu gostava de saber em que coisa é que Portugal entrou em 1986. E acho que vou processar todos os meus professores de história por me falarem de coisas como a CECA e CEE. É que o facto de ter recebido o nome de União Europeia em 1993 é que prova que a Europa se estava a unir, ou então não (pode-se ler esta negativa em vários sentidos).

Entretanto, se analisarmos as datas de outras previsões e respectivas realizações vemos que há uma distância pequena. Será justo dizer que o tanque de guerra foi previsto em 1903 (The Land Ironclads), 13 anos antes da primeira utilização do primeiro?!?! Querem fazer-me crer que tecnologia daquela se desenvolve em treze anos?!??

Também gosto da relação entre Admirável Mundo Novo e o uso de antidepressivos. Podiam não ter a mesma forma, nem a mesma força. Podiam ser administrados de outra forma, com menos conhecimento e/ou segurança. Podiam ter outro nome. Mas querem fazer-me crer que os antidepressivos foram só criados em 1950?!?! Honestamente, o chá de tília e de camomila, para mim, é que são os pioneiros da medicação "para os nervos" e não o Huxley.
Mas a mais flagrante destas proximidades de datas é a do uso da televisão por satélite. Demorou 3 anos a ser desenvolvida após ter sido prevista também no livro do Brunner. Bem... os engenheiros da altura eram bons como o caraças... três anos?!?!? Quase velocidade supersónica!

Entre estes erros e leituras que me parecem deveras forçadas, ainda havia mais brilhantismo que deixo de parte. Eu cheguei ao fim frustrada com aquela lista... perdi tempo a ler algo que está simplesmente errado.
Na faculdade eu usei o Admirável Mundo Novo num trabalho. Numa apresentação oral eu tinha que mostrar à professora e aos meus colegas como é que eu o poderia tornar apelativo aos olhos de adolescentes sem interesse por livros. Eu até os Iron Maiden fui buscar para a história (bem mais interessante para os putos do que explicar o Fordismo como uma outra colega fez)!!! Imagine-se o que se poderia fazer com uma lista deste género?!?!? Mesmo que não se tivesse lido todos os livros, se a bendita estivesse correcta... eu tenho a certeza que poderia ser uma óptima ferramenta de trabalho.

Só que estou a ver vários problemas na sociedade: uns criam a informação que querem, aliando-se muitas vezes a gente com teorias da conspiração e/ou da perseguição (quais Winston Smiths [muitos voluntários] deste mundo), e outros, tontinhos, não mastigam o que lhes dão, não pensam, nem sequer duplipensam...

Será assim tão difícil ter um olhar crítico de vez em quando?!? Ao menos não me levavam a perder tempo a ler um rol de disparates pegados...

5 comentários:

Anónimo disse...

Interessante seu texto, embora não o tenha entendido de todo, especialmente algumas tiras mais engraçadas ("puto" também significa prostituto em Portugal?).

Acho que está se referindo a essa imagem aqui http://31.media.tumblr.com/2a9b6d49bc6e1d46c0b5f1362ab438bb/tumblr_n55oe9Pbld1r08k60o1_1280.jpg

A vi um dia desses e também me coloquei as mesmas questões. Contudo, não de forma tão, por falta de uma palavra mais adequada, radical.

Qualquer um que leia e conheça ficção científica sabe que ela não é oráculo coisa nenhuma. A lista aí acima nada mais é do que pura banalização, o que acontece sempre que um assunto é vulgarizado, simplificado, seja ele qual for. Creio que a senhora tem noção disso. Temos noção também que Huxley, quando escreveu seu Admirável Mundo Novo não estava a tirar da inventar do nada que, num futuro, as pessoas se comportariam de forma mais liberal em relação às drogas (de qualquer procedência). O que ele fez no seu livro (e o que todos os outros bons autores de ficcção científica fazem) é captar o momento em que se vive e aplicar um "e se?", especular sobre as possibilidades lógicas daquilo que a ciência apresenta.

"Uns criam a informação que querem, aliando-se muitas vezes a gente com teorias da conspiração"??? Ou "tontinhos, não mastigam o que lhes dão, não pensam"???

Relaxe, isso não é problema exclusivo de nossa "sociedade da informação", mas não nego que isso esteja bem mais intenso em nossos tempos de internet. É o movimento natural que a informação faz. Visto sob a situação do fim da planta da tequila: é provável que, de início, assim que descoberta, duas ou três pessoas a bebiam. Com o tempo muita gente passou a beber também, contudo, apenas uma meia dúzia sabia que ela vem de uma planta de nome agave-azul, que seu sabor varia de acordo com determinados aspectos, que determinada marca é melhor que outra por numerados motivos... Esses são os bons degustadores de tequila que, diferente a maioria dos seus bebedores que só quer saber de encher a cara na boate, não toma qualquer tequila. O maior parte de bebedores bebe a tequila que vier e, geralmente, a tequila ruim, que não ofende o bolso. Quando agave-azul se tornar uma raridade, qual dos dois tipos vai continuar bebendo tequila?

Não é que nós estejamos usando menos o olhar crítico. Mas informação vulgarizada, pro grande público, sempre foi de qualidade questionável.


L.S.

Luísa disse...

Olá, L.S.
Obrigada pelo seu comentário.

Não, não se preocupe, putos não tem esse valor em Portugal. Puto é uma forma coloquial de dizer rapaz/garoto. Usado no plural pode referir-se a vários rapazes ou a rapazes e raparigas(também não é uma palavra negativa). No meu texto refiro-me aos alunos da turma com a qual trabalhei durante o meu estágio de professora. Eram 22 alunos, rapazes e raparigas, com idades entre 11 e 13 anos.
Mas usar o femininos, seja no singular, seja no plural, é uma forma "pesada" de falar de uma prostituta ou de uma mulher que não é prostituta, mas que tem um comportamento promíscuo, ou ainda uma forma de ofender qualquer mulher decente.

Quanto ao esquema, era esse mesmo.

Mas eu não concordo 100% com a parte final do seu texto. Eu acho que hoje em dia se está a usar menos o olhar crítico. E vejo isso por pessoas que conheço há anos. Se antes duvidavam, agora aceitam tudo sem questionar e partilham online.

E "fazer um like" num texto errado qualquer sem saber se é verdade é propagar uma coisa errada.
Ainda que eu tenha sido enganada por quem criou esse mesmo texto, eu tenho que ter capacidade de o questionar.
E se não o sei questionar, é bom que eu esteja quieta. Assim não estou a contribuir para a propagação de lixo informativo. Não lhe concorda?

Saudações

Luísa

Anónimo disse...

De nada!
Perdoe a demora na resposta, acabei esquecendo de marcar a publicação e só agora lembrei de voltar.

Não sei se ficou sabendo (muito provavelmente não), mas uns meses atrás houve um lixamento no Rio de Janeiro. Um bandido assaltou em plena luz do dia um transeunte e o pessoal que estava por perto decidiu tomar uma iniciativa: além de uma surra no cara, amarraram-no num poste. Um caso desses, bem no coração turístico do país, chamou muito a atenção da mídia como é de se esperar. Todos os jornais, impressos e televisionados, noticiaram o caso. Não se falou de outra coisa durante uma semana inteira e, além das notícias, milhares de opiniões foram postadas na internet sobre o tema. Desde sociólogos, agentes de segurança do rio, colunistas, apresentadores de telejornal... todos tinham uma opinião sobre o tema (se quer saber, acho que mais do que a falta do uso do pensamento crítico a coisa que me chama mais a atenção hoje em dia é como a internet deu voz a toda criatura: todo mundo tem opinião sobre tudo, não importa o assunto. O resultado disso...). E uma dessas opiniões chamou mais atenção que as demais. Uma apresentadora de um jornal televisionado por uma das maiores emissoras do país também resolveu opinar sobre o caso. O nome dela é Rachel Sheherazade e são bem conhecidas suas crônicas de caráter conservador e tom agressivo. Essa rapariga chamava atenção, mas nunca teve tanta repercussão como quando depois desse caso. Em suma, sua opinião foi mais ou menos a seguinte: "é um ato compreensível, já que no Brasil o aparato policial e institucional é ineficiente e incapaz de dar uma resposta à violência do país (se estiver interessada, aqui o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=unVIpQHLDwE ). Viralizou. Logo todo mundo estava posicionado: ou era a favor, ou era contra os lixamentos. Cada um formando uma opinião própria, individual, sobre o caso (pq não pode repetir oq já foi dito, eu tenho de ter uma opinião só minha). Digo lixamentos pq a essa altura, na época, vários outros casos estavam sendo registrados de norte a sul do país. Não só o comentário dessa apresentadora (principalmente depois do dela, claro), mas de muitas outras personalidades foram compreendidos como "vagabundo tem que apanhar mesmo". Semana após semana mais e mais casos sendo noticiados. Era óbvio: alguma desgraça bem maior ia acontecer. E aconteceu: http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/05/mulher-espancada-apos-boatos-em-rede-social-morre-em-guaruja-sp.html

Me pergunto se com isso me pude fazer suficientemente claro, mas acho que responde a sua pergunta, não?

Como disse, não acredito que seja exclusivo dos dias de hoje que o pensamento crítico esteja sendo deixado de lado. Pra falar a verdade, acho até que ele nunca teve muito apelo. Mas acredito na gravidade de falsas informações veiculadas por aí, principalmente atualmente, onde ela pode atingir um número gigante de pessoas. Seja sobre o retrato de um suposto assassino ou uma lista de supostas profecias, ambas prejudicam.

Mas, se me permite ser um pouco mais claro a respeito da dita lista, lembrei de algo interessante. Meses atrás adquiri um livro de John Brunner (o cara de Stand on Zanzibar, presente na lista) em um sebo virtual. É uma tradução de Portugal, ano de 1969, lançada pela Galeria Panorama. O livro estava inserido com muitos outros títulos de FC em uma coleção de nome "Série Antecipação". É uma postura comum tratar a ficção científica dessa forma.

Aproveito para parabenizar pelo blog e pedir pra que comprimente Luzia por mim. Deve ser uma pessoa e tento!

Atenciosamente, Leonardo S.

Luísa disse...

Obrigada pelo seu comentário, Leonardo.

De facto não sabia deste linchamento.
Adoraria ir ao Brasil, sempre sonhei descer o Amazonas como no livro "A Jangada", o Pantanal deve ser magnífico, depois descobri Iguaçu e há uns meses consegui descobrir onde ficava uma imagem que me apaixonava há muito: Roraima (sim, fica no meio dos outros países, mas tem uma parte de Brasil).
Além disso, conhecer Brasília deve ser bem interessante... uma cidade que há coisa de 60 anos não existia... tem o seu 'quê'.
Por um lado, ir ao Brasil não é fácil a nível financeiro, mas se a insegurança não fosse tanta, eu se calhar, começava a juntar já o dinheiro. é que estas notícias de violência gratuita, de "rolézinho" acabam por chegar cá a este lado do Atlântico e afastam os mais medricas... :/

Quanto à Luzia, já foi embora. Quem não trabalha não faz falta ao patrão. E colegas chatos também não me fazem falta. :)

Fico contente que goste do blog. Passe mais vezes, será sempre bem-vindo.

Saudações

Luísa

Luísa disse...

Obrigada pelo seu comentário, Leonardo.

De facto não sabia deste linchamento.
Adoraria ir ao Brasil, sempre sonhei descer o Amazonas como no livro "A Jangada", o Pantanal deve ser magnífico, depois descobri Iguaçu e há uns meses consegui descobrir onde ficava uma imagem que me apaixonava há muito: Roraima (sim, fica no meio dos outros países, mas tem uma parte de Brasil).
Além disso, conhecer Brasília deve ser bem interessante... uma cidade que há coisa de 60 anos não existia... tem o seu 'quê'.
Por um lado, ir ao Brasil não é fácil a nível financeiro, mas se a insegurança não fosse tanta, eu se calhar, começava a juntar já o dinheiro. é que estas notícias de violência gratuita, de "rolézinho" acabam por chegar cá a este lado do Atlântico e afastam os mais medricas... :/

Quanto à Luzia, já foi embora. Quem não trabalha não faz falta ao patrão. E colegas chatos também não me fazem falta. :)

Fico contente que goste do blog. Passe mais vezes, será sempre bem-vindo.

Saudações

Luísa