terça-feira, 29 de outubro de 2013

Resposta à anónima

Um velho resolveu vender seu burro na feira da cidade. Como iria retornar andando, chamou seu neto para acompanhá-lo. Montaram os dois no animal e seguiram viagem.
 Passando por umas barracas de escoteiros, escutaram os comentários críticos; " Como é que pode, duas pessoas em cima deste pobre animal !".
 Resolveram então que o menino desceria, e o velho permaneceria montado. Prosseguiram...
 Mais na frente tinha uma lagoa e algumas velhas estavam lavando roupa. Quando viram a cena, puseram-se a reclamar; " Que absurdo ! Explorando a pobre criança, podendo deixá-la em cima do animal." 
Constrangidos com o ocorrido, trocaram as posições, ou seja, o menino montou e o velho desceu.
 Tinham caminhado alguns metros, quando algumas jovens sentadas na calçada externaram seu espanto com o que presenciaram; "Que menino preguiçoso ! Enquanto este velho senhor caminha, ele fica todo prazeroso em cima do animal. Tenha vergonha !"
 Diante disto, o menino desceu e desta vez o velho não subiu. Ambos resolveram caminhar, puxando o burro.
Já acreditavam ter encontrado a fórmula mais correta quando passaram em frente a um bar. Alguns homens que ali estavam começaram a dar gargalhadas, fazendo chacota da cena; " São mesmo uns idiotas ! Ficam andando a pé, enquanto puxam um animal tão jovem e forte !"
 O avô e o neto olharam um para o outro, como que tentando encontrar a maneira correta de agir.
 Então ambos pegaram o burro e o carregaram nas costas !!!
 
 
Esta história ilustra bem a forma como nós não podemos agradar a gregos e troianos. E há anos que eu desisti de o fazer. Gostam de mim, perfeito. Não gostam, perfeito na mesma. Não sou daquelas pessoas que defendem que me amem ou odeiem, mas que falem de mim. Não quero saber! Por querer saber acabei por sofrer muito.
Sou uma empedernida, sou fria, sou calculista, sou amarga. Xiiiiiiii! Até agora ninguém disse nada que eu não saiba primeiro. Hello!! Eu vivo comigo própria. Eu deito-me e levanto-me comigo. Eu aturo-me todo os dias!
 
Eu criei este blog para comunicar com os amigos (cof cof cof) que deixei em Portugal. Resulta que os amigos (cof cof cof) acharam piada ao nome, mas quase ninguém passa cá a ler. Mas eu sei que há gente a ler (pelos comentários escritos, pelos comentários noutros sítios).
No entanto, escrever aqui há muito tempo que já não tem nada a ver com os outros. Há muito tempo que escrever aqui se tornou uma terapia para mim. Tem-me ajudado a manter a sanidade mental. Se as pessoas lêem e regressam fico feliz. Se lêem e não gostam... azar! Eu não estou aqui para agradar toda a gente, principalmente anónimos. Até porque como se vê com o velho, o neto e o burro... não se consegue agradar a toda a gente.
 
No entanto aqui fica a resposta ao comentário que uma pessoa fez no post "Fall". Supostamente é uma mulher que tem idade para ser minha avó.
 
O facto de não ter e-mail não a impedia de me dizer o nome. Assim, sei vou nomeá-la como "anónima" (percebi que é uma senhora em "sua avo").

A doença não me fez o carácter. OBVIAMENTE! Faz hoje precisamente um ano que recebi a notícia, o meu carácter é  bem mais antigo. Seria muito reles da minha parte defender o meu carácter com a doença. Isso era a prova que eu não tinha carácter!

O que eu escrevo aqui é uma ínfima parte de mim. A senhora não tem noção do que fica por dizer.  Não tenho que o dizer, não sou obrigada. Do mesmo modo que não sou obrigada a agradar toda a gente.
A esclerose múltipla deixou-me esta Segunda-feira o dia todo em casa cheia de dores. Desculpe lá se fico FODIDA da vida por não ter conseguido ir comprar pão ao supermercado. Pão!!! Um simples pão!!! (a minha mãe acabou por cozer um depois de vir do trabalho) Disseram-me que os efeitos secundários passavam e ainda não passaram. Eu não estou aborrecida com o meu médico, eu até gosto muito dele e sei que ele não pode fazer nada. Inclusivamente sempre que ele me pergunta como estou eu digo-lhe que estou bem. Eu não me queixo dos efeitos secundários porque eles não têm solução. Já fico contente se não tenho crises. Mas não fico feliz por ter estado o dia todo em casa a tentar fazer alguma coisa de produtivo e não ter conseguido atingir metade dos meus objectivos!

Eu não lhe devo explicações, mas já que parece tão preocupada comigo... Eu digo-lhe: estou aborrecida com a vida. Porque infelizmente a minha vida é um filme de terror. É que a cara anónima não sabe, mas a esclerose múltipla é dos meus problemas mais pequenos. Os maiores são escabrosos demais para escrever na praça pública.
 
Além do mais, acho o seu comentário completamente despropositado naquele texto. Convenhamos, eu, naquele texto, assumo que não estou bem, mas mostro que me esforço por encontrar as coisas bonitas que me rodeiam e que tenho o maior prazer em partilhá-las.

É que eu tenho textos em que as pessoas possam considerar que destilo ódio, mas a maioria são bem coloridos (e falo literalmente).
 
Se não percebeu isso, problema seu. Se não está contente com os meus textos, problema seu também. Tem bom remédio: não venha cá ler. Há muitos anos que deixei de tentar agradar aos outros.
 
É que comentar a vida dos outros é fácil. Ainda mais fácil quando não se tem um nome!

Saudações!

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