sábado, 3 de setembro de 2011

As minhas mãos

Com as mãos afagamos, damos carinho, trabalhamos, defendemo-nos, atacamos. Nas mãos vemos os anos de trabalho, os cuidados que se têm (ou não), o estado civil. Com as mãos cumprimentamos. Escrevemos. Fazemos música. Batemos palmas.














Não considero as minhas mãos muito bonitas. Não me importava nada de ter os dedos ligeiramente mais finos e, sem dúvida, menos calejados. Gostaria que a pele fosse mais macia e com menos manchas. No entanto, tenho um orgulho enorme nelas. É com elas que trabalho, que ganho o meu dinheiro. É com elas que escrevo cartas simpáticas e raivosas. É com elas que escrevo por aqui. Posts interessantes, parvos ou simpesmente tristes.

Hoje o meu texto é triste. Uma tristeza profunda que coloco por aqui, pois já não tenho coragem de bater na mesma tecla com as pessoas que me rodeiam. Coitadas já não devem poder ouvir-me lamentar o dia de hoje. E eu não as recrimino. Mas... continuo a precisar de falar. De tentar compreender as coisas...

Do início:
Há tempos eu disse que tinha dois casamentos este ano. Um foi em Julho e outro deve ter sido hoje. Deve?!? Sim, eu presumo que tenha acontecido, já que não estive lá para ver.
A noiva deste casamento tinha-me convidado para madrinha. Nunca na minha vida me tinha passado pela cabeça tal coisa. Mas já que recebia tal convite... aceitei-o com o maior dos orgulhos, com o maior dos prazeres. E, como é óbvio, comecei a preparar-me para a cerimónia como deveria ser. Tendo em conta que sou uma naba com roupa, que nem tudo me assenta assim tão bem... comecei cedo a procura de uma roupa bonita que não envergonhasse, nem ofuscasse a noiva. Acabei na Hugo Boss, passo a publicidade. O vestido é lindoooo!
Já tinha os sapatos. Faltava comprar o bilhete de avião e passar o cheque para o vestido da noiva (eu, quando a situação o exige, consigo ser bastante tradicional). As minhas colegas de trabalho andavam a fazer contagem decrescente e a pedir antecipadamente fotos (apesar de me chamarem louca por querer pagar o vestido da noiva, já que isso não é tradição por aqui).

Mas... a minha vida tem muitas adversativas... Numa conversa, assim sem segundas intenções, com um tema longe de madrinhas e padrinhos, fiquei a saber (pelo noivo, não pela noiva!) que não ia ser a madrinha. Não tinha 100% certeza, mas arranjei maneira de chegar lá.
Não, não era eu. Era a irmã da noiva. E a noiva não teve a coragem de pegar no telefone e inventar uma treta qualquer do género a minha irmã estava entrar em depressão por não ser a madrinha. Eu não precisava de ser a madrinha. Nunca me tinha feito ao lugar, logo... não me incomodava nada que fosse a irmã ou o Papa. Mas... precisava de saber.

E se eu não me tivesse apercebido antes??? Metia-me num avião para o Porto e, na hora da madrinha se chegar à frente, passava uma vergonha de todo o tamanho?!?

A única explicação que eu tenho para esta situação é o preconceito que vai na mente das pessoas.
Ela só casou porque, apesar de morar com o actual marido há mais de um ano, sempre que iam visitar os pais dela, tinham que ficar em quartos separados. Se a mãe é assim tão preconceituosa, e ela cedeu, fica para mim que a mamã teve vergonha que a filhinha, que é doutora num centro de saúde no Porto, tivesse uma auxiliar de jardinagem como madrinha. E a filha como cede noutras coisas, cedeu a mais esta.

A minha chefe, alemã de Berlim, supostamente mais fria que os portugueses, ficou indignada (a parte boa é que ela até fica engraçada quando fica indignada) e disse que eu não sou só uma auxiliar de jardinagem, que a noiva tinha que ver mais além. Eu sei disso, e soube-me bem ouvir isso, mas continuou sem resolver a situação...

Será que elas pensaram que eu ia para a cerimónia com as mãos num estado lastimável, como se acabasse de sair da máquina de plantar flores (na foto)? É que eu sei distinguir as coisas e, sempre que posso, trago as mãos decentemente limpas, com verniz e tudo.

Juro que não entendo. E estou triste com isso.
Como já não consigo chorar, o São Pedro foi buscar-me as lágrimas que já se secaram nos meus olhos e chove torrencialmente lá fora.

Bom fim-de-semana!

2 comentários:

teresa disse...

Há deselegâncias que não se entendem, Luísa. Embora seja fácil dizer que o melhor é esquecer situações, a coisa torna-se mais simples quando envolve pessoas que conhecemos há pouco tempo...
Tente que isso não estrague o seu dia a dia, embora me pareça que relativamente a quem age desse modo, nada pode ficar como era.
Terá certamente amigos de longa data , incapazes de proceder de uma forma tão desagradável.
Boa semana:)

Luísa disse...

É mesmo... ela há cada um!!
Ontem estava mais sensível porque era "o" dia. Como não tenho sangue de barata... estava mais em baixo. Mas, sim, tento ser superior a estas coisas.
Obrigada pelas suas palavras, Teresa.
Boa semana para si também!