sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

What's in your head?

De tanto em tanto tempo tenho que me enfiar dentro de uma máquina de ressonância magnética para ver se os ratos já me comeram mais alguma parte do cérebro. Como a esclerose também pode atacar a coluna, tenho eu fazer sempre duas ressonâncias.
Como eu não tenho pachorra para ir ao hospital duas vezes, faço tudo de seguida. Cerca de hora e meia sem me mexer. Não é muito mau. O pior é quando a cabeça começa  doer de estar a "pisar" sempre no mesmo sítio.
Para quem pensa que aquilo é como nos filmes em que o paciente tem uma conversa filosófica com o médico... desengane-se. É um nicho, leva-se com uma grade por cima da cara e barulho... quanto haja! Parece que estão a fazer remodelações debaixo da nossa cabeça.
Para minimizar o desconforto provocado pelo barulho, lá no hospital dão-nos uns auscultadores e colocam-nos música. Há momentos em que não se ouve nada. Mas a maior parte do tempo dá para se ouvir alguma coisita. Hoje fiquei a saber que na Áustria parece que é neve com força, com populações isoladas e tudo...
Houve um momento em que os radialistas faziam piadas sobre o que as músicas por vezes parecem e o que na realidade são. Como o martelo pneumático recomeçou a fazer barulho, acabei por não perceber onde estava a piada com a palavra zombie (há piadas que só se percebem se for em alemão e depois com a barulheira...). E decidiram-se a colocar a música.
No primeiro momento fiquei triste. Esta música lembra-me muitas coisas de há muitos anos. Depois fiquei ainda mais triste porque o tempo passou e levou a que tenha a necessidade de me enfiar em máquinas de ressonância magnética. Mas depois... fixei-me no refrão e fiz a minha própria leitura. Oh pá... e não é que eu tenho mesmo zombies na cabeça. Se não fosse isso a minha mielina não andava a desaparecer.
Bem!!!... deu-me uma vontade de rir tão grande, mas tão grande, que eu não sabia o que fazer. Eu ali, fechada, sem me poder mexer e os zombies a dançarem-me na cabeça e eu a querer rir e os zombies e eu a querer rir...
Pronto... um dos sintomas que a doença não tem progredido muito rapidamente é mesmo este: eu lembro-me destas cenas e rio-me (ou pelo menos tenho vontade).


The Cranberries, Zombie

2 comentários:

Luisa disse...

Volto aqui, depois de tanto tempo, e deparo-me com uma situação destas... Não gosto!
Abraço

Luísa Moreira

Luísa disse...

Olá, Luísa!
Fico feliz por a ver de novo por estes lados. Já me tinha perguntado o que seria feito da minha chará. :)

Bem, é um facto que esclerose múltipla não é a melhor situação do mundo, mas podia ser pior e eu só tenho que pensar positivo.
Fazer humor negro (ou pelo menos parvo) com a situação é uma forma de aliviar a tensão. Nem toda a gente acha piada, mas eu faço só com os meus ratos internos. Conheço um homem que tem esclerose múltipla e não lida com a situação, mente à família sobre a doença (a mãe pensa que ele tem artrite ou reumatismo ou algo assim!) e depois embebeda-se. Só quando está com os copos é que fala do assunto.
Sinceramente, prefiro brincar com os meus zombies. :)

Abraço