segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Schnuppertag

Eu não tenho por hábito mandar currículos para sítios que não me interessam rigorosamente nada. Nem mesmo com o supermercado onde andei. Eu não me importava de ter essa experiência (para bem ser se eu contasse todas as experiências laborais que eu gostaria de ter... muita gente iria rir) e como não queria estar em casa a morrer de tédio lá me meti na toca do lobo.

Há duas semanas mandei para uma cadeia de fast-food de peixe. Não tenho a certeza, mas acho que não há disso em Portugal. Nessa empresa, pode-se comprar sandes de peixe, o belo fish and chips que até vai num cartucho que parece feito de jornal, mas também se pode comprar peixe fresco e cozinhar em casa ou, no momento da preguiça, pode-se optar por uma paella comida na hora ou por uma massa com frutos do mar para levar (a caixa é em forma de peixe :D).

Xiiiiiii! Eu a trabalhar num sítio a cheirar a peixe e fritos?! Eu gostei da ideia! Não gosto propriamente do cheiro a frito, mas o cheiro do peixe fresco compensaria tudo. Mandei o currículo, fui chamada. Fui à entrevista. Fiquei a saber que iria ter semanas de levantar às 4h30 da manhã e semanas de chegar à 1h a casa. Sabia que era um trabalho de stress porque é na estação principal de Zurique. Sabia do cheiro a frito e das horas seguidas em pé. Mas mesmo assim... eu queria ir para lá.
Marcou-se um dia de experiência (Schnuppertag, [schnuppern significa cheirar!]).

Não se ganha dinheiro (mas pagaram-me o almoço!) nesse dia e podemos ver se gostamos da equipa, do trabalho, das condições de trabalho...
O chefe da equipa sempre muito simpático e solícito disse-me que o mais importante era ver se me dava com a equipa. Disse-me que não tinha que me preocupar com em aprender o trabalho todo num dia só, que o poderia fazer em duas semanas ou até num mês. Mas que analisasse os colegas!
O combinado era eu começar às 8h30. Como moça responsável que sou, às 8h25 estava a bater à porta. O senhor pediu a uma funcionária que fosse comigo ao balneário para eu vestir a camisola. Pois nós caminhámos uns bons metros nas catacumbas da estação e ela não abriu a boca a não ser quando disse onde era o balneário. Neste dia de "cheirar" o trabalho tooooooda a gente é sorridente, toooooda a gente é simpática, toooooooda a gente fala bem dos colegas, do trabalho, do patrão. Mesmo que depois no primeiro dia de trabalho oficial se perceba o contrário, no dia de prova é tudo bom! Com esta mulher comecei logo com o pé errado. Então onde é que estava  a simpatia falsa do primeiro dia?!?!?

Voltámos ao restaurante e fui encaminhada para a secção das sandes. Estive a fazer sandes de peixe com alface e um molho qualquer. Depois passei para o wrap de peixe. Eu não sei enrolar uma fajita em casa, como é que sei logo à primeira embrulhar um wrap!?!? As trombas da gaja chegavam ao chão!!!! Entretanto fui abandonada, andava ali a perguntar o que devia fazer, se havia trabalho para fazer. A tipa só dizia eu faço.
Quando trabalho apertou, ela vira-se para mim e diz: continua a fazer. Continuo a fazer o quê?!?! se eu estive sem fazer nada, se ninguém me explicou nada, como é que eu sei o que hei-de "continuar" a fazer?!?!? A resposta da croma: abres as sandes e vês o que metes lá dentro. Ora bem! Nada mais sábio!! E lá dei eu comigo a abrir portas de frigoríficos e tampas de caixas e enfiar as coisas que me pareciam que pertenciam às sandes.

Como em qualquer parte do mundo, quando se trabalha numa cozinha, tenta-se manter a ordem. Logo que possível, os acessórios são lavados, limpos e arrumados, os produtos colocados no frio, os lixos esvaziados e por aí fora. Pois as coisas não correm assim tão bem naquela cozinha microscópica (se estiverem duas pessoas a trabalha "costas com costas" não passa uma terceira no meio, mesmo que sejam todas magrinhas. juro!!!). Não é que a croma sacudia as migalhas, os restos de peixe, de alface e afins para o chão!?!?

Ou seja, adorei o trabalho (aquelas facas enormes para cortar cosas pequenas fascinam-me! e consegui tirar a pele aos bocados de salmão: é mais simples do que parece!), mas fiquei assutada com a equipa (como é que se trabalha com uma equipa que não nos diz a coisas e depois nos manda abrir as sandes para ver o que está lá dentro?!?!) e preocupada com a minha segurança (o chão sujo tornou-se escorregadio e como a cozinha é mesmo muito pequena uma funcionária ia-me espetando com uma faca!!!!!).

Resultado, na hora de fazer o balanço disse ao chefe que não queria ficar. Que nunca me tinha acontecido algo do género e que se era assim no primeiro dia... como será nos outros todos?!?!? Como é que se trabalha com uma pessoa cuja cabeça nos apetece arrancar?!?! Não lhe disse isso, mas pensei-o.
Ele insistiu para eu ficar e tentou que eu ignorasse as coisas. Mas não me convenceu. Se ele pretende ignorar algo assim, das duas uma, ou não conhece a sua equipa, ou não quer saber. Seja como for é mau sinal.
Com um presságio destes não poderia aceitar tal trabalho e lá tenho eu que continuar na senda de encontrar um novo trabalho...

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