domingo, 11 de agosto de 2013

Da abundância

Quando era mais nova, adorava passar por algum sítio fora de Portugal e encontrar coisas típicas do jardim à beira mar plantado. Significava que alguém sabia onde ficava Portugal.
Mas entretanto eu mudei a minha opinião. Principalmente nos últimos dois ou três anos.

Lá no supermercado, há duas semanas foi a semana da Espanha e de Portugal (a América esteve sozinha nas prateleiras, a Itália e a Grécia também, só a Península é que nãos e aguenta separada). Azeitonas, alho em azeite, cerveja, grão de bico, tortilhas foram alguns dos produtos que eu vi. Mas como andei praticamente só de volta do pão, não tive tempo de ver todos os artigos. Esta semana mandaram-me arrumar os frigoríficos. Por lá encontrei ainda artigos da campanha luso-espanhola. Queijo flamengo de uma marca que eu não conhecia. Com o P do compro o que é nosso bem escarrapachado. As lágrimas vieram-me aos olhos.

Não, não fiquei emocionada por ter meio quilo de queijo português na mão. Senti-me frustrada por milhentos pensamentos que me vieram à cabeça.

O supermercado em questão tinha o objectivo de, com aquela campanha, chegar aos consumidores portugueses e espanhóis. Os suíços têm cá cerveja e se quiserem vinho do Dão (que não estava à venda lá) sabem bem onde encontra-lo, quanto a comidas, não são dos mais aventureiros porque a comida portuguesa não é exótica para o paladar deles (eles comem se lhe derem, mas não são muitos os que frequentam restaurantes portugueses, já comida espanhola, mexicana, grega...). Claro que os portugueses já frequentam aquele supermercado, mas assim... aumentaram as receitas. E aqui foi a minha primeira tristeza: se a população de imigrantes portugueses não fosse tão expressiva duvido que dedicassem uma semana ao feijão frade. Aquele supermercado é uma máquina de fazer dinheiro, não iriam investir em produtos e publicidade a esses produtos se não tivesse um grande impacto financeiro. Ou seja, há muito português fora de casa e isso é tão triste!

O outro pensamento que me atravessou a mente também me atravessou a alma. Além de me deixar triste, deixa-me preocupada.
Ora bem, se agora praticamente só se produz para exportar, o que é que comem os portugueses que vivem em Portugal?!? Os produtos portugueses saem do país, tornam-se mais raros, logo mais caros. Os portugueses são obrigados a importar para colmatar falhas, volta novamente o problema: importação torna os produtos caros. E os que são importados por preços baixos... têm qualidade duvidosa.

Agora a importação de produtos portugueses não significa só o reconhecimento de um país, mas sim uma necessidade dos portugueses saírem, mas, ao mesmo tempo, quererem encontrar os produtos que foram obrigados a deixar para trás. E significa também que os empresários têm o olho aberto e encontraram um nicho de mercado (agora está na moda dizer que tudo é um nicho de mercado). Mas é um nicho onde cabem muuuuitos santos. Que, no entanto, não estão a fazer grandes milagres...

Quando é que as pessoas vão acordar e ver o problema? É qualquer dia vai acontecer como certos países da América Latina que se fartam de exportar bananas e mangas e mais não sei o quê e os pobres de lá passam fome... E aí eu quero ver Portugal a viver do turismo...

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