sábado, 4 de fevereiro de 2017

das pessoas pequeninas e do respeito (ou falta dele)

Estava a trocar ideias no uatsap (sim!, eu sei que não se escreve assim) e lá pelo meio o S. mencionou uma colega minha de trabalho como se ela fosse minha amiga. Eu disse-lhe que ela não passa de uma mera colega de trabalho e expliquei porquê. Acabou a conversa e eu deixei-me dormir. Mas, depois de acordar, a conversa voltou-me à cabeça e não me largou todo o dia.

Pensei no conceito de amigo. Pensei na equipa com que trabalho nos perdidos e achados. Pensei numa coisa que eu fiz na adolescência e de que me envergonho muito.

É de mim ou hoje em dia tudo é nomeado de forma leviana? Qualquer merdinha já são etiquetados como amigos. Mas depois, os supostos amigos desaparecem, nem convidam para um copo. E na hora de ajudar... fónix!! Eu nunca vi tanta gente a precisar de ajuda e os "amigos" a dizerem que não podem. Para mim, amigo é aquele que me pode telefonar às 3h da manhã a pedir que eu me meta no carro para o ir buscar porque o carro empanou no raio que o parta (neste momento não pode ser, que o meu carro morreu). Mas amigo também sabe que não pode telefonar-me antes das 8h da manhã a não ser que seja para combinar uma coisa muuuuuuito porreira para sairmos daí a cinco minutos....
Mas, mais importante que isso, para eu me sentir à vontade para considerar alguém amigo, há que haver respeito. Respeito por mim. Mas a pessoa também tem que ter respeito por si própria. E ainda pelos outros. E isso leva-me à outra secção de pensamentos que me ocuparam a cabeça.

Eu nunca vi uma equipa tão reles como a dos perdidos e achados... Toda  a gente sabe que em todas as equipas há gente nojenta. No entanto, ali... não sei se é porque não se apanha Sol, se é por se inalarem muitos vapores dos aviões, mas aquilo não é normal...

Primeiro andam a lamber-se uns aos outros, passam o tempo a abraçar-se e dizerem que gostam muito uns dos outros. Eu incluída nessa coisa de elogios. Mas logo a seguir estão a gozar a cortar na casaca. Melhor, nem esperam que a pessoa abandone a sala e são capazes de começar a gozar na cara dela com qualquer coisa. Comigo é permanentemente com o meu sotaque. Mas eu já comecei com o exercício de "diz São Paulo". Eles não conseguem dizer os ditongos. Nem sequer perto...
Só que, mesmo com tanto gozo, eu sou superior àquela canalha e deixo-os quase sempre a falar para o boneco. O problema é quando a coisa vai muito mais à frente. Quando gozam descaradamente com os passageiros. Muitas vezes sem esperar que eles se vão embora...

É verdade que é muito frustrante tentar comunicar com um russo que não fala nenhuma língua a não ser a materna. É muito irritante quando pedimos a um coreano que escreva o seu endereço e ele faz em... coreano!!! Essas cenas fazem-nos perder a paciência. Dá vontade de rir. E eu não digo que não nos possamos rir destas situações estapafúrdias.

Mas... adversativa rules!!! Há momentos e momentos. Quando a pessoa começa a passar-se, com uma crise nervosa, de que adianta ainda gritar, fazer piadas ou gestos desagradáveis?!??! A pessoa fica mais nervosa, menos cooperante e  nunca vai parar de fazer perguntas e nunca nos vai deixar em paz. Por vezes, eu ainda consigo compreender... quando nós já fizemos 50 relatórios... chega a um momento de exaustão...
Mas... mesmo assim... há coisas que eu não compreendo seja o primeiro relatório do dia, seja o último depois de termos tido 6 vôos atrasados, aviões com contentores errados, atrasos nas descargas porque a porta do avião congelou (true story) e mais uma data de passageiros que chegaram de Singapura e estão no balcão errado porque a companhia aérea trabalha para a concorrência. Não, não há nenhum argumento, nenhuma desculpa que justifique que se goze com deficientes.

Na adolescência eu devia ter apanhado umas belas tareias. Havia uma croma na turma. E eu e o S. (mesmo nome, pessoas diferentes), adolescentes estúpidos, em vez de gozarmos com ela por ser parva usávamos o estrabismo e forte miopia para gozar com ela. É um momento negro de que não me orgulho nada. Mas tem a explicação (sempre injustificável e inaceitável) das hormonas nos tirarem a capacidade de pensar.

Agora, a minha pergunta sobre os meus colegas é: que justificação têm eles?!?! Que justifica o prazer ordinário que aqueles adultos na casa dos 20, 30, 40 e 50 (!!) se riam de, por exemplo, pessoas com fala arrastada? E velhos? E uma pessoa em cadeira de rodas?!?

Não!... eu sou a primeira a fazer piadas com a esclerose múltipla. Mas nunca ninguém me viu a gozar com um doente de esclerose. E espero que, num futuro muito distante, se eu ficar com alguma incapacidade, ninguém goze comigo.

Não!... não consigo aceitar o que eles fazem. E antes que me digam para falar com o chefe... ele é um pai de dois filhos que alinha nestas merdas... (pergunto-me se ensina os filhos assim?!).
Não!, não consigo alinhar no andamento deles. Não compreendo e recuso-me a tentar compreender. Porque tenho a certeza absoluta que  nada justifica que se critique a higiene de uma mulher só porque a sua cadeira de rodas eléctrica está cheia de cabelos no encosto da cabeça. Como se nós não perdêssemos cabelos. Como se fosse fácil para um paraplégico limpar o encosto da cadeira a que está preso o dia todo.

Não!, aquela gente nunca será vista por mim como amiga enquanto se rir da incapacidade de uma pessoa como se estivessem a ver pela primeira vez um vídeo do Mr. Bean.

Como eu ontem disse ao S., a minha lista de amigos é patética porque é minúscula. Mas prefiro isso a compactuar com uma falta de respeito maior que um Airbus 380...

E, com tanto pensar, apercebi-me que tenho que arranjar mais passatempos para me ocuparem todos os segundos livres. Porque só assim é que eu não penso em coisas complicadas...

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