domingo, 9 de setembro de 2012

Mais estúpido que um camelo!! 0.2

Eu odeeeeeeeeeio piadas fáceis. Gosto de humor negro. Gosto do humor inglês. Gosto de piadas secas. Gosto de piadas rápidas. Mas acho que as piadas fáceis não mostram um pingo de inteligência. E se forem ditas repetidamente, como se os ouvintes ainda não tivessem percebido a piada... irrita-me solenemente.
E irrita-me de morte quando estão vários comensais que não se conhecem e alguém começa com essas piadas. Isso não quebra  o gelo, simplesmente me afasta de quem ainda não conheci. Nas férias conheci um otário com carência de atenção que só faz piadas do género.

Fui a um casamento e ia sem companhia No início não me assustei, pois não é a primeira vez que isso acontece e tem corrido sempre muito bem (ao ponto de andar a trocar endereços de email e assim!). Mas tinha que vir algum dia em que a coisa não corria bem.... (eu tenho que arranjar um namorado para estas ocasiões formais; dá sempre jeito ter uma apêndice nestas alturas... :p).

E calha-me mesmo ao lado o pior companheiro de mesa que eu poderia ter.
No primeiro momento não tenho nada a dizer, ainda falou da sua experiência em Marrocos e de como admirava as pessoas que fazem o jejum do Ramadão. Parecia ter a mente aberta, afinal era tão tacanho como tanta gente que anda por aí.

Quando se sentiu minimamente à vontade começou com já viram um cego dar aulas de condução? já ouviram um surdo dar aulas de fonética? eu comecei a ver para onde aquilo ia, mas no início pensava que era só piada. Comecei a responder-lhe, sempre  a pensar que era para ser um assunto ligeiro. Afinal não. Ele acha que um padre não pode dar conselhos sobre matrimónio. Como ele não faz sexo, não pode meter a foice em seara alheia. Até aí ele tem razão, mas que eu saiba um padre não dá conselhos sobre sexo. E aí a piada, que afinal não tem assim tanta piada, não tem razão de ser. O padre fala ao coração, ao espírito, à alma, mas nunca o ouvir falar para/sobre o sexo.

Como eu tentava defender a ideia do padre (só tentava, porque eu nunca consegui acabar uma frase), virou-se com uma piada fácil demais: esta aqui é amiga do padre. Eu odeio essa frase. Acho-a baixa demais para a maioria dos padres e não a admito para mim, principalmente de uma pessoa que eu nunca tinha visto até à coisa de meia hora... Passei-me e disse-lhe que tinha vivido com freiras 12 anos, o que me faz compreender (não falo em aceitar ou defender) certas coisas. E que apesar de não acreditar na instituição que é o casamento eu não estava ali por causa do padre, mas por causa dos noivos. E virei-me para o meu prato porque já estava com a cabeça a doer-me e eu ainda não tinha chegado ao fim do primeiro prato!

Ele continou com piadinhas, aquelas frases que têm piada se forem ditas espaçadamente (tipo uma piada por conversa, uma conversa por semana) e se não forem repetidas. Até a piada de Oh my God they killed Kenny deixou de ter piada!! E eu só comia.
Depois, já não sei porquê, resolveu perguntar se preferíamos Beatles ou Doors. Correu a mesa e quando chegou à minha vez, disse com ar de desdém tu nem um nem outro e eu concordei (eu não tenho pais que tenham vivido com muita música, tudo o que conheço foi ou é meu contemporâneo, o resto, mais antigo, sei identificar, mas não me sei identificar com). Oh! tu nem deves saber quem são. Eu não disse nada, mas tenho uns olhos muito expressivos...

ui ofendi-te! vejam lá. A piada não me ofenderia se ele não estivesse há que tempos a mandar piadas para o ar, sem quase mais ninguém falar e a interromper as ideias dos outros quando algum resolvia falar. A piada não me ofenderia se ele ainda não tivesse feito piada comigo. Disse-lhe que sim, que me tinha ofendido e que só queria comer em paz. Se na mesa já não se falava ainda se calaram mais e ele culpou-me. Eu disse-lhe, se queres que se fale, puxa assunto. Ele disse-me para eu o puxar e eu respondi-lhe que não era eu que me estava a queixar, que estava bem no meu canto, logo que era ele que devia puxar assunto.

Ora bem, uma pessoa vai viver para um país nove meses e vem de lá a aceitar o jejum do Ramadão (coisa que eu não compreendo no século XXI e não aceito, já o disse a muçulmanos e posso explicar porquê se alguém quiser, mas desde já digo: eu respeito quem faz o jejum! Respeito e aceitação são coisas diferentes), mas não aceita e não respeita que o amigo se case pela Igreja ao ponto de fazer piadas parvas sobre o assunto em pleno copo de água (é que eu acho que ele não foi à cerimónia). Então que foi ele lá fazer?!?! Podemos não concordar, mas se somos amigos apoiamos, não deitamos abaixo. Ou estarei assim tão errada????

Eu não acredito na instituição do casamento, por questões muito pessoais, mas planeei as férias de modo a ir a Portugal só por causa daquele casamento. Mesmo não acreditando, comprei bilhetes mais carotes do que o normal, andei às compras para vestir roupa decente (eu odeio compras!!!, mas eu até que ia bem gira), dei comigo a percorrer estradas da Serra da Estrela por onde nunca tinha passado e no regresso a Zurique saí de casa às 7h da manhã, fui para Lx, depois fui fazer escala a Colónia, para chegar a casa às 22h. E faria tudo exactamente da mesma forma se preciso fosse.
E quando eles fizerem 25 anos de casados, devo continuar descrente do casamento, mas terei todo o prazer em fazer escala em três países, caso eles resolvam ir festejar as bodas de prata a Timor. E quando eles fizerem 50 anos, já devo acreditar mais na coisa, e aí devo ter que levar uma bengala, mas também vou prestar a minha homenagem. A homenagem a eles, não ao padre que não faz sexo e que, segundo o otário, dá palpites sobre coisas que não sabe.

Porque o que me parece é que quem não sabe nada é o cromo. Em certas ocasiões muito específicas não são os nossos valores ou opiniões que interessam, mas sim os dos nossos amigos. Ou, pergunto uma vez mais, estarei enganada?

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