domingo, 11 de outubro de 2009

A realidade que supera a ficção...

Ontem estava previsto vermos um filme, mas nunca pensámos que seria ao vivo e a cores. Estávamos à espera do resto do pessoal quando chega uma a dizer que o 1.º andar do prédio em frente estava a deitar fumo da janela. Esta pequena tragédia (foi só a cozinha que foi com os porcos) fez-me ver três coisas bastante interessantes. Do meu ponto de vista, uma é positiva, outra é negativa e outra é engraçada.

A positiva é que os suíços não têm sangue de barata.Na casa da minha colega houve alguma histeria para chamar os bombeiros e avisar os restantes moradores do prédio. Fiquei satisfeita por saber que, afinal, eles também se interessam pela vida e bens dos outros. Podem não ser todos, mas aqueles que se juntaram ali já eram bastantes para me deixar feliz.

O engraçado da história é que, tal como em Portugal, a vizinhança veio toda a correr ver o que se passava, até fotografias tiraram. Pensei para comigo: "A classe dos vouyers também existe aqui! Quem devia estar aqui era a Cristina B. para ver que o gosto pelo bizarro, pela tragédia, move, nem que seja por momentos, as pessoas!". (Cristina B. foi a minha professora de ética na faculdade e que disse que eu estou errada quando afirmo que toda a gente se interessa em algum momento da sua vida, com mais ou menos intensidade pela tragédia. Eu não concordo com a senhora...)

A coisa triste é numa comparação feita com Portugal. Para um curto-circuito que não chegou a fazer labaredas foram mobilizados os seguintes meios: 2 carros de polícia, uma grua dos bombeiros, dois camiões de material, também dos bombeiros, e uma carrinha que trouxe reforço de cerca de 5 homens. Havia um miúdo que dizia: "Mami, vier Wagen!" (mamã, quatro carros!) e eu só pensava: "São mais, meu lindo, tu não consegues ver tudo." Eu estava muito aflita por saber que a família da casa estava de férias. Eu sei o que é regressar de férias e ter a casa destruída e estava quase a chorar por gente que não conhecia. Quando disseram que era só a cozinha, fiquei mais descansada e dei comigo a apreciar os movimentos dos bombeiros, a analisar o que faziam, o que usavam. De relance vi motosserras, machados e mangueiras num número que nunca pensei que coubessem em dois camiões daquelas dimensões... dos dois camiões saíram uns holofotes que cegaram por momentos todos os que estavam presentes. Todos os bombeiros tinham capacetes e máscaras com as respectivas botijas de oxigénio. Não é preciso explicar porque fiquei triste fazendo comparação com Portugal.
É preciso dizer que nada disto é gratuito. Dos impostos, uma fatia é para os Feuerwehrmänner (bombeiros). E caso aquela família não tenha a casa no seguro... está tramada pois terá que pagar a deslocação daqueles meios do seu próprio bolso, coisa que, diga-se de passagem, não é assim tão barata. Mas foi o que eu disse hoje à minha mãe... é bom saber que o dinheiro ainda dá para pagar os impostos para os soldados da paz e que quando eles são precisos eles estão lá (em meia hora viu-se que havia fumo, chamaram-se os bombeiros, montou-se toda a parafernália e diagnosticou-se o problema. Resolver demorou mais, mas eles não são deuses!!).
Os bombeiros e os elementos do INEM (ou equivalente) são os meus heróis, admiro-os pela coragem de se meterem à frente do fogo, pela coragem de apanhar pedaços de um corpo de um bêbedo que se espetou na traseira de um camião. Mas, acima de tudo, no que respeita aos portugueses, admiro-os por conseguirem fazer o seu trabalho com uma falta de meios completamente absurda e desapropriada para um país que se diz de primeiro mundo!

No fim, acabámos a ver uma comédia romântica que metia uma mulher em coma e um homem deprimido pela morte da esposa e que no fim foram salvos um pelo outro e viveram felizes apra sempre...

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