quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

E sai-me um Fagin

Isto de se andar à procura de trabalho tem muito que se lhe diga. Muuuuito mais do que se possa pensar!
A proposta era interessante: das 12 às 17 horas, num pequeno café, numa estação de comboios de Zurique. Candidatura feita pessoalmente, in locu, entre as 10 e as 14 horas. Lá vou eu toda pimpona com o currículo, a cópia das cartas de referência, pronta elogiar-me até mais não (quando é preciso eu até meto nojo a gabar as minhas qualidades!).
O homem mal olha para o currículo, não olha para as cartas e diz-me para fazer o dia de prova naquele momento, que há mais uma candidata e podemos fazer as duas e por aí fora.
A mulher chega, apresentamo-nos. Ele mostra-nos uma lista com preços escrita por uma galinha numa língua indecifrável (senwich, sabem o que é?!?! é isso mesmo... uma sandes!) e raspa-se dali para fora. Deixa-nos ali ao abandono e vai à sua vida. Maravilha!!
Em três horas vendemos 5 cafés, dois croissants, um bretzel e um hot dog (e eu sujei-me de mostarda!). Um frio de rachar. Eu, calorenta nata, estava com a boina enfiada até aos olhos e puxava as mangas do casaco para cima das mãos.
Depois de ele ter dado umas quinhentas voltas ao bilhar grande, o homem resolveu-se a aparecer e a perguntar como ia a coisa. O trabalho não era difícil, é certo. Mas quando eu comecei a fazer perguntas sobre as condições de trabalho a coisa começou a cheirar muito mal.
Primeiro o anúncio era das 12h às 17h. Mas entretanto já era das 11h para a frente e podia-se fazer 2 pessoas das 7h às 9h. Seria um trabalho a 50%. Eu disse-lhe que a mim não compensava ir para Zurique Para começar às 7h fazer pausa às 9h e recomeçar às 11h. Mais, 25 horas por semana não é 50%, é mais. Porque aqui há semanas de 40 a 43 (talvez 45 horas), mas nunca de 50 horas. E pela conversa a coisa nunca seria só 25 horas, embora se fosse ganhar ao mês e não à hora, ou seja, era sempre o mesmo dinheiro para um número indefinido de horas.
Mas a coisa começou a ficar meeeesmo interessante quando se falou em honorários. O valor que ele me dava era para o mês, eu saquei do telemóvel para fazer contas e só não me ri porque era trágico demais! Ele oferecia-me 17 francos à hora. Ainda que fossem 17 francos limpos, significava que iria ganhar menos do que se andasse a trabalhar numa firma de limpeza. Era ganhar menos do que ganhei a limpar latrinas em 2008 quando cheguei cá!!!

Eh pá!! Eu preciso de um trabalho, sim. Mas vamos lá com calma. Se era para escravatura tinha ficado no supermercado. O ordenado era mesmo bom para supermercado, não gastava dinheiro no bilhete de comboio (ir até Zurique são 12.40 francos, ida e volta!), fazia desporto com a minha trotinete (tenho uma mais moderna e prática :D ) no caminho para o trabalho e não passava frio.

No fim de analisar bem as coisas, lamentei o facto de ser tão mau (eu gostava do horário que estava no anúncio, permitia-me estudar ou arranjar outro trabalho de manhã) e disse-lho educadamente. Não é que aquele merry old gentleman (juro que lembrava o malvado de Oliver Twist, só que este era turco) amuou comigo e só faltou bater-me quando me mandou embora?!?!

O que salvou o dia foi o fim de tarde. Como estava perto, fui até à beira do lago apreciar o Sol. E pensar que amanhã será outro dia. :)




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