quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Eu vou perder a minha sanidade mental

A crise chega a todo o lado. E a própria Suíça também tem sido afectada. Na aldeola onde trabalho há um só restaurante (sem movimento nenhum!) e a loja onde trabalho. Essa aldeola tem ainda uma fábrica de fiação de algodão (onde trabalhei há muitos anos a fazer férias de Verão) que está em crise há... anooooos! Isso implica o quê: as pessoas procuram o mais barato.

A loja não consegue competir com as grandes superfícies. Os supermercados fazem preços mais competitivos e têm de tudo (eu própria vou às compras aos supermercados). Se a isso acrescentarmos gestão danosa por parte dos meus patrões:
encomendas de pão enooooormes em que mais de metade vai para o lixo; compra em pouca quantidade de produtos que escoam facilmente e de grandes quantidades de produtos que às vezes nem um artigo vendem antes das validades terminarem. Onde eu consigo dominar, dou a volta, por exemplo, altero as listas do pão (ontem só deitei dois papo-secos fora, às vezes consigo a proeza de vender tuuuuudo!). Mas mesmo assim... eu não sou toda poderosa, não sou chefe, nem faço milagres e muito menos posso obrigar os clientes a comprarem os nossos produtos.

A coisa ficou tão feia, mas tão feia, mas tão feia que na Sexta-feira passada recebi um e-mail lindooooo da minha patroa: devido a problemas financeiros nos próximos quatro meses só podem pagar 60% do ordenado. Bem... se ele já não era famoso, agora... é inaceitável. Avisei-os que não podia ficar assim e que iria procurar trabalho, respeitando sempre as quatro semanas de pré-aviso que estão referidas no meu contrato.

Não gostaram da brincadeira. Resolveram fazer pressão. Mas estão a sair-se tão mal... A semana passada a minha patroa pediu-me para fazermos uma pequena reunião, para avaliarmos a minha "estadia" na loja. Não mencionou a crise da loja e não fez qualquer reparo negativo relativamente ao meu desempenho.
Como a mudança de planos não lhe agradou, resolveu fazer uma nova reunião. Enterrou-se mais.
Na tentativa de qualquer coisa que eu não entendi bem, mas que me parece ser uma forma de aliviar a consciência, recomendou-me um trabalho  numa quinta a apanhar fruta três vezes por semana no cu de judas a mais de uma hora de comboio daqui. Quê?!?! Já lhe tinha dito que não tenho interesse neste momento em trabalhar em quintas ou estufas (eu ainda não sei como a esclerose se está a desenvolver, não posso ir para um trabalho tão pesado para dias depois me ter que despedir... no futuro, quando se tiver uma noção real das coisas, quem sabe se não posso apresentar-me num sítio desess?!?!), mas ela insistiu. Depois disse que eu podia lá dormir. O meu sonho: dormir, trabalhar, comer etc. e tal no mesmo sítio!!!

Mas o enterranço completo foi quando, à falta de argumentos para me forçarem ao despedimento, começaram a dizer que os clientes não vão à loja por causa do meu alemão. No Sábado encontrei uma cliente que a minha mãe conhece. Veio logo aquela conversa ah! tu és filha da Maria? ah! mas tu trabalhas na loja! depois desse intróito, disse, como que a pedir desculpas por estar num supermercado (ela nem pensou que também eu lá estava): eu só vou à loja em última necessidade. tenho filhos, tenho que poupar!". Que eu saiba o facto da senhora poupar não tem nada a ver com línguas.
Mas a coisa continua...
Ontem apareceu lá um cliente com comida quentinha feita para mim (carne de vaca guisada com batatas), hoje recebi três rosas porque ajudei outro cliente. Será que é porque eles não entendem o que eu lhes digo? Será que é por eu não lhes sorrir? Eu cá acho que deve ser por eu ser muito antipática.

Às vezes eu dou comigo a rir e a chorar ao mesmo tempo, qual sinal de loucura. A minha vida contada... seria um filme de terror (pois falta o que eu não conto por aqui) e eu pergunto-me como é que aguento esta gente louca! Se eles fumassem ganzas!! Ainda dizia que eram ums janados queimados de todo. Mas nem isso...


O que vale é que as minhas rosas enchem o olho a qualquer um...

4 comentários:

teresa disse...

Lindas rosas! Quanto a argumentos que algumas pessoas inventam (afinal queriam mesmo que a Luísa continuasse, mesmo por menos dias e baixíssimo vencimento, o que deita por terra a questão do domínio da língua), ele há gente para tudo. Só agora espreitei o post e fiquei logo a perceber que o que lhe foi dito decorreu de alguma irritação, não tem a ver com o seu verdadeiro retrato . Boas férias, se for caso disso :)

Luísa disse...

Eles não podem baixar o ordenado. Podem reduzir a carga horária, mas não podem mudar o ordenado assim de um dia para o outro e muito menos nesta dimensão (40%). E como eles sabem isso querem que eu me vá embora e metem os amigos para tapar buracos (porque aí não há problema, pois os amigos aceitam à partida o ordenado mais baixo).
E, infelizmente, o que eles disseram foi bem pensado. Foi uma reunião com os dois patrões, sentados lá em casa e que, ao perderem na minha contra-argumentação, desceram de nível e jogaram baixo demais.
Mas pronto... muito mais que as rosas do cliente, ou que o guisado de vaca, valem-me as palavras de apoio e lamento por eu me ir embora que eu já ouvi. Até tive um cliente que ficou tão parvo que me esteve a ensinar como eu poderia conseguir 3 meses de ordenado sem trabalhar, mas eu não vou nessa! era descer ao nível dos meus patrões e eu posso não ser o modelo de pessoa, mas... de certeza que sou superior a eles.

Obrigada pelos votos, Teresa. Ainda que molhada, esta pausa está a saber-me muito bem... :)

Anónimo disse...

Só quero dizer que é um grande blog você tem aqui! Eu estive por aí por bastante tempo, mas finalmente decidiu mostrar o meu apreço pelo vosso trabalho! Polegares para cima e mantê-lo ir!

Luísa disse...

Obrigada, anónimo. Apareça, que é bem-vindo/a!