terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ensinar o padre nosso ao vigário...

Início de ano e a professora procura conhecer melhor a família de cada um dos alunos. E vai perguntando:

- Mariazinha, qual é a profissão da tua mãe?

- Ela é vendedora, professora.

- Joãozinho, qual é a profissão da tua mãe?

- Ela é secretária, professora.

- Pedrinho, o que é que a tua mãe faz?

- A minha mãe é substituta, professora.

Sem entender bem, a professora insiste:

- A sua mãe é o quê?

- Substituta, professora.

- Pedrinho, essa profissão não existe. Explica lá o que ela faz.

- Bem, ela fica numa esquina, depois vem um homem e entram no quarto da pensão. Aí, depois, os dois saem, o homem dá-lhe dinheiro e ela volta para rua.

- Ah, Pedrinho, a tua mãe não é "substituta", ela é "prostituta", não é?

- Não, senhora! De jeito nenhum! Puta é a minha tia que 'tá doente. A minha mãe só a 'tá a substituir por uns dias.


Hoje descobri que não falo português!!
Como não gosto da minha turma de alemão, evito o mais que posso conversar com eles durante o intervalo. Para tal, acabo por telefonar à minha mãe, ou a outra pessoas qualquer, por "dá cá aquela palha" e o pessoal habitua-se a ouvir a minha bonita língua...
Hoje eu telefonei à minha mãe porque precisava mesmo e no fim de dar o recado desliguei o telefone e virei-me para o meu café. Quando, assim do nada, um colega meu me diz: "Quando falas ao telefone, falas um dialecto, não é?" E eu disse: "Não, eu falo 'português alto'." (tradução directa de hoch, que é quase como dizer "padrão"). E ele continua a tentar convencer-me que eu falo de forma diferente que se parece como dialecto. Nota: para ele um dialecto é tão diferente que é quase uma outra língua, as variações dialectais existentes em Portugal, se ele conhecesse a língua de Camões, seriam vistas como nuances sem qualquer inportância.
Eu cá acho que sei mais árabe (o senhor é marroquino) do que ele algum dia saberá português e lá estive a explicar as diferenças dialectais, as influências que tive nos sítios onde vivi, as influências da minha anatomia(o meu [R] é diferente do das outras pessoas por causa das minhas cordas vocais e tenho um diastema que não me deixa ter os [s] e os [z] apicais, muito comuns lá na santa terrinha)... coisas que não me permitem ter um um traço muito distintivo na minha forma de falar. Claro que tive que novamente puxar pelos galões e dizer que sou professora de português (vá... licenciada, com o estágio e sem colocação) e que por isso falo português MUITO bem. Tive que fazer a ressalva para o facto de ninguém falar (ou escrever) de forma 100% correcta, mas que eu, com toda a certeza do mundo, quando abro a boca, não envergonho o meus professores de português (se bem que... alguns mereciam isso!).

Era mesmo o que me faltava... um guia turítico vindo do meio do deserto dizer-me se eu falo português padrão ou se falo dialecto. Já não me bastava o meu professor armado ao "pingarelho" (um dia conto as certezas dele), tinha que me sair mais este...

Até parece que o Pedrinho não viveu sempre com a mãe...

1 comentário:

teresa disse...

Quanto ao seu comentário após a tal classificação (por parte do colega) do Português enquanto dialecto por quem não percebe do assunto, lembrei-me da frase popular e certeira: "a ignorância é mesmo atrevida!"... e isso trouxe-me ainda à memória as aulas de Linguística e a ideia de que o termo 'dialecto' é pejorativo. Mesmo quando uma língua é utlizada por escassas centenas de falantes (o que não é o caso da nossa) nunca deve ser designada por dialecto. O dialecto é uma variante da língua-mãe, sendo utilizado por um grupo muito restrito. O mirandês é falado por poucas centenas e está consagrado enquanto língua:)

Quanto à forma como alguns estrangeiros (e saliento o 'alguns', pois há muito boa gente por esse mundo fora) encaram os portugueses, lembro as minhas constantes idas a França num passado distante para ver os meus tios. Os comerciantes parisienses onde parava para fazer compras, ao ouvirem-me falar em Português com a família, perguntavam: "é brasileira?" , no seu limitado entender, como só me viam por lá de férias e não a trabalhar, deviam pensar que o meu país de origem devia localizar-se noutro continente bem distante...

Resta-nos sorrir e pensar no tal atrevimento da ignorância:)