quinta-feira, 28 de maio de 2015

Perspectivas

Ontem foi o dia do meu animal de estimação, aka esclerose múltipla. Como seria de esperar, os programas da tarde falaram do assunto. Apanhei a entrevista de um canal privado por acaso e quando essa acabou mudei para o outro canal privado para ver se davam alguma coisa e se tinham uma perspectiva menos parva que a primeira entrevista. Esqueci-me de ver no canal público, mas espero que tenham dito alguma coisa, pois esta doença, pelo que tenho experienciado, precisa de muuuuuuuuuuita desmistificação.

Mas porque é que uma entrevista foi parva... foi lá uma mulher que tinha dores nas bochechas depois de ter estado numa regata em alto mar durante não sei quantos dias. Oh. Grande avaria!!!! Eu também tenho dias com dores nas bochechas e é """"só"""" de sorrir aos clientes do quiosque (as minhas rugas de expressão cada vez mais pronunciadas!).
Mais... rico argumento... se eu tivesse mais de um mês de férias em casa (sim!, não era preciso ser num veleiro) também ficaria buéééééééé feliz. Queria dizer que tinha muito tempo seguido só para mim. Assim, sem ter que me levantar de noite (aqui às 4h45 já é de dia, logo... para ser de noite...) eu também acho que seria muito melhor a controlar a doença. PortantoSSSSS párem lá com essa coisa de serem um prodígio por serem tripulantes de um veleiro. Uma vida sem preocupações facilita o andamento das coisas... a qualquer pessoa... doente ou 100% saudável!!!

Depois eu não percebo outras coisas... se passam a vida a dizer que são pessoas normais, por que raio levam alguém à televisão e a colocam nos píncaros?!?!
Eu ODEIO quando as pessoas com algum entrave diz ah porque eu sou normal. Ah porque depois da doença a minha vida ficou melhor. Fónix!!! Melhor onde? Aos domingos na hora da injecção ou quando as moedas me caem todo o dia da mão pela falta de sensibilidade? Ou quando a minha mãe me resolve fazer cafuné e eu tenho que a afastar porque o toque me incomoda?!?!
Vida normal?!? Ter que sair de casa mais cedo, levar o pacote congelado, andar a fazer contas de cabeça por causa da temperatura que pode a tingir a injecção numa viagem de de duas horas num avião?!?
Ah vem mostrar o seu exemplo de superação. Mas em que ficamos?!? É normal ou é um exemplo de superação?!? Eu acredito piamente que seja um exemplo de superação, o qque me leva a acreditar que não é normal...

Depois também gostei de o facto de a senhora ter decidido viver um mês sem EM. Rica coisa... mesmo com sintomas activos, como eu tenho desde há quase um ano, eu vivo 6 dias por semana sem esclerose. Só ao Domingo é que me lembro que tenho que me injectar. De resto... quantos dias ando sem me lembrar da doença. Assim, se ela toma medicação, nem que seja num ritmo semanal, ela nunca passa um mês sem esclerose. Se não toma medicação... olha... basta que não haja surtos e/ou sintomas activos e já se vive sem esclerose...

Passemos ao médico. A minha mãe tenta compreender a doença e por isso é que não mudei de canal. A coitada dá-se a cada trabalho!!! Se nem os médicos a entendem na perfeição... mas o médico da primeira entrevista... ele até pode ser o melhor neurologista do mundo, mas para explicar... eu pergunto-me se algum especialista o entendeu!!! A coitada da minha mãe queria perceber, mas não o entendia, a cara dela quase 1ue mostrava sofrimento!!! Mas nem eu a podia ajudar... eu também não sabia do que é que ele estava a falar...

Já no outro canal a coisa foi muuuuuuuuito melhor. O médico parecia acabado de sair da faculdade de medicina, com aquele aspecto jovem. Mas falou português!!!! A minha mãe ficou a perceber certas coisas melhor e aí o sofrimento na cara era mais que expressivo. (Eu sei que ela sofre para caraças com esta coisa toda)

Quanto ao entrevistado! Oh exemplo de vida! Não é o super-homem, não anda de barco nem barqueta. Depois do baque da notícia enfrentou a coisa descontraidamente, trabalha, tem a sua vida e ainda faz piadas com a doença (palavras dele). Também gostei de um ponto que ele referiu: nós somos mais do que a doença e muita gente à volta de um doente (qualquer que seja doença) parece esquecer-se disso.

Decididamente, o mesmo tema pode ser visto da forma que mais convir. E, muito honestamente, estava à espera que o canal que me agradou mais fosse mais lamechas! No entanto, este tema em questão... mesmo que eu lhe dê o mínimo de importância possível... não gozem comigo!!!

Já agora, eu não me importo se não me perguntam: como estás? Mas... pleeeeeeaaaaassseeee... também não perguntem: como vai a doença? Se eu não tenho um grande impacto, ao menos não dêem importância aos ratos que me roem os cabos...

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