sábado, 23 de março de 2013

Mach Freu(n)de - Schreib Karten

 
 Andava no supermercado às compras quando me deu na telha de ir a uma loja de velharias ali perto. Não sou uma pessoa de fazer compras, mas gosto de passar nestas lojas. Encontram-se bagatelas e raridades que valem a paciência de andar nas compras. Andava entretida quando encontrei vários conjuntos de envelopes com selos colados. Não dizia quantos eram por pacote, mas pareceu-me que valia o investimento. Valeu!
Cheguei a casa, qual miúdo com brinquedo novo, agarrei-me logo a eles: cortei o selos dos envelopes, para ser mais fácil tirar a cola e separei-os em dois grandes grupos: selos suíços e selos do resto do mundo. Nessas lides descobri envelopes com cartas. Comecei a reparar que era sempre a mesma família. Aprendi uma montanha de coisas do Mundo e da Suíça. E sem querer ser abelhuda acabei por conhecer uma família só através dos seus envelopes e selos. GENIAL!

Eram selos desde a década de 70 até quase ao fim da década de 90 do século passado. Em três décadas o que descobri eu?
A Maya (por vezes grafada pelos remetentes Maja [j=i em alemão]) vivia em Elgg na  década de 70, sendo que em 1972 ainda não era casada. Já na altura coleccionava selos e os amigos eram uns queridos, pois compravam a colecção toda e colavam-ma "de qualquer maneira" nos envelopes, só para ela poder ter selos para si.
Na década de 1980 estava a morar aqui na minha cidade e comunicava-se com alguma regularidade com uns amigos que viveram durante um tempo no Canadá e que, antes de regressarem à Suíça, viajaram por vários países do mundo. Pelo menos em 1988 já era casada, pois o sobrenome nos envelopes mudou e muitas vezes eram endereçados à família completa.
Na década de 90 a Maya e o Ruedi (diminutivo de Rudolf [eu não sabia, mas aprendi com as cartas]) tinham um filho com o nome de Michael e moravam num cantão que faz fronteira com o meu e com a Alemanha.
Parece-me que eram apreciadores de vinho, pois encontrei vários envelopes de diferentes casas de vinhos. Sei que alguns anos depois do casamento o marido usou um envelope para deixar um recado à mulher e dizer-lhe que a amava (snif! snif!). Quando viajavam deviam usar uma agência de viagens de Singen (Alemanha), pois encontrei vários os envelopes de agências dessa cidade.
E parece-me que ela já morreu. Os selos eram carimbados até ao fim de 90. E que filatelista pega em centenas de selos (ai tanto trabalho que vou ter!!) e os deixa "de qualquer maneira" numa loja de velharias para serem vendidos ao desbarato?!? Para mim, a senhora morreu e a família desfez-se do que já não interessava. Seja qual for a razão, eu fiquei a ganhar!

As coisas que aprendi do Mundo e da Suíça (sem analisar selos) também são interessantes.
Da Austrália veio um envelope para Schaffausen, Switzerland, Europe. Será que eles precisam mesmo disso?!?
Percebi que, de país para país, há várias formas de dizer que é correio de avião: o envelope com riscas azuis e vermelhas, generalizado pelo mundo todo; by air, escrito à mão, chega para sair da Austrália; em Singapura usaram um carimbo fofo com um avião azul e as palavras via air mail a vermelho.

Com os carimbos não se fica só a saber a data e o local em que foi depositado o envelope. Aqui na Suíça servem para mais coisas: assinalar aniversários do país, de um cantão ou de uma aldeia; servem para anunciar mercados de ovos de Páscoa  em Berna (1988), mercados de Outono, feiras de sei lá mais o quê; fazem-se campanhas contra a fome, contra o abandono e advertem-se os pais para os perigos dos produtos de limpeza que os filhos podem ingerir.
Com a pilha descobri também que em 1987 só se pagava 40 cêntimos de franco (não sei se era correio rápido ou não) para um envio que hoje custa, no mínimo  85 cêntimos (preço correio normal).
Com os envelopes escritos na Suíça confirmei o que já sei há muito tempo: os correios suíços são muuuuuito eficientes. Ele era nomes mal escritos, ruas inexistentes, números de porta numa cidade?!? O que é isso?!?! Não é preciso pôr... E os selos espalhados pelo envelope todo ou uma morada a encher a frente toda?!?! Não são nada de especial para os senhores que vestem cinzento e amarelo!! :D

Do Mundo aprendi também que em 1987 já havia Newsletter (pelo menos era o que vinha escrito por fora), mas que chegavam da Coreia por correio, nada de E-mails para a coisa... :D Quando se enganavam, por exemplo no Japão, eles usavam corrector de pincel como qualquer comum mortal poderia fazer em 1980-e-qualquer-coisa. E por falar do Japão,,, estive com uns envelopes na mão... um papel suaaaaave. Dava vonatde de ter lençóis feitos com aquele material!
No meio de envelopes gigantes, roxos, brancos, verdes, pequeninos, com autocolantes, buracos em forma de coração, escrito a azul, tinta permantente, dourado, branco (não, não me enganei), com pinturas e borrões, encontrei um bastante interessante. Foi enviado de Mallorca para a senhora mencionada mais acima quando ela ainda era solteira. A amiga comprou a colecção toda de selos e prometia-lhe um cacto que tinha andado a arrancar algures na ilha. No verso do envelope, tem-se a foto de uma baía, feita de um monte ou de uma "máquina voadora" qualquer, pois a foto é muito "aérea".

Voltando aos carimbos, para terminar, destaco os que  me cativaram mesmo muito: um era de Singapura e recomendava: Please post early for Xmas (foi o vice-presidente do Credit Suisse que recebeu este envelope).
Havia ainda o apelo à escrita de postais e cartas: Schreibst Du mir, so schreib'ich Dir (escreves-me, então eu escrevo-te); Schreib mal wieder (escreve de novo/de volta) [este era da Alemana]). E o meu favorito está mesmo no título deste post: Faz alegria (Freude)/amigos(Freunde) - escreve postais.

Com meia dúzia de francos e em duas ou três horas que estive de volta destes quadradinhos... eu descobri um Mundo. Dá ou não dá alegria escrever aos amigos, enviar cartas e receber postais?!?!

2 comentários:

teresa disse...

Dá alegria escrever cartas, sim, respondendo à pergunta final do post da Luísa. Há alguns anos, uma amiga que vive longe, teve um filho. Ficou espantada por lhe ter enviado um postal de felicitações (para mim a coisa tornava-se mais comemorativa do que um mail)... é que, sendo mais nova do que eu, estranhava esta forma de comunicação. As cartas, num passado distante, em Portugal (falamos do século XVIII), eram utilizadas pelos professores para ensinar os alunos de então aprenderem a ler, numa época em que os manuais eram inexistentes. São ainda as cartas e postais que nos fazem reviver outras épocas e outras memórias, o que sucedeu com a Luísa ao ter acedido a essa correspondência com algumas dezenas de anos :)

Luísa disse...

Eu também adoro. Sempre que viajo escrevo. Quando viajo por mais tempo escrevo a mais pessoas, quando viajo por menos sou mais selectiva para economizar o tempo que estou a escrever. Quando vou a alguma cidade, aqui na Suíça ou em POrtugal, onde a minha mãe não foi escrevo-lhe um postal. Costumo levar o selo de casa, para não ter que andar à procura de correios. Digo-lhe qualquer coisa simples como "olá de XXXXX. Beijos grades Luísa", meto-o no correio e ele chega dois dias depois de eu regressar a casa. :D

Gosto dos postais em datas especiais, Natal, Páscoa, aniversários... (ainda hoje comprei um postal para um miúdo que vai fazer 3anos daqui a uns dias!!), mas os postais fora de datas são ainda mais deliciosos. Quando fui ao Dubai escrevi para várias pessoas. Uma delas era patroa da minha mãe e fartou-se de me agradecer através da minha mãe. Mas como achou que não era suficiente e como era difícil vermo-nos por causa do meu trabalho, escreveu-me um postal e enviou-mo. Moro a 15minutos a pé da casa dela!!! O meu postal ainda está pendurado na parede dela, o postal dela ainda está em cima da minha mesa de cabeceira.

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