domingo, 10 de março de 2013

De ouvido...

Com o desemprego, ou temos cuidado ou damos em doidos. Para evitar ficar mais doida do que sempre fui (:D) arranjei mil uma coisas para fazer. Dependendo das horas do dia envio currículos, pinto latas de atum com propósito específico, faço patchwork, transformo frascos de champô em suportes para telemóveis e por aí fora.
Como não tenho um rádio (nunca percebi porquê) acabo por ter a televisão a fazer barulho para não me sentir completamente sozinha. Como eu já vi todos os episódios de todas as séries que me interessam e já não posso com programas de opinião, acabo por não os ver e deixo num dos canais generalistas (normalmente esqueço o canal principal do estado).

Com isso percebi que a TVI, entre novelas novas e reposições, tinha (até anteontem) sete no ar.

A Alexandra Lencastre está nas reposições a seguir ao  jornal da tarde e na novela depois do Jornal.
Também nessas reposições está a actriz Manuela Couto que entra umas quantas horas depois na novela nova que antecede o telejornal.
O Ruy de Carvalho é tio da Alexandra Lencastre às 14h, pai de uma das Alexandras
Lencastres às 21h, depois de ter desaparecido da novela das 22h e qualquer coisa.
Na segunda reposição do dia, a Rita Pereira faz par “quanto mais me bates mais gosto de ti” com o Rodrigo Menezes. Coisa repetida na novela das 21h.
Nesse par (das 21h) entra uma namorada raivosa desempenhada pela Mariana Monteiro que é uma protagonista sem sal na última novela do dia, depois de ter sido uma adolescente rebelde irmã do Rodrigo Menezes na reposição das 18h.

E vou parar por aqui porque a lista seria um absurdo e dar-me-ia muito trabalho a procurar os nomes repetidos (eu costumo ouvir as novelas depois do almoço, mas metade dos nomes dos actores passa-me completamente ao lado)!

Mas o que me aborrece não é isto. Se a TVI quer desgastar a imagem dos actores, que esteja à vontade. É dinheiro privado, façam o que quiserem com ele.
O que realmente me aborrece é a qualidade de tudo o que passa na televisão (seja qual for o canal) que vem a decair de dia para dia. Decadência em todas as vertentes. No entanto, hoje só dou destaque às que noto mais quando estou entretida a olhar para a máquina de costura.

Ele é jornalistas a não saberem distinguir cumprimento de comprimento e a dizerem coisas lindas como comprimento das funções. Quais?! As de matemática?!
Que raio se passa com a colocação de clíticos? Já ninguém sabe o poder de uma negativa (e outras coisas que tais) sobre os clíticos? Ou Ele disse que viu-o. é português ao abrigo de que acordo?!? Em que país?!?!
Depois são as adições das drogas. Isso é o quê? As contas que os traficantes fazem para saberem se os seus revendedores os enganaram?!?
Lembro-me de há tempos ouvir uma publicidade a um artigo que ajudava a suportar o seu bebé. Oh meus amigos!!, coitada da criança que não tem culpa de ser insuportável para a mãe ter que o suportar em vez de a apoiar!
Parabenizar é mau, mas despoletar para equivaler a começar ainda é pior.

Sigamos para outras coisas que se escutam...
Quase não há jornalistas que tratem os entrevistados com formalidade adequada. Tudo o que tenha menos de 25 anos é tuteado por jornalistas de meia tijela. 
Penso que há jornalistas que são frustados, queriam ter apresentado o Caderno Diário como o Pedro Mourinho, como não conseguiram, transformam o jornal das oito no seu ponto de encontro com os tipos fixes e porreiros, pá!, usando uma linguagem banal. Detesto gente armada ao pingarelho que só fala caro, pois os serviços informativos são vistos/ouvidos por todas as classes, mas vamos lá com calma... se é um telejornal não é para coloquialidades a torto e a direito. E as entrevistas a Manéis... que é feito do bom ManUel?!?

A seguir temos os jornalistas com mestrado em arrastanço. Estamos aqui aaaah com o chefe aaaah dos bombeiros para aaaah nos explicar aaaah  o que aaaah se passou aaaah nas últimas horas aaaah... Oh por favor! Podem respirar fundo antes dos directos e parar de falar como se fossem crianças a mentirem ao professor da primária?!?!

E, por fim (do que me apetece mencionar hoje), temos a entoação.
Acho que só li um poema em voz alta em toda a minha vida. Sempre que pude, fugi. Até ao dia em que o meu professor de português do 11.º me obrigou. Era um Romântico. O poema, não o professor. Fiz birra como uma miúda no infantário, mas ele levou a melhor. O professor, não o poema. No fim, passei uma vergonha enorme: Sempre a fugir e afinal leste na perfeição. Xiiii! Ainda hoje fico corada com o elogio! Não sei, nunca gostei de me ouvir a ler poesia, mas ouvir os jornalistas a lerem os textos informativos... em prosa... ME-DO!
São frases que parecem estar concluídas e-de-repente-aparece-mais-informação-que-parecia-faltar-mas-que-não-se-tinha-a-certeza-se-ia-aparecer-ou-não. É informação que fica distorcida, pois não se sabe se é garrafas de vinho, do Porto ou se é garrafas de Vinho do Porto. É a cadência que nos provoca sono ou nos irrita...

Tenho a certeza que, caso estivesse a olhar para o televisor, iria encontrar muito mais o que dizer sobre o português, os milhentos textos em rodapé que escondem as legendas e cansam os olhos dos telespectadores. Mas acho que já chega por hoje.

Desenganem-se (nada de se baralharem como o Vítor Pereira), se continuam a não ter cuidado, se não exigirem excelência, qualquer dia voltamos atrás no tempo e só se ouve barbar barbar...



4 comentários:

teresa disse...

1-Concordo sobre as matérias importantes que são aqui apresentadas em tom bem humorado. A expressividade da leitura tem (digo eu, com os nervos) tem de ser ensinada desde a infância. A última entrevista que transcrevi, hei-de enviá-la à Luísa quando for revista pelo entrevistado, referia o facto de, nas aulas de teatro que dava, o escritor (dramaturgo) em questão, estranhar a leitura monocórdica dos candidatos à representação (e a papéis de novelas da TVI, sonho máximo de fama para estes jovens)...
2- A última pérola jornalística que ouvi prendeu-se com o Carnaval «Jardim voltou aos desfis...»
3- Para concluir, conhecemos uma senhora de muita idade que, nos tempos áureos das novelas da Globo na nossa tv, ficou com o seu problema de saúde agravado (as desculpas pela falta de rigor no rótulo da coisa), pois via novelas ao longo do dia e já baralhava o psicopata com o padre da aldeia (o mesmo actor em duas novelas diferentes) ou a senhora beata que, noutro horário, era dona de um estabelecimento pouco recomendável... Perigos deste mundo ficcionado :)

Luísa disse...

A parte das novelas era memso para aligeirar. No entanto, gosto da filosofia da Rede Globo: não usam o mesmo actor em novelas consecutivas para não confundir os espectadores e não cansar a imagem dele! (ouvi uma entrevista há uns anos sobre o Toni Ramos e vi que só é aplicada só no Brasil!!!)

Quer-me parecer que as pérolas jornalísticas deixaram de ser pérolas de tão banais que são. É impressionante!! Num telejornal quase não há peças que não tenham uma 'bacorada' qualquer. É triste! E muito revoltante!!

Essa dos candidatos surpreende-me ao mesmo tempo que não me surpreende nada. Como é que uma pessoa quer vingar no meio da expressão dramática se não é capaz de usar de fazer uso da expressão?
Por outro lado, muitos há que "axam que é bué da fixe fazer castings e coisas assim pa ir pós morangos. Pq é bué baril ser conhecido."

E isto sem falar nos pontos normais de pais desligados dos filhos, os professores sem qualquer interesse pelos alunos… Quando vejo ao longe, falando só da disciplina de Português: tive 7 professores e só 3 mostraram verdadeiro interesse pelos alunos, os 3 que eram os mais exigentes comigo e com os quais tive as melhores notas... Mas isso foi noutro século… Não sei onde se vai parar neste… :(

teresa disse...

Pois precisamente, o entrevistado, um apaixonado por teatro desde a infância e escritor de diversas peças, diz isso mesmo «muitos dos alunos da Escola Superior de Teatro sonham com participar nas telenovelas, é isso que os leva ao curso» :(

Luísa disse...

Depois dizem que fizeram formação que não lhes serve para nada. Pudera, se se dedicassem a algo com pés e cabeça... :s