terça-feira, 17 de outubro de 2017

Coitadas das árvores

A minha mãe herdou meia dúzia dúzia de terrenos. Uns de cultivo e outros de pinhal. As propriedades dela são minusculas e só dão despesa. Sempre que vou de férias lá ando eu a fazer por manter os terrenos limpos. Umas coisas faço eu, oitras arranjo quem faça e pago. Quando é a vez de ela ir de férias, ela dá continuidade ao meu trabalho. Os pinhais, pequenos e com um.eucalipto ou outro  qur nasceu de uma semente trazida num bico de um pássaro, vão sendo limpos conforme a necessidade. Se encontramos um pinheiro seco tratamos de o mandar a baixo para não pôr nada nem ninguém em risco. Não são latifundios, mas temos orgulho naquilo.

Este fim-de-semana a tragédia chegou até nós. A minha mãe acordou com a luz do tablet que se acendeu porque estava carregado. Como foi para a cama a pensar nos fogos, nem pensou que o clarãp era dentro de casa e com o susto veio para a rua. A sorte dela e doz vizinhos! Caiu uma fagulha em frente à casa da melhor amiga dela. Com muitos gritos acordou a vizinhança e conseguiram evitar a tragédia. Na Segunda-feira, resolveu passar junto a um dos nossos pinhais. Todo ardido. Bem.como o carvalhal que estava ao lado, bem como um souto que estava do outto lado. Salvaram-se as casas. Mais nada. 

Não havia eucaliptos por ali. Por isso é que me revolta que culpem os eucaluptos. Não digo que os eucaliptos não ajudem na seca e em tudo o resto. Mas... não, eles não ardem sozinhos. A culpa é primeiramente de todos nós. Os que não limpam as matas, os que não fazem ordenação do território, os que fazem queimadas, os que não controlam tudo o que é necessário controlar: se a mata está limpa e ordenada, se há incendiários, se as bocas de incêndio existem e estão a funcionar...

Dentro da minha aldeia havia uns eucaliptos gigantes. Eram precisos vários homens para abraçar um. Eram um ícone da aldeia. Debaixo deles faziam-se as festas de S. Pedro, com churrasco e fogo de artifício. Nunca arderam. Só saíram de lá porque um caiu em cima do cemitério e tiveram receio que algo pior acontecesse com os outros. Se calhar até a queda poderia ter sido evitada, mas não adianta perder tempo a falar disso, eles já lá não estão. No entanto, falo deles para mostrar que a zona, mesmo com todos os factores de risco, em tempos idos não ardeu. E agora... que não há eucaliptos nem festa de S. Pedro (é em Junho, para quem não sabe), aquilo ardeu e as pessoas viram-se e desejaram-se para salvar as casas.

Não, os eucaliptos não são a razão para a tragédia de Pedrógão. Não, os eucaliptos não são a razão para a tragédia deste fim-de-semana. Não, os eucaliptos não têm culpa. Porque ainda não se provou que existem árvores de se destruirem por autocombustão.

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