quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Impotência

Já por aqui disse que deixei de ver/ler notícias com regularidade. Ou porque me dá vontade de bater em alguém com certas aberrações que me "aparecem em casa" ou porque as notícias são tão tristes que eu fico deprimida e não consigo dormir.
A semana passada deu uma reportagem que eu não vi, nem sei bem porquê, mas a minha mãe ficou tão impressionada que ma relatou da melhor forma possível (isto é, com muitos pormenores). Eu devia ter-lhe dito para se calar, mas achei que ela precisava de falar e que, por ser de forma indirecta, a reportagem não me iria afectar. Quanta ingenuidade!!

Falava-se dos portugueses com problemas na Suíça. Mostraram dormitórios onde portugueses dormem com asilados de outras latitudes. Falou-se do problema da língua, que é um entrave enorme na procura de trabalho ou de, pelo menos, ajuda. E alguém disse que teve que ir ver, para crer, os homens que dormem na estação de comboio de Zurique. Eu achava que não ia ficar muito afectada, mas hoje percebi que não é nada disso.
Inscrevi-me num curso de francês à noite, uma vez por semana. E é em Zurique. Assim, todas as Terças-feiras, por volta das 19h15 chego à estação principal e por volta das 21h45 regresso a casa. Hoje, mal saí do comboio, comecei a olhar para a estação de forma diferente. Parecia que procurava algo fora do normal. Quando me apercebi que procurava sinais de alguém abandonado, a precisar de ajuda. Era cedo demais para tal. Mais tarde, a estação estava mais calma, como é habitual, mas os sinais de pessoas a quererem dormir também não estavam lá. No entanto estava uma coisa horrorosa: o frio.
Algumas estações de comboio têm como que uma salinhas de espera com aquecimento. Mas eu acho que a de Zurique não tem. Quem dormir ali tem tanto frio como se estivesse numa berma de uma estrada.

Hoje, pela primeira vez em muito tempo, não olhei para a estação de Zurique com bons olhos, como  algo apelativo e vim o caminho todo até casa a aguentar as lágrimas.
Eu sei que há sem-abrigo em todos os lados e sempre me impressionou vê-los qm qualquer parte por onde passei. Mas ser sem-abrigo assim... deve ser bem pior. Há sem-abrigo que fizeram más escolhas e por isso não têm nada e desses, lamento!, não tenho muita pena. Mas a mairoia dos que por aqui andam vieram porque teve que ser. Porque já não havia esperança no "jardim à beira-mar plantado", porque ainda tinham esperança noutro sítio. Essa esperança, por algum motivo vai sendo tirada a pouco e pouco.

Imaginem-se sem amigos, sem a família, sem saberem falar a língua para pedir ajuda, sem trabalho e sem casa. É uma merda, não é? Agora juntem os 4 graus negativos que estão em Zurique neste momento...

Quiseram tirar o Carnaval porque é preciso trabalhar. Recomendaram a emigração. Se soubessem o quanto custa sem ter privações... estavam caladinhos e mandavam esses merdosos com nome de bebida russa dar uma volta. Se sonhassem como é com privações... então nem sei bem o que poderia acontecer de positivo para o nosso país.

Se vocês soubessem como me sinto triste por saber que neste preciso momento está gente a tentar não morrer gelada a 26km de mim e não eu sem poder fazer nada... vou tentar dormir.

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