Segundo li, Luísa significa guerreira, numa língua nórdica qualquer.
Talvez sim, talvez não. Hoje sinto-me mais um rato do que uma guerreira. E constatei que, mesmo sem a lancheira, mesmo só tendo passado por lá de carro, tenho muita coisa parecida, mais do que o que queria, com a Luísa que sobe a Calçada...
Luísa sobe, sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga,
puxa que puxa, larga que larga,
puxa que puxa, larga que larga,
puxa que puxa, larga que larga,
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga,
puxa que puxa, larga que larga,
puxa que puxa, larga que larga,
puxa que puxa, larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Calçada de Carriche -António Gedeão- no dia dela, da Poesia
2 comentários:
Que belo Poema, Luísa.
Acredite, que somos mulheres de fibra.
Boa semana
Olá Luisa!
É isso mesmo, somos de fibra. Só que de vez em quando também nos vamos abaixo... foi o caso de ontem. Hoje já é outro dia, já é outro humor.
Quanto ao poema do Gedeão, também acho que é lindo. Descobri-o há uns anos numa entrevista da Odete Santos, onde ela o declamou lindamente. É um dos "Top 3". Está empatado com "Cântico Negro", de José Régio e "Não te amo", de Almeida Garrett!
Boa semana para si também! ;)
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