quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Com a cabeça nas nuvens

Nuvem é um conjunto visível de partículas diminutas de gelo ou água no seu estado líquido, ou ainda da combinação das duas, que se encontram em suspensão na atmosfera, após se terem condensado em virtude de fenómenos atmosféricos. A nuvem pode conter partículas de água líquida ou de gelo em maiores dimensões e partículas procedentes, por exemplo, de vapores industriais, de fumos ou de poeiras.
As nuvens apresentam diversas formas, que variam dependendo essencialmente da natureza, dimensões, número e distribuição espacial das partículas que a constituem e das correntes de ventos atmosféricos. A forma e cor da nuvem depende da intensidade e da cor da luz que a nuvem recebe, bem como das posições relativas ocupadas pelo observador e da fonte de luz (sol, lua, raios) em relação à nuvem. (texto modificado, retirado da Wikipédia)
Entre outras, existem os cirrus, cirrocumulus, cirrostratus, altostratus. E existem as minhas nuvens preferidas: Simpsons (até acabam em /s/ e tudo :p).
Eu não entendo como é que o Matt Groening conseguiu aquela cor das nuvens, mas eu adoro. E aqui é relativamente comum ver nunvens Simpsons. Hoje foi um desses dias. Só não estavam com aquele aspecto redondinho e arrumadinho da série de culto, mas enmcheram-me o olho ao fim da tarde.
Como gostei, quis partilhar; como o telemóvel é péssimo para registar qualquer fenómeno da natureza... aqui ficam, numa qualidade duvidosa, as nuvens Simpsons originais.



domingo, 27 de setembro de 2009

Foi a PDL

Hoje fui à cidade (quer dizer, eu moro na cidade, eu fui ao centro da dita) comprar uma caixa de bombons. Ia com destino ao único supermercado/centro comercial que está aberto 363 dias por ano. Não me lembrava que hoje era dia da baixa da cidade ter as portas abertas. Durante umas 5 horas, esta tarde, em regime ultra excepcional, as lojas tiveram as portas abertas. Havia balões e vendedores de salsinhas (além do comum hot dog, os suíços compram e comem na rua outras variedades de salsinhas grelhadas). Só sei que desci a Markt Gasse e a Untertor (ruas que equivalem à Rua Augusta, em Lisboa) e vi muito movimento em relação a outros Domingos, mas nada que se compare a um Domingo no Vasco da Gama ou no Colombo. E ria-me com o que via, com as diferenças culturais, de valores, de rpioridades. Porque aqui, aos Domingos, fazem-se coisas mais importantes e interessantes do que ver cuecas e soutiens...
Então, as lojas abrirem aqui em regime especial é mesmo a puta da loucura!
Foto: daqui.

Google feiert 11. Geburtstag








Ando eu à procura de uma coisa na Internet quando vejo que o Google faz 11 anos. Já?!? Parece que foi ontem...
Mas eles podiam ter arranjado uma coisita mais bonitinha. De tanta bonecada que arranjam, só conseguiram arranjar dois 'L' para assinalar o aniversário?!?! Um pouco pobre...
No entanto, parabéns!

Hoje é dia de eleições

















Os suíços vão, pela enésima vez este ano, votar. Referenda-se uma questão de aumento de impostos e uma questão de seguro de invalidez. Se há mais temas não sei, até porque pode haver noutros cantões e não haver aqui. Em breve, se eu entendo bem o que me corre à frente dos olhos, vai também haver eleições para eleger os novos sete presidentes da Confederação Helvética.
Aqui, aplica-se à letra a definição de democracia apresentada por Karl Popper (1902-1994). Eles, de forma pacífica, mudam o que acham que está mal no seu país, entre outras coisas, livram-se dos governos de que não gostam.
Só acho que HOJE devia haver mais gente a seguir o exemplo.
Foto: aqui.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Não sei que título colocar...





Sem qualquer modéstia. Eu sou boa no que faço. Tudo o que eu aprendo e me proponho a fazer, faço bem, com empenho e (quase) sempre de sorriso na cara. Sempre que saí de algum emprego que tive, foi por vontade própria ou por imposição da vida, mas nunca fui despedida. Além disso, em todos os sítios que saí sei que posso voltar a pedir trabalho que ninguém me fecha a porta. E tenho o maior orgulho nestas linhas que escrevi!!!

Faz amanhã um ano que comecei a limpar uma garagem (stand de automóveis). Era eu e um rapaz português, tínhamos que limpar aquilo em 3h30m, mas conseguíamos fazê-lo, sem pressa, em 2h30m. O chefe da garagem é uma pessoa fantástica e o trabalho não nos matava. Mas já não dava mais. Escola, mais a garagem, mais a estufa, mais as horas de viagem, mais as outras minhoquices de todos os dias... estavam a dar comigo em louca. Por isso, despedi-me ontem. Fui ao escritório pedir material e aproveitei para me despedir. A secretária aceitou o meu despedimento verbal e tratou de arranjar um substituto. Encontou-o ontem mesmo. Hoje fui ensinar o meu trabalho ao senhor e foi o meu último dia lá.

Não ganhava uma fortuna, ficava cansada por ter que correr entre os dois trabalhos, sinto-me aliviada. Mas...
O tal chefe fantástico era mesmo porreiro, quando pedia que fizéssemos algo extra agradecia imenso antes e depois. A semana passada tinha pedido que eu limpasse algo que não é (era) da minha competência. Hoje perguntei-lhe se estava bem e só faltou receber dois beijinhos (três... eles aqui dão mais beijos!!). E disse-lhe logo a seguir que era o meu último dia. A forma como ele perguntou : "Wieso?" (Porquê?) deixou-me mesmo feliz. Sei que o meu trabalho foi, uma vez mais, reconhecido. Por isso, apesar desse alívio, justificando aquele "mas..." que está um pouco acima, sinto-me um pouco triste por ter deixado o trabalho.

domingo, 20 de setembro de 2009

Girassóis ou amendoeiras? Amarelo ou azul?

Quando se pede a alguém que diga uma planta e uma cor associadas a Vincent van Gogh, toda a gente responde girassóis e amarelo. Para mim, antes também era assim, mas desde que há uns anos vi uma exposição com trabalhos dele, mudei de opinião.
Para mim, as flores são as das amendoeiras e das cerejeiras. Influenciado pelos japoneses, ele fez quadros lindíssimos com estas flores. Parece que estamos num pomar e se soprarmos elas vão voar com a mesma facilidade que voam as reais.
A cor é o azul. Ele tem azuis diferentes que me agradam muito, há os fortes de céus de noites estreladas, de céus com ciprestes. e depois há um toque de azul que ele dá a certos quadros que na realidade não é azul, é mais ou menos cor de alfazema. Esta cor pode ser a influência da sua estadia na Provença, ou pode ser só um acidente, mas é lindo. Aquela cor indefinida entre um rosa e um azul, mas que me obriga, sem eu saber porquê, a pensar mais em azul, é simplesmente fascinante. Já tinha descoberto há um tempo no seu "Semeador" e hoje voltei a ver.
Hoje fui a Basel ver a exposição Die Landschaften, zwischen Erde und Himmel (As paisagens, entre a terra e o céu) e vim de lá em extase, como sempre. Descobri quadros novos, revi alguns e começo a acreditar que Winterthur será o sítio onde há mais quadros de van Gogh, se excluirmos Amesterdão.
Achei fascinate ver que as reproduções dos quadros dele perdem todo o brilho, que temos mesmo que ver ao vivo e acores. Eu já sabia que tal acontecia, mas nunca pensei que fosse tanto em certos quadros. As cores são vivas, brilhantes, parecem acabadas de pintar. Em certos momentos, olhando para os quadros, parece que ele tem uma luz a insidir numa parte específica, outra coisa que me encanta...
Eu não sou crítica de arte, não sei descrever um quadro e os seus encantos como se o fosse. Sou uma simples leiga que se fascina com este senhor que infelizmente partiu tão cedo.
Sabiam que ele pintou 75 quadros em 70 dias? Sabiam que a industrialização foi uma temática na sua pintura e uma inovação para a época? No entanto o campo sempre esteve presente no seu imaginário.
A prova disso é por exemplo este quadro que descobri hoje. Nunca o tinha visto, nem numa microscópica reprodução. Garanto que ele é escuro, mas não é tanto. O lenço da senhora é vermelho e consegue destacar-se no quadro. É mesmo um lusco-fusco, em que conseguimos ver partes destacadas, mas outras já apagadas pelas sombras da noite que chega lentamente.
Apesar de não ter visto o meu quadro preferido (pensava que poderia estar lá porque também é uma paisagem, mas não), adorei, adorei, adorei.




Cottage and Woman with Goat
1885
Städel Museum
Frankfurt

sábado, 19 de setembro de 2009

Tão velhinha!!!

Quantas vezes dizemos isto quando algém se lembra de cantar uma música de 95 ou 96? E quando são mais antigas? Parece que estamos a ouvir um Discos Pedidos Revivalista.
Aqui é o que me acontece todos os dias. Qualquer rádio passa o último single dos U2 da mesma forma que passa a 'ABC' dos Jackson Five.
Isso tem dois ou três pontos bastante positivos.
Primeiro, não nos esquecmos (ou ficamos a conhecer) os grandes hits de outros tempos.
Depois, toda a gente pode ouvir a mesma rádio. Um adolescente de 15 anos não se importará muito por ouvir uma música da Glria Gaynor porque sabe que a seguir vai ouvir Stress (este rapper suíço, até eu gosto de ouvir) ou Beyonce.
E, em terceiro lugar, não nos aborrecemos se ouvirmos rádio todo o dia. A minha rádio de eleição em Portugal era a Antena3, mas aborrecia quando estava o dia todo a trabalhar no computador. Das 7h às 10h eu ouvia no programa da manhã a música X que ia repetir entre as 10h e as 13h, entre as 13h e as 15h e por aí fora, confrome mudavam os locutores. Só a partir das 19h, a começar na Prova Oral, é que eu tinha a certeza que não me ia aborrecer até à 1h da manhã (sinto muito, mas nunca fui muito amante de Alta Tensão, que era entre a 1h e as 2h).
Não sei como está agora o panorama musical, tanto na Antena3 como na rádio portuguesa em geral, mas antes falava-se nas malditas playing lists que condicionam um monte de coisas. Eu não sei se aqui existem como em Portugal, mas se houver elas são bem compridas. Acho que seria uma ideia para retirar daqui. Alargar o espectro das playing lists e apesar de poderem repetir o autor ao longo do dia, poderiam mudar a música. Que é coisa que acontece com frequência aqui com meu amigo Robbie Williams. Para meu gáudio! :D

Depois de alguma pesquisa para confirmar datas, descobri que esta é a música mais antiga que ouvi a passar na rádio generalista de cá.



Já me perguntei se, se na época barroca houvesse gravação de viniis, cassetes ou CD, eles também passariam um concerto de cravo?

O casaco rosa



















A história que vou contar está quase a fazer 3 anos e é uma espécie de resposta a parte do comentário da Ângela que se pode ver aqui

Nota introdutória para quem nunca me viu, mas passa por aqui: eu gosto de ser prática a vestir, jeans, top, chinelos ou ténis e pronto. Mas normalmente são calças de ganga a cair aos bocados, t-shirt sobre t-shirt com top, mais não sei o quê, numa amálgama de cores e formas acrescentando fitas coloridas, unhas pintadas e unhas por pintar, ou então uma de cada cor... Tenho um brinco que é uma argola que já comprei há muito anos aqui na Suíça e ela vai saltando de uma orelha para a outra para não fechar o buraco, na orelha "vazia" podem surgir brincos com formas estranhas, como aranhas. Normalmente as minhas malas são grandes, sempre cheias de tralha e lixo (lenços de papel amarfanhados, mas por usar, sedas de rebuçados, bilhetinhos). Não tenho vergonha se ser como sou. Ando sempre limpinha e não peço nada a ninguém!

Eu, a S. e o R. éramos colegas de faculdade e fazíamos os trabalhos de grupo sempre juntos. Depois de termos estado a trabalhar num final de dia de Dezembro sei que demos uma volta por Alvalade e passámos na Avenida das Farmácias, peço perdão, na Avenida da Igreja. Numa loja estava um casaco espetacular. Era de um corte completamente clássico, num rosa choque que dava para ver do espaço, com uns botões enormes, parecia que tinham sido tirados de um fato de um palhaço. Passei de relance, mas depois voltei para trás para ver o preço. Como faltavam poucos dias para o Natal pensei que o Menino Jesus, o Pai Natal ou mesmo os meus pais pudessem ser simpáticos. Voltei decepcionada, era demasiado caro para o meu gosto.
Eles viraram-se logo: "Tu nunca usarias aquilo!". Eu pensei que fosse por causa da cor, pensei que eles achassem a cor demasiado berrante até para mim. Mas não, eles achavam-me incapaz de usar um corte clássico. Ui! Foi uma discussão daquelas. E eu só dizia: "Eu tenho um casaco clássico. Não usarei aquele casaco só porque é muito caro!". E aqui d'el rei que não, que eu jamais usaria um corte clássico.
Resultado, uns dias depois apareci na faculdade com um casaco de corte clássico que eu já tinha arrumado a um canto de tão puído que estava (e tive uma pena de o deitar fora, mas 6 Invernos a usá-lo todos os dias!!). O R. só se virou para a S. e disse: "Olha! Ela tem mesmo um casaco de corte clássico!!". Eu não disse nada. Conheço-me suficientemente bem para saber que se abrisse a boca ia dar mais peixeirada e para mim bastava-me ter razão!

Na definição do meu irmão, eu sou uma normal anormal. Ele quer dizer que eu sou uma normal porque não me integro num grupo específico como o dos betos ou dos metaleiros ou dos punks, mas, ao mesmo tempo, destaco-me desse grupo de pessoas que não se enquadram num estilo próprio. Resultado, tenho um estilo próprio sem fazer nada de especial. E por assim ser, há pessoas que me acham incapaz de ser elegante. Confesso que prefiro o meu estilo normal/anormal que nunca copiei de ninguém, mas juro que também acho piada a um fato de saia travada ou mesmo um "calça e casaco", só é preciso ter a vida e o corpo adequados a tais trajes. Estão a ver-me a andar de saia travada no 44 em hora de ponta? Havia de ser lindo! E depois... quem lavava e passava?? Ou agora que não tenho problema com os transportes... devia ser giro eu ir para as estufas de saia travada... talvez desse resultado com a trotineta...

Isto para chegar onde?
Nós, por vezes (a maior parte), não conhecemos as pessoas como pensamos que conhecemos. Julgamos (entenda-se também como "avaliamos") muito os outros. Podemos não julgar de forma consciente, mas julgamos. Somos humanos, julgamos todos os dias quase tudo o que nos rodeia. Resta saber se nos conseguimos soltar desses julgamentos ou se nos deixamos levar por primeiras impressões, por ideias pré-concebidas ou outra coisa qualquer...



Ângela, no teu comentário lamentavas não termos tido mais contacto. Não lamentes. O leite já está no chão. Se agora eu te pareço uma coisa diferente de quando andámos na faculdade, garanto-te que alguma das impressões está errada (podendo mesmo estar as duas!!). Não mudei muito e o pouco que mudei foi para pior (acho que estou mais arrogante do que era!!).
O que se pode fazer é olhar para a frente porque atrás vem gente! Se não contactámos antes, contactamos agora. A Internet tem a capacidade de juntar quem está longe! ;)

Quanto ao casacos clássicos... comprei um no Inverno passado. Em tweed. Agora quanto ao rosa... já não sei o que fazer. Vi um num rosa escuro e o mesmo modelo em roxo. Que faço? Eu gosto das duas hipóteses (quase no fim deste slideshow aparecem duas moças com um "Mantel" por 99fr, é giro não é! Agora a cor?!?)...
Surpreendente foi a compra que eu fiz há duas semanas, comprei um casaco de algodão (tipo fato de treino) verde. Verde, mesmo verde... A ideia era ele ser para o trabalho, mas não me consigo soltar dele. Isso sim, é que é de espantar. Até a mim me deixa de boca aberta quando o visto!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Deixa-te de filmes!

Sir Sean Connery é reconhecido também pela voz, pelo sotaque escocês. Quem não se lembra de "Are you talking to me?" ou de "I'll be back."? O Al Pacino também tem uma voz oarticular e interessante. Entre tantos outros.
Agora imaginem um Robert De Niro a dizer "Du laberst mich an?". Como se diria por aqui, schreklich, assustador, não'
Pois, aqui, como no resto da Europa, com a excepção de Portugal, é tudo dobrado. Há uns anos ouvi dizer que estávamos super atrasados na questão de dobragesn. Pois bem, adoro esse atraso. Até os mais novos, em Portugal, não gostaram de ver o Harry Potter dobrado, imagine-se eu que sempre me habituei a ouvir o original!!!
mas que é que enfia isso na cabeça dos suíços. Os meus colegas não entendem como é que eu não vou ao cinema com eles, porque é que não aceito uma sessão cinéfila em casa de um deles. Dizem que é um bom treino para o meu alemão. É um facto! Mas também é um facto que qualquer comédia se pode tornar num filme de terror para mim. Por isso, televisão e cinema... esquece! Só em DVD!
No entanto, os suíços têm uma coisa óptima no que respeita aos filmes. Vêem-se filme a estrear na Televisão pouco depois de saíre, ao mesmo tempo que se vêem filmes que foram rodados quando eu não era nascida: Séries policiais, como por exemplo "24", cruzam-se com "Crime, she wrote".
É bom haver a mistura de clássicos com modernos, assim percebem.se a evolução e as influências de uns sobre os outros.
Além deste ponto positivo, existe outro associado ao "cinema em casa" que me agrada. Os horários são esoclhidos de forma criteriosa. Não se vê um filme violento à hora de toda a família estar acordada. E melhor ainda... os filmes passam cedo. Meia noite e já está a dar o segundo filme da noite!!!

E tudo isto, porque em conversa com uma colega minha, tomei (real) consciência de que nunca tinha visto o Grease...


Luzia O.














Na minha turma do secundário, havia uma tal de Luzia O. que eu odiava. Não sabia porque a odiava, mas também não precisava de saber o motivo exacto. A adolescência permite que se ame e se odeie sem qualquer motivo.
Com a distância temporal e também física (só a vi uma única vez, e ao longe, depois que saí do secundário) decidi pensar no que me teria levado a odiá-la tanto... até que encontrei o motivo.
Ela tinha boas notas. E eu não a odiava por ela ter boas notas (a melhor aluna da turma era espetacular e eu dava-me muito bem com ela). Eu odiava-a e às suas notas porque ela tinha notas que não merecia. Não sabia escrever (ortografia, sintaxe e semântica) num português normal para aluno de 9.º ano. Os conhecimentos gerais e específicos dela... quer dizer... reduziam-se ao que papagueava dos manuais, dos professores e um livro qualquer que por acaso lesse. Massa crítica! Melhor não falar! Mas eu morava com freiras, com miúdas filhas da droga, da fome, da prostituição, de pais incógnitos. Não era bonito a "menina bem" ter pior nota do que a filha de dois operários fabris emigrados!
Os exames nacionais chegaram e senti-me vingada. Tive notas que chegaram ao dobro e consegui ser bem melhor do que ela para espanto de todos (menos meu!).
Ao entrar na faculdade, pensei que as coisas mudavam (oh! ingenuidade!), mas não, as Luzias O, continuaram por lá.
Fiz provas em que o meu conteúdo era coincidente com o de outros colegas e com melhor estrutura. Mas eles passaram com altas notas e eu tive que repetir a cadeira.
No 4.º ano (repare-se que era o último da licenciatura) pedi uns apontamentos e ia-me dando uma coisa. Já não sei de todas as asneiras, mas uma era muito interessante. Ou era o cardinal 100 escrito com /s/ ou era a preposição /sem/ esctrita com /c/. Uma aluna da licenciantura em Português-Inglês!
Depois chega-se ao 5.º ano e ao estágio e acaba-se o estágio e passa tempo sobre o estágio e continua-se sem trabalho e vêem-se essas barbaridades a circular pelas escolas, mas agora no lugar de professores.
Olhando para os meus certificados, eu sou uma aluna mediana, mas sei que "saiem" não é a terceira pessoa do plural do verbo /sair/ em português, simplesmente é um erro. Sei que, se queremos brincar com um amigo, podemos "gozar", mas nunca "gosamos" com ele.
Não sei se é porque eu não debito a gramática da Maria Helena Mira Mateus et alii de ponta a ponta, se é porque sou morena e uso óculos, se é porque nunca percebi Fernando Pessoa e, por conseguinte, não gosto dele, se é por ser de Viseu e não ter, infelizmente, o sotaque de lá bem carregado. Juro que já tentei perceber, mas não econtro um motivo minimamente válido para justificar as melhores notas de alguns, as cartas de recomendação de outros. É que também não entendo como é que um professor (universitário, não um "vulgar" "stôr" de básico) dorme à noite depois de recomendar um ex-aluno que dá erros de escola primária ou, numa expressão que acho interessante, de palmatória, isto é, uma Luzia O.. São estas coisas que "doiem", como escreveria alguém que eu conheço.
Com o passar do tempo, também precebi que o meu ódio não era para a Luzia O.. Apesar de ela ser parvinha, não é motivo para a odiar, só não gosto dela.
O meu ódio é para com o sistema, os professores, os avaliadores, os legisladores que permitem que Luzias O. entrem no sistema de ensino.
Mas perceber isto tudo... não seria com 15 anos que eu o faria. Há que ver que sou inteligente, mas não sou um génio - nunca fui, nem pretendo vir a ser.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mieterinformation Nr. 4
















O meu prédio, como podem ver, está amarelinho! Há dias, ao chegar a casa, vi que o reforço do revestimento estava pronto e achei engraçado. No fim de levar a cobertura vai ficar cinzento escuro. Tinha mais piada esta cor, mas eu não mando.

Esta introdução é só para dizer que o meu prédio está em obras. Aqui, quando não há obras grandes, eles arranjam obras pequenas, recuperação, limpeza de fachadas, etc. E chegou a vez do meu prédio. Para chegar ao estado que está vejam os passos que foram dando:

1. recolha de imagens do espaço, medições, trabalho de escritório, etc., antes de Fevereiro;
2. envio para todos os apartamentos de um caderno do projecto, caderno que contém: planta, fotos, datas (com a possibilidade de desvios, vêm discriminados os dias em que se faz cada coisa, quando começa a montagem de andaimes, quando se retiram os estores velhos, entre outras coisas), regras para os funcionários, contactos telefónicos (emergências incluídas), nomes das diversas empresas que entram na obra (quem cobre a fachada não é o mesmo que muda a porta, nem o mesmo que muda os estores, etc.), etc.;
3. com o início das obras mesmo a chegar (final de Julho), colocam-se avisos (que vão mudando conforme muda a semana, já perdi a conta ao número de folhas que vi lá em baixo), números de contacto e as regras de segurança na entrada do prédio;
4. com a obra em curso (a partir da montagem dos andaimes) recebem-se cartas em casa a avisar de uma ou outra actividade que envolva os apartamentos, por exemplo: mudar a porta da rua implica mudar as fechaduras dos apartamentos, pois num sistema que eles usam aqui, e eu desconheço em Portugal, cada chave abre um apartamento, mas todas abrem a porta da rua.

Não sei se há mais pontos, porque a obra ainda não acabou, mas... há mais coisas interessantes!

No sábado resmunguei profundamente quando fui acordada pelo trabalhar de um berbequim. Ontem recebi uma carta do escritório do arquitecto que fazia o aviso (Mieterinformation Nr. 4) da conclusão de uma parte da obra e, ATENÇÃO AO QUE VAI APARECEER A SEGUIR, pedia desculpa pelo incómodo de sábado, dia 12 (sim, especificava deste modo). OUTRO PORMENOR MUITO IMPORTANTE é que a carta vinha assinada. Sim, com caneta azul; não, não era uma impressão de uma assinatura. Fiquei tão parva com a cena que já não me importo que venham fazer barulho ao Sábado, se quiserem até podem vir no Domingo, já que eles têm consideração por nós...


Hoje, na aula, o professor, a propósito de uma frase de Francis Bacon, perguntou o que levaríamos daqui para os nossos países. Não o fez, mas se ele me perguntasse a mim, acho que diria que levava a organização. Não digo que seja necessário tanto pormenor, com tanta carta, tanto papel, mas... pelo menos perceber quando as coisas têm começo e fim e quem é que vai fazer as coisas... acho que não seria nada mal pensado!! Mas são só ideias...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cover boy




Come undone, Robbie Williams
Quem me conhece minimamente sabe a tara que eu tenho por este senhor. Olhar para aqueles olhos... é mais forte que eu... mas também é a irreverência, a música, a versatilidade (eu adoro omo ele canta Sinatra) e esta é uma das minhas musicas favoritas. Adoro as contradições (isto tem um nome específico do qual, estupidamente, não me recordo e que não me apetece ir procurar na gramática!!). Adoro as "contradições" porque também sou de muitas contradições.
Hoje tenho-o aqui porque comprei uma revista em que ele vinha na capa (os olhos, a culpa é dos olhos) e fiquei contente com a compra.
Descobri uma revista interessante que é praticamente só imagens. E dentro dela descobri coisas engraçadas, como portas de garagens, e pessoas interessantes (tão interessantes como o Robbie) como o fotógrafo Michael Poliza. Tinha algumas fotografias do seu trabalho no Pólo Norte e no Pólo Sul que são simplesmente fantásticas. Recomendo que procurem, como eu fiz, na net o trabalho deste senhor e vão descobrir imagens dos pólos e de África que são um encanto, como por exemplo a do urso aqui em baixo... Também podem comprar o livro por 99 euros!














O que se aprende por causa do Robert!

domingo, 13 de setembro de 2009

1001 coisas que nos fazem felizes

Jantar massa com queijo com abóbora frita a acompanhar. Beber café enquanto se faz tempo para sair de casa. Viajar 40 minutos até outro cantão para se jogar uma hora de bilhar. Regressar a casa satisfeita por não perceber como se atiram as bolas para dentro dos buracos e sem se sentir julgada por isso. A sala de jogos chama-se 1001. Coincidência? Acho que não!



Esta música faz-me lembrar um bar com um canto para jogar dardos e uma mesa de bilhar. Achei que vinha a propósito. Além disso faz-me feliz, talvez por se ouvir muito por aqui.

Do que sinto falta

Quando penso bem, apercebo-me que sinto falta de muita coisa.
Sinto falta do mar. Não é que eu fosse uma grande frequentadora de praia, mas só facto de saber que estava a menos de juma hora do mar... aqui estou a umas 4 horas...
Sinto falta da água. Aqui bebe-se muita água com gás, o que para mim é uma tortura. Neste momento bebo, mas pouca e custa-me; sempre que abro uma gararfa penso: "até para quem não gostava de água com gás!". Mas mesmo não sendo com gás, por causa do calcário, a água daqui tem outro sabor (esse história da água ser insípida é treta!).
Sinto falta da fruta. Cá dá-se prioridade ao produto nacional (até acho bem!). Assim, desde as batatas até às maçãs, come-se tudo suíço. Só fruta exótica, como o ananás, ou outras não pertencentes aos trópicos mas que precisam de outro tipo de clima, como as laranjas, é que vêm de fora. Apesar de até haver sol, a fruta nacional é muito ácida, só de pensar já me dói o maxilar!! Isso quer dizer que eu só como fruta exótica. E apesar de gostar muito de ananás, de manga, de fisalis, entre outras, tenho saudades de comer maçãs. A última vez que eu comi foi quando fui a Lugano e encontrei maçãs de Itália num mercado de rua. Um achado que já foi há muito tempo!!
Sinto falta do multibanco. Hoje foi um dos dias que mais senti. Aqui o multibanco é muito especial e não tem metade das funções que o nosso tem. Além de se pagar uma taxa de 2 francos sempre que se faz uma operação num multibanco que não pertença o nosso cartão (tipo,:cliente do BES paga por levantar na Caixa). E uma dessas funções é o carregamento dos telemóveis. Eu sempre que preciso de carregar o telemóvel vou ao quiosque, compro um carregamento mínimo de 30 francos, depois tenho que andar a enfiar códigos no telemóvel. Arcaico, não? E aos domingos pode ser complicado... os quiosques só estão abertos até às 4h. Estava a ver que tinha que ir comprar um carregamento ao aeroporto que está aberto até às 22 ou 23h!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

E não me chamem Velha do Restelo

Num livro da escola primária vinha um excerto de um livro cujo nome e autor, infelizmente, não me lembro. Mas era muito interessante. Resumidamente: depois de começar a chover num dia em que a família estava na praia, a avó que culpa os astronautas pela alteração do tempo. Apesar de ter razão, ela falhava no modo em como eles são culpados, ela dizia que eles iam lá acima trocar a posição de tudo, até do tempo, que quando ela era nova não acontecia nada disso porque não ia ninguém à Lua.
À noite, faltou a água quente e a avó voltou a reclamar. A filha retorquiu dizendo que no tempo dela (avó) também não havia água quente canalizada. A avó teve que se calar e acabou por guardar a loiça para lavar no dia seguinte.

Sempre que aparece algo novo que eu não gosto, acho bizarro, absurdo ou outra coisa qualquer, eu pergunto-me se não serei a avó desta história. Outras vezes pergunto-me se não serei uma velha num corpo de 26 anos que não é do Restelo, mas que não aceita as coisas, tal como o do Camões.

Hoje tive um dessas dúvidas. Mas foi mesmo só enquanto li o título da notícia. No fim de ler a legenda, tive a certeza que por vezes vale mais estar quieto e não tentar descobrir um caminho marítimo ou espacial ou de outro tipo qualquer para o absurdo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Aqui, do céu só cai chuva e neve...

















"Ah! Porque estás rica!" é conversa parva que toda a gente tem com um emigrante qualquer e comigo também. Eu não estou rica, mas posso dizer que ganho mais que ganharia em Portugal. Isso não é segredo nenhum. Mas... é preciso fazer umas certas coisitas. Aqui fica o meu dia:

. Levantar às 6h15;
. correr para apanhar o comboio às 6h44 (o comboio parte mesmo a esta hora!);
. sair do comboio e esperar pelo bus que parte às 7h06;
. fazer uma viagem de autocarro com duração de 35 minutos;
. ir a pé até ao trabalho;
. trocar de roupa, ah! não esquecer de calçar as botifarras "quase de militar";
. trabalhar duro (não interessa se estão 40 graus à sombra ou se estão 20 negativos ao Sol) até à hora que acabar, no mínimo (coisa rara!) é às 17h, mas também pode acabar às 23h (há uma pausa de 15 min. de manhã, 1 hora para almoço e uma pausa de 10 min. à tarde);
. depois de trocar a roupa (quase sempre molhada, sempre suja), ir a pé até à paragem, com sorte espero 5 minutos, com azar espero 25 (o bus ali só passa de meia em meia hora);
. 35 minutos de viagem e rezar para conseguir apanhar um comboio, se assim for são mais 7 minutos até casa, se não... são 20 (em média são as 20h quando chego a casa, mais de 12h fora de casa);
. coisas básicas como banho, comer, arrumar o saco para o dia seguinte;
. outro tipo de coisas básicas como ler os mails e responder a algum que apareça, ler as notícias e ver qualquer coisa para me distrair (também mereço);
. são as 23h e está na hora de dormir!!!

Adendas:
. à sexta feira acabo sempre às 17h independentemente do serviço estar feito ou não, pois tenho mais 3h30 nooutro local de trabalho;
. quase todos os sábados me pedem para fazer 4 horas de manhã;
. em tempo de aulas tenho os TPCs para fazer.

Eu sei que há mais gente assim, tanto cá como em Portugal, e não me estou a queixar!!! Eu faço porque quero e porque gosto. Não quero que tenham pena de mim. Mas irritam-me as insinuações sobre quanto a minha conta bancária pode ter. Eu ganho mais do que em Portugal, mas preciso de trabalhar muito e não ganho assim tãããão bem. Só para terem uma noção, se eu não vivesse com os meus pais, não me conseguiria sustentar com o que ganho. Não, não estou a fazer charme, é mesmo verdade.


Aqui, doce, só mesmo o chocolate!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

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Hoje consegui duas coisas que nunca acontecem comigo.
No bus a caminho de casa, reparei como o sol está a perder a força, como o Outono está a chegar. Enquanto olhava a nossa grande estrela e sentia a sua carícia na cara, ouvia esta música. E ,pela primeira vez em muito tempo, eu ouvi mesmo, eu acompanhava a letra. Coloquei no modo de repetição e eis que consigo uma coisa: não pensar. Se foram dois segundos foi muito, mas houve um momento em que o meu cérebro parou de fazer raciocínios, assegurando unicamente as funções vitais. Não devo ser muito normal, mas foi uma sensação óptima.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Gummistiefel*

Como eu voltei a trabalhar na estufa de flores e a chuva também não quis ficar atrás, vi-me obrigada a comprar uns botins. Já há uns dias que tenho apanhado grandes banhos, mas nunca tinha tempo para ir às compras. Aproveitando o facto de à quinta ser dia de as lojas fecharem mais tarde, fui comprá-los. Bem que queria uns coloridos, mas tive que me sujeitar a um monótono verde.
Quando vinha para casa pensei nas coisas mais diversas que eu já usei para trabalhar, nos objectos que eu nunca pensei adquirir e perguntei-me quanto tempo mais eu iria precisar de usar botas de borracha, luvas de jardineiro, batas de limpeza. Perguntei-me, também, mas sem me preocupar com a resposta, quando é que eu terei oportunidade de exercer realmente a minha profissão no meu país.
Há pouco, a minha mãe chamou-me para ir ver a abertura do Jornal da RTP**, fiquei da cor dos meus botins e mais enjoada do que com o cheiro que eles têm por causa da borracha.
Neste momento, a resposta à minha pergunta não tem MESMO qualquer interesse e/ou urgência.
O mais provável é que eu tenha que ir comprar um casaco de tecido quente, chamado polar, porque os dias começam a arrefecer muito e rapidamente, mas, agora, não me importo mesmo nada. Se a coisa correr mal por aqui, quem sabe se não volto atrás com a ideia e aceito a proposta de ir para a Líbia?!?


* Botins de borracha
** A suspensão do Jornal Nacional das Sextas-feiras, na TVI, apresentado pela Manuela Moura Guedes.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Não, obrigada!

O Kadhafi tem aparecido todos os dias nos jornais suíços por questões políticas, económicas, sociais e familiares entre a Suíça e a Líbia. Ainda não me dei ao trabalho de perceber o que há para além da questão do filho do Kadhafi ter sido preso há uns tempos. Mas tenho que o fazer, nem que seja só para matar a curiosidade. Mas hoje o senhor Kadhafi aparece num jornal vespertino gratuito mesmo pela festa de arromba que ele vai dar durante estes dias.
Hoje comemoram-se os 40 anos da República Popular e Social da Líbia. Parabéns!
Mas no meio das fotos e dos textos que vinham no jornal, vinha uma foto que me arrepiou, me chocou tanto como se me dissessem que tinham caído 10 aviões de cheios de passageiros. Eu acho (e desejo com todas as minhas forças) que é só uma simulação de um enforcamento colectivo. E, seja a fingir ou a sério, isso faz parte integrante do espetáculo. Assustador, macabro, falta de gosto, horroroso, não sei, não encontro um adjectivo que qualifique a coisa.
Apesar de ter um nome tão pomposo, a Líbia não é país que me atraia. É muito quente e pouco é o que sei sobre o país.
No entanto, a minha querida orientadora de estágio, há uns quantos meses, disse-me que tinha recebido uma proposta para trabalhar lá. Como não estava interessada, virou-se para mim a perguntar se eu não queria ir. Iria receber uma fortuna por mês. Mas... nas palavras dela "Se quiser beber ou fumar tem que ir à embaixada portuguesa!". CLARO que eu declinei. Não pelo fumar ou beber. A Líbia não é aqui ao lado. A Líbia tem uma cultura e uma religião diferentes das minhas. Apesar de eu não dar importância à religião, eles dão. Será que eu tinha que usar um lenço? Eu até gosto de usar lenços, mas é quando quero, não é quando os outros me obrigam. E depois com imagens destas... é mesmo o meu destino de sonho!
Mas a senhora gostava tanto de mim que achava que seria bom para mim. Que era melhor ganhar uma fortuna a dar aulas do que ganhar um dinheiro razoável a limpar casas-de-banho. Isso é um Facto! Sou obrigada a concordar, mas só se ignorar todos os outros factos.
Como não consigo ignorar... prefiro andar o resto da minha vida a limpar latrinas a sujeitar-me a outras coisas mais redutoras da Pessoa como Ser Humano.
E com recomendações destas... prefiro que não se lembrem de mim para me oferecerem propostas de trabalho!